Gotham é uma série interessante. Cheia de anacronismos, vilões divertidos, um Batman com idade de Robin e, bem… tem o Gordon fazendo coisas de Gordon. Gotham é frequentemente lembrada no hall das melhores séries atuais da DC e não é à toa. O negócio é bom. Tá, é meio que um Gotham Central do Brubaker com Asilo Arkham: Inferno Vivo do Slott e… CSI? Sherlock? Aquilo é o Senhor Frio?
[Esse post contêm spoilers do episódio 6 da terceira temporada de Gotham. Tá avisado.]
E, bom, Gotham trata, basicamente, de uma Gotham do passado (em relação ao período em que normalmente nos ambientamos, com um cara vestido de morcego que bate em bandidos) onde o Gordon ainda não tem um bigode estiloso, o Bruce ainda não sabe lutar tão bem (ele praticamente acabou de ver os pais morrendo) e os vilões ainda estão em construção. São malvados? Sim, mas não são tão espertos ou fortes ou, em alguns casos, insensíveis, como suas contrapartes dos quadrinhos.
Gotham – a série, não a cidade – deixa claro desde o começo, seja nos materiais de divulgação ou no próprio roteiro, que é uma série sobre crescimento em vários sentidos. Através dos episódios, testemunhamos claramente o aprendizado através da tentativa e erro de cada um dos personagens principais. Isso inclui o Pinguim.
Sendo um dos antagonistas mais elogiados desde o começo da série, o Pinguim tem ganhado os holofotes com uma jornada nada menos do que trágica, embora envolva ascensão. O cara é literalmente mal-amado pela família e por todo mundo e tudo que ele ama acaba indo embora do pior jeito possível. Ele é praticamente a infelicidade em pessoa andando por aí com um guarda-chuva enquanto procura um sentido na vida (e uma ascensão ao poder, obviamente) entre uma risada maléfica e outra.
Aí descobrimos que ele se sente atraído por homens (não necessariamente sendo gay) e a internet pirou. Porque essa é a função da internet, afinal. Mas vamos entender isso um pouco melhor:
O Oswald e o Edward já tinham certo contato nessa temporada e não era pouco. Como eu disse, o Pinguim é carente de figuras de apoio na sua vida. Ele quer se sentir amado (quem não quer?), ele não quer estar sozinho. E, bem, agora ele não está.
Além disso, o Edward não é exatamente a figura mais confiável do mundo. Seu codinome sugere sua personalidade e objetivos: Charada. É altamente improvável que ele sinta a mesma coisa pelo Oswald, ou alguma coisa. Ele tem brincado através de jogos de palavras e gestos com a mente do Pinguim, porque é isso que ele faz com todo mundo. Seu objetivo? O tempo dirá. Mas fica extremamente claro que o Pinguim caiu nessa armadilha.
Inclusive, para Oswald, tudo soa extremamente natural. Ele acredita que Edward também sinta algo a mais e que ambos se completem, como ele mesmo se sentiu completo e, talvez, enfim, feliz. Ele não trata seu amor por outro homem como algo incomum, mas como realmente é: amor. Só amor. Tratar essa construção como “forçada” fugiria de qualquer definição que a palavra possa ter.
E a futura decepção que possa ser trazida para o pobre Pinguim não seria má, se propondo justamente a seguir o conceito de construção de personagens que a série tanto adora. Seria o ponto de partida para o Pinguim completamente insensível que se apresenta nos quadrinhos, diferente do adorável e apaixonado Oswald, desejoso de ser correspondido, que vemos hoje. E quem poderia culpá-lo?