[CRÍTICA] Desventuras em Série | Essa desafortunada aventura chegou ao fim!

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“Querida Beatrice, nosso amor quebrou meu coração e parou o seu” – Lemony Snicket

Lemony Snicket dedicou a vida para traçar a trágica história dos irmãos Baudelarie, que se viram em uma série de desventuras após a morte dos pais em um incêndio. Já não bastasse perder entes tão queridos, Sunny, Violet e Klaus Baudelarie são colocados na guarda de Conde Olaf, um vilão que só pensa em roubar a fortuna das crianças.

Essa série é uma adaptação dos livros de mesmo nome, escritos por Daniel Handler – que assume o pseudônimo de Lemony Snicket. Em sua terceira temporada, ela adapta os últimos quatro livros:  O Escorregador de Gelo, A Gruta Gorgônea, O Penúltimo Perigo e O Fim. O programa é produzido por Mark Hudis (That 70s Show) e exibido pela Netflix. 

A terceira temporada começa no gancho que a segunda deixou: Violet e Klaus são jogados de um penhasco, enquanto Conde Olaf e seus capangas fogem com Sunny Baudalarie para a sede a CSC.

Mesmo com algumas alterações necessárias, Desventuras em Série é uma fiel adaptação dos livros – os personagens são retratados exatamente como imaginamos, sejam eles heróis ou vilões. Claro, existem situações que precisam ser modificadas para fazer sentido na televisão, mas nada que mude os rumos ou o tom da história.

Uma coisa que o roteiro e a direção de arte da série sempre souberam trabalhar é a verossimilhança, imergindo o expectador totalmente naquele universo. Desventuras em Série se passa no nosso mundo, mas em situações absurdas e com personagens caricatos, ou seja, tinha de tudo para parecer estranha ou grotesca demais.

Mesmo com essas bizarrices, o efeito é contrário; você não duvida de uma só palavra ou ação realizada, tudo é bizarro e pitoresco, mas no toque certo. A caracterização dos personagens ajuda muito, já que todos eles se encaixam no nível de estranheza daquele lugar – as situações realizadas e o jeito que o mundo é apresentado, tudo faz sentido dentro das regras estabelecidas na primeira temporada.

Inclusive, em aspectos técnicos, Desventuras em Série não nos decepciona. A ambientação e a direção de arte continuam impecáveis. A direção dos episódios também, que alimentam o desespero do espectador ao ver tudo ruir para as crianças Baudelarie; um bom exemplo, é uma cena de close fechado em Lemony, onde assistimos um flashback dele – enquanto o personagem mais novo fica desfocado ao fundo, Lemony faz um monologo para a câmera e suas linhas de rosto, derivadas da velhice e do cansaço ficam cada vez mais em evidência.

Os atores evoluíram muito desde a primeira temporada. Malina Wissman (Violet), Louis Hynes (Klaus) e Presley Smith (Sunny), dão um show de carisma e é impossível não se afeiçoar pelas crianças – que fazem um ótimo trabalho.

Conde Olaf é interpretado por Neil Patrick Harris e está ainda melhor, super confortável com o personagem, excêntrico na maneira certa e assustador nos momentos que precisa – principalmente quando a violência do vilão se torna mais literal.

Lucy Punch como Esmé Squalor também foi outra grande surpresa – sua química com Patrick Harris é inegável e os dois arrasaram como uma dupla de vilões. E claro, a Esmé funciona muito bem sem o Conde, deixando a personagem independente para ter a própria personalidade e história.

A trilha sonora está impecável e a música tocada no penúltimo episódio vai te fazer chorar – sem falar na abertura, né? Look away, look away…

Apesar de tudo, Desventuras em Série ainda tem como característica algo que irritava os leitores e espectadores: essa não é uma história feliz, onde coisas boas acontecem e a justiça é feita. Lembre, Lemony sempre pediu para você ir embora e assistir qualquer coisa mais alegre; isso é uma série de desventuras, envolvendo três órfãos e uma maré de azar.

Como uma das melhores adaptações de livros para a TV, Desventuras em Série encerra seu último ano com maestria e vai deixar saudade. Os sete episódios da temporada são extremamente bem-construídos e fluídos, perfeitos para uma maratona.

No fim das contas, também acabamos nos tornado órfãos, mas ao contrário dos Baudelaire, ficamos órfãos de uma ótima série de TV, que chegou ao fim de forma incrível.