Nos tempos menos sombrios, onde a Warner/DC pareciam levar a sério um potencial universo compartilhado de heróis nos cinemas, um capítulo que marcou esta turbulenta jornada foi a escalação de Ben Affleck para interpretar a nova versão do Bruce Wayne/Batman. Execrado pela maioria esmagadora dos fãs, o ator agora estava dentro da produção de Batman vs Superman – e desde então, muita coisa aconteceu.
A estreia veio no longa que era um dos mais aguardados dos últimos anos. Batman vs Superman tinha uma missão difícil pela frente e, boa parte do peso dela, recaia sobre os ombros de Ben Affleck. O público estava de frente com um Batman mais velho, amargurado, adepto de violência extrema, manipulável, e que matava. Um dos conceitos essenciais do personagem que repudiava assassinatos estava totalmente deturpado, sendo esse um dos motivos mais fortes para a cisão que o filme provocou. Não só isso, como também o ódio irracional nutrido pelo Superman não convenceu devido ao roteiro preguiçoso lidando com o confronto entre ambas as partes, tendo como cereja do bolo, a péssima cena de reconciliação após o confronto.
Mas Affleck parecia estar dedicado ao projeto, algo que sutilmente foi mudando por trás das câmeras depois das críticas negativas e uma bilheteria irrisória para uma produção com os dois pilares da DC. A coleção de problemas de roteiro e o desenvolvimento duvidoso para o personagem minaram as chances de ser unanimidade. Mesmo com o bom desempenho do ator, haviam problemas persistentes em questões nas quais ele não tinha poder criativo. De um lado, fãs acolheram e abraçaram por completo a visão de Zack Snyder, enquanto outros reagiram negativamente ao que o diretor tinha feito. Foi a partir daí que tudo começou a ruir de maneira dolorosa.
Esquadrão Suicida trouxe uma controversa participação do Batman, que fomentou ainda mais discussões divisivas. Depois do filme, veio a saída de Ben Affleck do cargo de diretor no filme solo do herói. Mas ainda havia Liga da Justiça, o filme mais insosso e o pior da nova leva, enterrando de vez qualquer possibilidade de um universo cinematográfico minimamente decente para a DC Comics. O início parecia promissor, entretanto, a execução dos projetos passou longe de atender as expectativas, tanto do ator quanto do estúdio. Somando a isso, os vários problemas pessoais do astro indicavam que ele estava cansado, querendo distância do papel. Com Matt Reeves (Planeta dos Macacos: O Confronto) a bordo em The Batman, logo veio o adeus definitivo para o “BatAffleck”.
O legado que ele deixará ainda é incerto. A imagem que fica é a de um homem que tentou e desistiu logo em seguida para se ver livre do que, para ele, se tornou um fardo visível. Os adoradores continuarão a defender, assim como também seus detratores vão sempre lembrar dos erros. Os acertos existiram: Um uniforme perfeito, que dificilmente será superado, coreografias de luta com uma incrível semelhança aos gibis e o Bruce Wayne com seu acertado jeitão de playboy. Em suma, não foi o Batman que os fãs mereciam, contudo, fez o melhor com o que tinha em mãos.
Entre erros e acertos, resta a lamentação e o sentimento de impotência para quem torcia pela continuidade. Fiel ou não às HQs, BatAffleck marcou a história do personagem, apesar dos tropeços e controvérsias. Obviamente, esse legado passa longe de ser tão relevante quanto a era anterior de Christopher Nolan (Batman: O Cavaleiro das Trevas), que reergueu o Batman nos cinemas e alçou os filmes de heróis para outro patamar em Hollywood. Os culpados pelo fracasso da empreitada talvez nunca sejam revelados de fato. Foi-se o Batman/Bruce Wayne, Alfred, Comissário Gordon e todo um BatUniverso subitamente abortado. Talvez, o ator ainda pudesse entregar uma versão onde a maioria estivesse de acordo e assim iniciar uma nova franquia de filmes, mas tudo referente a um futuro morto fica no “talvez”. No momento, a sensação é de nada menos do que uma mentira linda.