Superman: Deveria existir apenas um?

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As origens do Superman (e eu não estou falando de Krypton aqui) são bem interessantes e recheadas de curiosidades. Os nomes de Jerry Siegel e Joe Shuster provavelmente são reconhecidos na mente dos fãs de quadrinhos como os autores do herói criado lá pelos anos 30 (1933, se você se interessar).

Não é necessário dizer que o personagem fez tanto sucesso que se transformou praticamente no arquétipo que todos temos hoje de um super-herói: Aquele fortão praticamente invencível que ajuda a todos com um sorriso no rosto. Contudo, os motivos que levaram Siegel a criar o personagem talvez sejam um pouco mais sombrios (e não, não tem nada a ver com o Zack Snyder ainda).

Semanas antes da criação do personagem, Mitchell Siegel – O pai de Jerry – morreu durante um assalto à sua loja de roupas, em Cleveland. No jornal local do dia seguinte, era publicada uma carta tratando sobre a necessidade de vigilantes diante do mundo em que viviam. A carta era assinada por A. L. Luther.

Pelo menos, é isso que Brad Meltzer e Gerard Jones nos contam. Ambos acreditam que a criação do herói tem laços fortes com esse acontecimento, embora os criadores nunca o tenham mencionado em entrevistas. Um herói à prova de balas que perdeu sua família criado por um garoto que tinha perdido o pai para homens com armas. Parece perfeitamente com um símbolo de esperança surgido em um momento de luto.

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O que um homem invulnerável temeria?

E não vamos nos enganar: O Superman é um símbolo de esperança. Ele não é só um herói, ele é o herói. Ele pode correr ou voar em velocidades absurdamente altas, mas nunca deixa de andar como todos nós. E sorrir e ajeitar os óculos de que não precisa, pois enxerga melhor do que qualquer um no planeta. E apertar gentilmente mãos que poderia reduzir a pó fosse com sua força descomunal ou com sua visão de calor. E ajudar a todos, seja como o repórter humilde e alegre, seja como o herói máximo.

Mas deveria existir apenas esse Superman? É comum lermos por aí que a versão do Superman trazida pelo diretor Zack Snyder está “errada”. Ou, não muito tempo atrás, que o Superman dos Novos 52 era “otário” (o que acabou trazendo de volta o Superman clássico para o universo atual da DC).

Só que vivemos outros tempos. Não estamos mais na Grande Depressão (época onde o herói foi criado) ou entre guerras de grande escala. Não estamos lutando por nossas vidas, logo temos tempo para pensar e sentir. E questionar a tudo, inclusive a nós mesmos. Não à toa, a depressão é considerada o mal do século.

Talvez, no lugar do ser perfeito, que, por mais que inspire (e ele inspira!), se torna uma necessidade, já que além dele nenhum de nós pode ser o Superman, precisemos de um herói que, tal como nós, apesar de ter poderes quase que divinos, questione seu papel, sua necessidade e sua importância em um mundo que não se importa muito com ninguém.

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Superman – Terra Um, por JMS.

Isso não significa que não precisamos mais da figura do Superman tradicional. Resgatar essa essência no Rebirth ou na série da Supergirl trazem lufadas de ar fresco para os fãs que sentiam falta dos clássicos. Mas isso também não quer dizer que um Superman inseguro e conflituoso seja ruim ou não tenha um público que represente.

Talvez chegue até a ser inspirador ver um homem capaz de erguer toneladas e nivelar continentes não conseguir lidar com pessoas. Porque pessoas são complexas, hoje mais do que nunca. Elas não confiam e não amam e, mesmo que o façam, não demonstram. Precisamos de Supermen. Vários deles. Supermen para os que questionam seu papel e para os que ainda acreditam na justiça e na verdade. Supermen que sorriam e pisquem após salvar inocentes e os que chorem após tomar difíceis decisões.

No final do dia, o importante talvez seja que todos nós, assim como Jerry Siegel um dia o fez, possamos ver a luz no fim do túnel, representada por um homem que usa um traje colorido com um S estampado. Que possamos enxergar naquele S a esperança (Valeu, Zack!) trazida de um planeta distante, venha na forma que vier. Porque o Superman é tão especial que não precisa ser um. Ele pode ser todos nós ao mesmo tempo. E, convenhamos, quem não quer ser o Superman?