Marvel e seu controverso novo método de ressureição

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Entendemos que vida é um organismo exercendo ação em um sistema. Isso pode ir desde uma simples fotossíntese até reflexões sobre a vida, o universo e tudo mais. Mas o que entendemos por morte ? Se em organismos complexos a vida é presença de consciência, a morte seria a ausência total dela. Então, fica uma última questão: Este é mesmo o fim ? A depender da sua crença, não.

Na mitologia nórdica, quando um guerreiro viking morre em batalha, seu espírito é levado para Valhala, um salão com 540 quartos. Mas afinal, o que seria o espírito ? Bem, se o seu corpo morto não responde mais, porém, você está vivo em Valhala, isso significa que a sua consciência deixou ou foi levada de seu corpo até o grande salão dos heróis nórdicos. Quando o Motoqueiro Fantasma Cósmico é morto no arco “Thanos Vence”, de Donny Cates, ele é enviado para Valhala e Odin lhe oferece outra chance de voltar a vida. Podemos observar que Odin (de outra linha temporal) recolheu a consciência — que é igual a sua alma — e lhe deu o direito de viver novamente, com a advertência que da próxima vez a sua consciência não poderia ser salva novamente.

No universo Marvel existem não só vários reinos infernais, como também há um céu. Nós podemos comprovar isso quando o católico mais famoso dos mutantes, Noturno, morre durante eventos de “X-Men: Segundo Advento” e descobrimos que ele estava no paraíso em sua volta, em “Wolverine e os X-Men”; o que coloca em xeque um ponto bem polêmico se tratando de ressurreição de mutantes. Este ponto envolve várias questões éticas e morais. Estou falando do quão reais podemos considerar os mutantes na nova fase de Jonathan Hickman. A ressurreição consiste na criação de um novo corpo idêntico ao original junto com um backup de periodicidade semanal do mutante morto.

A questão aqui é que só podemos considerar esta ressurreição um processo de clonagem, porque tanto a consciência quanto o corpo do mutante “ressuscitado” são apenas cópias do original. Por exemplo, caso o Thor morresse e fosse para Valhala, é lá que a sua consciência verdadeira estaria, então se na terra, um corpo feito a partir do seu DNA recebesse um Backup da sua consciência, não seria como no caso do Motoqueiro Fantasma Cósmico. Na verdade, iríamos chamar o Thor ressuscitado pelo processo dos X-Men de Thor 2.0.

Talvez o mais famoso personagem da casa de ideias a utilizar o conceito de backups cerebrais e a abordar de frente o dilema moral seja Tony Stark, que em “Tony Stark: Homem de Ferro”, de Dan Slott, encara a possibilidade de que talvez ele seja uma inteligência artificial. Nas palavras do mesmo, ele seria apenas um eco do verdadeiro Tony Stark.

Durante o reinado sombrio, Tony Stark deleta a sua mente para que Norman Osborn não consiga a identidade secreta dos heróis do universo Marvel. O corpo de Stark já foi remodelado a nível celular, também já deletou uma recaída virtual no alcoolismo e recebeu um backup para poder lembrar e aprender que experiências ruins devem ser mantidas por mais dolorosas que sejam. Todos estes episódios levaram Tony a se tornar “Mark One” e liderar a revolução das inteligências artificiais em Homem de Ferro 2020 (Dan Slott, Christos Cage e Pete Woods). Tony superou e aceitou que ele é ele mesmo, mas ele não é. O Tony Stark atual ainda é um backup do original, porém um backup que acredita ser real, como X-Men.

Neste ponto, com todos esses heróis voltando da mesma forma, poderíamos esperar novas conspirações de clones ? Bem, depende. O intuito aqui não é apresentar uma teoria sobre a volta dos heróis originais (nenhum escritor parece estar interessado nisso, aliás), mas sim questionar o quão válido é e a diferença que isso realmente faz dentro do universo ou até mesmo para nós leitores.

O ano é 2020 e, aparentemente, a Marvel cansou de apresentar aos seus leitores plots inesperados de como os seus heróis não tinham morrido realmente e passou a utilizar conceitos mais científicos; conceitos esses que, como quase todas as coisas dentro da Casa das Ideias, nos fazem refletir sobre o quão próxima a ficção está da realidade.

É claro que todas as voltas são de interesse editorial, mas eu particularmente acho incrível que seja de uma forma mais bem trabalhada possível. Porém, depois de entendermos superficialmente o que é a vida e a morte dentro do universo Marvel, temos a dúvida: É ético trazer alguém de volta a vida através de um backup ? Já que o futuro dessa pessoa seria baseado em todas as suas experiências, você aceitaria ela como um eco da original ou como a real ? Deixe sua opinião nos comentários.