Red Dead Redemption 2 quase foi vencedor do prêmio GOTY (Jogo do Ano), perdendo para God of War 4, em uma disputa acirrada. Para os que não conhecem, essa continuação se passa doze anos antes do Red Dead Redemption original e nos conta a história da gangue de Dutch Van Der Linde – o fora da lei que John Marston precisa capturar no primeiro jogo.
A verdade é que: além de dar um show de gameplay, a narrativa e o roteiro da série RDR são de arrepiar.
Esse post contém spoilers de Red Dead Redemption 1 e 2.
Nós sabemos que John foi largado para morrer por uma gangue que era a vida dele – andaram juntos durante anos e ele até formou uma família ali. No primeiro jogo, tudo fica meio aberto “Largado para morrer? Como assim? Você vai simplesmente matar seus antigos companheiros? Sério, John?”, mas nada que atrapalhasse nosso envolvimento emocional com a história.
Quando a Rockstar anunciou que a tão sonhada continuação seria com um tal de Arthur Morgan, muitos anos antes e não com o Jack Marston, confesso que também fiquei revoltada, mas quando terminei a campanha, o controle estava na minha mão, mas eu estava longe dali – sentindo como se estivesse sofrendo com a morte de um amigo próximo.
Toda a trama do primeiro jogo faz sentido agora: a raiva de John e como Dutch chegou aquele ponto. A construção de narrativa é maravilhosa e nós finalmente entendemos o que é redenção.
“Eu tenho um plano JOHN… – DUTCH
Você sempre tem um plano DUTCH – JOHN”
Arthur Morgan é nos entregue sem um background construído, como se a Rockstar estivesse nos mandando uma mensagem: esse homem é o que você quer que ele seja. Assistimos John se tornando, aos poucos, o personagem que vamos conhecer, passando de um garoto imaturo para um homem.
Enquanto isso, precisamos entender os próprios dilemas de Arthur. Um homem complexado, que tenta levar uma vida mais justa e se redimir no final, mesmo sabendo que você não pode esperar colher coisas boas se você não planta coisas boas. É como se ele soubesse que tudo daria errado, mas continuasse tentando pelos outros.
O roteiro constrói tão bem os personagens durante o gameplay, que você se sente parte daquele lugar. Já não consegue fazer só coisas ruins, como no GTA, porque não é aquele tipo de vida que o Arthur merece – ele já sofreu demais.
Como se não bastasse, ainda temos a incrível evolução de Dutch Van der Linde. Suas últimas palavras ao John, lá no final do primeiro jogo, fazem todo sentido agora. Ele tinha um plano, ele sempre teve um plano.
É interessante assistir como um grande líder altruísta se torna um tirano e como um tirano se torna um monstro. Começamos amando ele, do jeito que o Arthur amou um dia – Dutch era um pai para todos ali, os acolheu em seus momentos de dificuldade. Durante a gameplay, assistimos tudo isso ruir aos poucos e nós vamos criando ódio daquele personagem. Ódio que motivou os acontecimentos do primeiro jogo.
Mesmo tendo quatro finais, o melhor é quando o Arthur entende que sua redenção chegou: ele morre escolhendo ajudar John e padece de tuberculose no topo de uma montanha enquanto assiste o sol de por – claro, se sua honra estiver alta.
Porém, dói assistir isso sabendo que anos depois vão achar John e irão trai-lo de novo. Sinceramente, nunca pensei que jogar uma continuação daria tanto sentido ao jogo original.
Mesmo não ganhando o prêmio, a narrativa desse jogo prende e você se apega tanto que vai fazer de tudo para voltar a esse universo mais uma vez.
Red Dead Redemption não é sobre assaltos, o velho oeste e traição; nem é sobre John, Arthur, Dutch ou Micah. É sobre como as pessoas crescem, se machucam e mudam, como a personalidade de alguém vira de ponta cabeça dependendo da situação – é sobre irmandade, amor e lealdade, ao mesmo tempo que é sobre morte, sangue e redenção. Esse jogo vai te deixar pensando por dias, refletindo sobre o que ser um bom homem realmente significa.
“EU VOU TE TIRAR DESSA MALDITA MONTANHA, NEM QUE SEJA A ÚLTIMA COISA QUE EU FAÇA – ARTHUR MORGAN”