[REVIEW] Mortal Shell | Um jogo à altura de Dark Souls

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A saga Souls causou um verdadeiro rebuliço no mundo dos jogos, tornando-se uma das franquias mais amadas pelos jogadores, sejam novatos ou da velha guarda. O impacto foi tão forte que diversos trabalhos que vieram depois abraçaram as influências, inaugurando um subgênero chamado “soulslike”.

Diversos elementos mostram-se presentes nos soulslike. Os mais evidentes são o combate difícil, os chefes “apelões”, recursos escassos e a experiência que pode ser perdida ao morrer, fazendo com que seja necessário cautela e inteligência aos jogadores.

E por que estamos falando tanto de Dark Souls em uma análise de Mortal Shell? É simples, o novo jogo da desenvolvedora Cold Symmetry pega todos os elementos do subgênero com a intenção de apresentar uma aventura completamente nova, mas ainda bem familiar.

História

Você irá acordar no mundo sombrio e dominado pelas trevas de Fallgrim, controlando uma criatura esquálida e fraca com uma habilidade peculiar: ela poderá dominar o corpo de guerreiros caídos, aprendendo suas habilidades e herdando sua resistência.

Seu objetivo será recuperar itens de seres poderosos, espalhados pelo mapa, e trazê-los para um gigante, com a promessa de explicações do porquê você foi despertado e qual o seu propósito.

Seguindo à risca a cartilha de Dark Souls, a narrativa de Mortal Shell dá detalhes vagos nos momentos certos, mas caberá ao jogador explorar o mundo, conversar com NPCs, encontrar itens e completar tarefas para entender o que realmente está acontecendo ali.

O fato de não haver uma estrutura narrativa convencional não atrapalha o andamento da história, é justamente o contrário: ela recompensa os mais curiosos e incentiva o jogador constantemente a buscar as respostas.

A aventura pode ser terminada pela primeira vez entre 12 a 15 horas. Por mais que você jogue com calma, é provável que deixe alguns segredos e itens para trás, mas isso acaba não sendo um problema já que o jogo conta com um Novo Jogo +, ou seja, você poderá recomeçar a aventura com todos os seus itens, habilidades e carcaças intactas.

Jogabilidade

Mortal Shell é um RPG de ação e, de todos os Soulslike que tive a oportunidade de jogar nos últimos anos, é aquele que consegue duas proezas incríveis: ao mesmo tempo que é um dos jogos que mais se aproxima de um “filho” de Dark Souls, também consegue ser um dos mais únicos, por apresentar mecânicas muito interessantes.

Você deverá gerenciar a sua stamina enquanto golpeia os inimigos com uma combinação de golpes fracos e fortes, ao mesmo tempo em que calcula a energia necessária para desviar de golpes ou outros perigos que possam aparecer pelo caminho.

O jogo não conta com um sistema tradicional de defesa e nem escudo, mas adiciona duas mecânicas muito eficazes e que devem ser combinadas para total sucesso nos confrontos: aparar golpes e solidificar-se.

Ao apertar o LB no momento certo, o personagem poderá interromper golpes inimigos, permitindo a realização de um contra-ataque poderoso. Conseguir dominar esta mecânica requer prática, já que um erro poderá custar sua vida, principalmente enfrentando chefes.

A mecânica mais importante do jogo e que irá salvar sua vida inúmeras vezes é a de solidificar-se, tornando-se uma estátua, apertando o LT. Inicialmente, pode parecer algo bobo ou estúpido, mas à medida que você avançar no jogo, você entenderá como é fundamental dominá-la, já que ela precisa ser recarregada e utilizá-la no momento errado poderá custar a sua vida.

Em diversas situações em que estive cercado por inimigos ou ao errar um golpe enfrentando um dos chefes, ficando vulnerável, recorri para este recurso que permite que você seja golpeado sem perder nenhum tipo de vida e, de quebra, desequilibrar alguns inimigos, dando a oportunidade de contra-ataque certeiro.

Uma das grandes novidades de Mortal Shell é como o jogo aborda o sistema de classes e níveis. Espalhadas pelo mundo do jogo, você encontrá carcaças, que nada mais são do que corpos de guerreiros lendários que morreram e permitem que você assuma controle de seus cadáveres, herdando suas habilidades.

Para liberar novas armas, é necessário encontrar locais específicos com um altar e um livro. Ao interagir, o personagem será jogado em uma batalha com um chefe que utilizará o armamento e ensinará as peculiaridades de arma.

Cada carcaça possui particularidades que o jogador deverá ficar ciente para escolher aquela que combina com seu estilo de jogo. No meu caso, escolhi a de Harros, o Vassalo. Esta carcaça possui uma quantidade de vida e energia equilibradas, além de boas habilidades defensivas úteis como, por exemplo, diminuir os intervalos que você poderá tornar-se pedra.

Em Mortal Shell, não há almas ou ouro, a experiência é chamada de tar. Ela pode ser obtida ao matar inimigos e ao utilizar certos itens. Junto dela, você deverá obter Vislumbres, que são mais escassos. Unindo ambos, você poderá comprar habilidades na Irmã Genessa, o NPC mais importante do jogo. Por falar nela, Irmã Genessa funciona como as fogueiras de Dark Souls. Ao morrer, você será ressuscitado no último ponto em que falou com ela.

Ao perder toda a barra de vida, seu personagem não morrerá de imediato. Ele será lançado para fora da carcaça, revelando sua verdadeira forma. Caso você seja atingido, morrerá automaticamente, mas se conseguir alcançar a carcaça, poderá retomar o controle da mesma e voltar com a vida completa.

Esta habilidade pode ser utilizada apenas uma vez por morte e é automática. Caso perca sua barra de vida novamente, o personagem morrerá, voltando ao último ponto de renascimento.

Ao morrer, seu personagem deixará os tars junto com a sua própria estátua no local da sua morte. Caso consiga interagir com ela, recuperará os tars e ainda ganhará uma barra de vida cheia.

Em alguns momentos, principalmente batalhas com chefes, poder contar com uma barra cheia de vida é uma grande vantagem e acaba ocorrendo uma coisa inusitada: às vezes, vale a pena morrer para ter um recurso de emergência. O problema é que a tática é arriscada já que, caso você morra antes de tocá-la, perderá seus tars de vez.

Outro peculiaridade do jogo é como ele aborda e incentiva os jogadores a utilizarem seus itens. Ao encontrar um item pela primeira vez, você não saberá qual é o efeito dele até que o utilize. Caso o utilize mais vezes, atingindo a familiaridade máxima, você desbloqueará um efeito adicional ou irá torná-lo mais eficiente.

Ao encontrar um cogumelo, aparentemente inocente, e comê-lo, meu personagem acabou envenenado. Ao atingir a familiaridade máxima, o cogumelo deixou de me envenenar e me tornou imune ao efeito de toxinas.

Em Mortal Shell, seus itens curativos não são reabastecidos ao interagir com a irmã Genessa, mas a boa notícia é que os mesmos podem ser obtidos em locais específicos, depois de um determinado tempo.

As batalhas com chefes não são numerosas, mas extremamente divertidas e desafiadoras e irão obrigar o jogador a combinar todas as mecânicas do jogo para obter a vitória. Alguns chefes possuem fases diferentes e irão mudar seu estilo de luta à medida que a batalha avança, obrigando o jogador a mudar de estratégia, dando mais dinamismo e emoção às batalhas.

O combate do jogo é fluido, com comandos precisos e práticos. O único problema que incomodará alguns jogadores são as hitboxes, isto é, o espaço em que o jogador pode ser acertado. Por exemplo, enfrentando um chefe, ocorreu dele lançar um golpe próximo a mim que não acertou o meu personagem, mas o jogo registrou que eu havia sido atingido. Felizmente, isso não é comum, mas pode ser frustrante, principalmente quando seu personagem está com pouca vida.

Aspectos Técnicos

Mortal Shell possui gráficos belíssimos, além dos efeitos de iluminação incríveis que ajudam a dar o tom da aventura sombria em um mundo decrépito. Os cenários são bem detalhados e os modelos dos personagens bem feitos.

Na parte sonora, o jogo acerta nos efeitos e dublagem, mas peca na trilha sonora. Durante as batalhas de chefes, em que havia a necessidade de algo mais épico, as músicas são esquecíveis e não conseguem acompanhar o momento.

O jogo peca na performance, apresentando leves travamentos em momentos que muitos inimigos aparecem na tela ou quando os chefes soltam golpes mais elaborados. Não chega a atrapalhar o jogador em si, mas pode ser claramente notado em alguns momentos.

O fato mais surpreendente de Mortal Shell é que o jogo foi feito por apenas 15 pessoas, fãs de Dark Souls que também trabalham na indústria e resolveram juntar-se para criar algo inspirado na franquia.

Considerações Finais

Mortal Shell é uma das surpresas mais gratificantes do ano. Com a demora de novidades sobre Elden Ring e o fim da saga Souls, é um RPG de ação fantástico que mostra que os desenvolvedores fizeram a lição de casa, trazendo os melhores elementos da franquia e inserindo novidades para produzir um combate dinâmico, brutal e estratégico.

Os problemas técnicos não são graves e tornam-se perfeitamente compreensíveis quando levamos em conta o número de pessoas envolvidas no projeto, deixando-nos esperançosos por futuros projetos da equipe. Se você é fã de Dark Souls e busca algo para preencher o vazio, Mortal Shell é a melhor escolha.