O Pinguim e as charadas do amor

0
1935

Gotham é uma série interessante. Cheia de anacronismos, vilões divertidos, um Batman com idade de Robin e, bem… tem o Gordon fazendo coisas de Gordon. Gotham é frequentemente lembrada no hall das melhores séries atuais da DC e não é à toa. O negócio é bom. Tá, é meio que um Gotham Central do Brubaker com Asilo Arkham: Inferno Vivo do Slott e… CSI? Sherlock? Aquilo é o Senhor Frio?

[Esse post contêm spoilers do episódio 6 da terceira temporada de Gotham. Tá avisado.]

E, bom, Gotham trata, basicamente, de uma Gotham do passado (em relação ao período em que normalmente nos ambientamos, com um cara vestido de morcego que bate em bandidos) onde o Gordon ainda não tem um bigode estiloso, o Bruce ainda não sabe lutar tão bem (ele praticamente acabou de ver os pais morrendo) e os vilões ainda estão em construção. São malvados? Sim, mas não são tão espertos ou fortes ou, em alguns casos, insensíveis, como suas contrapartes dos quadrinhos.

Gotham – a série, não a cidade – deixa claro desde o começo, seja nos materiais de divulgação ou no próprio roteiro, que é uma série sobre crescimento em vários sentidos. Através dos episódios, testemunhamos claramente o aprendizado através da tentativa e erro de cada um dos personagens principais. Isso inclui o Pinguim.

Sendo um dos antagonistas mais elogiados desde o começo da série, o Pinguim tem ganhado os holofotes com uma jornada nada menos do que trágica, embora envolva ascensão. O cara é literalmente mal-amado pela família e por todo mundo e tudo que ele ama acaba indo embora do pior jeito possível. Ele é praticamente a infelicidade em pessoa andando por aí com um guarda-chuva enquanto procura um sentido na vida (e uma ascensão ao poder, obviamente) entre uma risada maléfica e outra.

pinguim
Esse zé-ninguém ainda assim te superou em cada movimento.

Aí descobrimos que ele se sente atraído por homens (não necessariamente sendo gay) e a internet pirou. Porque essa é a função da internet, afinal. Mas vamos entender isso um pouco melhor:

O Oswald e o Edward já tinham certo contato nessa temporada e não era pouco. Como eu disse, o Pinguim é carente de figuras de apoio na sua vida. Ele quer se sentir amado (quem não quer?), ele não quer estar sozinho. E, bem, agora ele não está.

Além disso, o Edward não é exatamente a figura mais confiável do mundo. Seu codinome sugere sua personalidade e objetivos: Charada. É altamente improvável que ele sinta a mesma coisa pelo Oswald, ou alguma coisa. Ele tem brincado através de jogos de palavras e gestos com a mente do Pinguim, porque é isso que ele faz com todo mundo. Seu objetivo? O tempo dirá. Mas fica extremamente claro que o Pinguim caiu nessa armadilha.

GOTHAM: L-R: John Doman as Carmine Falcone, Camren Bicondova as Selina Kyle, Jada Pinkett Smith as Fish Mooney, Robin Lord Taylor as Oswald Cobblepot and Cory Michael Smith as Edward Nygma star as the villains of GOTHAM. GOTHAM premieres Monday, Sept. 22 (8:00-9:00 PM ET/PT) on FOX. ©2014 Fox Broadcasting Co. Cr: Justin Stephens/FOX
A verdadeira dupla dinâmica de Gotham

Inclusive, para Oswald, tudo soa extremamente natural. Ele acredita que Edward também sinta algo a mais e que ambos se completem, como ele mesmo se sentiu completo e, talvez, enfim, feliz. Ele não trata seu amor por outro homem como algo incomum, mas como realmente é: amor. Só amor. Tratar essa construção como “forçada” fugiria de qualquer definição que a palavra possa ter.

E a futura decepção que possa ser trazida para o pobre Pinguim não seria má, se propondo justamente a seguir o conceito de construção de personagens que a série tanto adora. Seria o ponto de partida para o Pinguim completamente insensível que se apresenta nos quadrinhos, diferente do adorável e apaixonado Oswald, desejoso de ser correspondido, que vemos hoje. E quem poderia culpá-lo?