Superman: Lois & Clark – Estranhos no Ninho

"Cyborg começando com a Liga em vez dos Titãs? Acho que nunca vou me acostumar com este mundo."

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 Com a chegada dos Novos 52, muita coisa mudou na DC. O clima da maioria dos títulos e personagens era soturno, quase desolador. O humor se transformou em acidez irônica, enquanto as batalhas, antes carregadas de uma bela inverossimilhança essencial para a magia que emana dos quadrinhos, se tornaram mais sujas e críveis. Moldadas pela realidade quando deveriam fazer o oposto.

 Mas heróis são ideais, arquétipos muito maiores do que conceitos físicos que regem o nosso mundo. Eles vão além, pois estão acima dos homens. É desse conceito que surge o Superman. E nenhum herói é maior do que o Superman.

 É nesse sentido que Superman: Lois & Clark chega às bancas de todo o Brasil nesse mês, trazendo algo desejado pelos leitores há muito tempo: Lois e Clark, os verdadeiros. Juntos como nunca estiveram desde o começo dos Novos 52.

 Apesar de se tratar de uma história fechada em si própria e de não ter tanto impacto cronológico com o que acontece no universo atual da DC, o gibi exige que você tenha certos conhecimentos prévios. Seja sobre a mitologia do Superman para apreciar pequenos prazeres como quando o casal encontra o Jimmy Olsen daquele universo, seja sobre as grandes sagas da DC para entender como eles foram parar no atual universo regular (embora uma pequena explicação esteja contida no volume).

 Lois & Clark é, antes de ser uma história de super-heróis, uma história de família. Jogados nesse novo universo junto ao seu filho ainda bebê Jonathan, eles precisam aprender a viver ocultos justamente por não estarem mais em um mundo amistoso como o mundo de onde vieram. Fugindo do cinismo e desconfiança do universo dos Novos 52 (a crítica feita pelo escritor Dan Jurgens à linha editoral dessa época é fantástica aqui), eles se isolam em uma pequena fazenda e mudam seu sobrenome para White.

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Superman pós-crise durante os eventos de Liga da Justiça – Origem, dos Novos 52.

 É justamente nesse cenário que vemos a história se ramificar através de sua narrativa não-linear, recheada de flashbacks que explicam como Lois e Clark passaram os anos seguintes de sua vida enquanto suas versões daquele universo estrelavam as histórias principais. Vemos o crescimento e amadurecimento de Jon (que tem características marcantes tanto de Clark quanto de Lois), a influência de Lois como escritora anônima de grande sucesso e os esforços de Clark para salvar vidas sem chamar atenção.

 Carente de vilões marcantes ou arcos sólidos, a trama se apoia especialmente no desenvolvimento desse núcleo familiar trazendo, talvez, as cenas mais agridoces que um quadrinho da DC pôde exibir nos últimos anos. Ver Lois, Clark e Jon interagindo entre si como uma família certamente faz dessa leitura algo especial.

 Em suma, Superman: Lois & Clark lança algumas bases para a nova fase editorial da DC (Rebirth), ainda por chegar ao Brasil, e restabelece um dos casais mais emblemáticos dos quadrinhos em sua própria série mensal, coletada aqui pela editora Panini em um único volume contendo 8 edições e custando R$ 25,90.