Tinha Que Ser Ele? – Crítica

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James Franco (Homem Aranha 1 e 2, Oz, Mágico e Poderoso) é Laird Mayhew, um novo rico, um milionário da internet com comportamento nada convencional e totalmente… digamos despojado, a ponto de por exemplo, usar a mesma camiseta furada em quase todas as cenas, ou pelo menos nas quais está totalmente vestido. A pegada do personagem é esse desprendimento quase infantil de todas as convenções sociais.

Há um certo foco no fato de que por ser um milionário, Laird poderia fazer o que quisesse, porém, o que mais deseja é a aprovação da família da namorada Stephanie (Zoey Deutch de Tirando o Atraso), e em especial a aprovação do possível futuro sogro, Ned Fleming (Brian Cranston das séries Malcom e Breaking Bad, e indicado ao Oscar por Trumbo) . Aprovação sem a qual ele não pedirá a mão da garota em casamento. Laird poderia se gabar por ser um “partidão” para casar, mas ao contrário, acha que é ele o verdadeiro afortunado por ter encontrado uma garota tão especial. Tudo isso fica implícito nos primeiro minutos do filme: Laird é gentil, dócil, verdadeiro, generoso, e apesar das aparências, respeitoso . Mas fica difícil para Bryan/Ned encontrar tudo isso soterrado debaixo de uma avalanche de palavrões, gargalhadas, festas de arromba, bebedeiras, e atitudes extremamente impulsivas e exageradas.

Nenhuma das qualidades do rapaz é óbvia; à primeira vista ele causaria uma péssima impressão em qualquer sogro despreparado. Laird não sabe se comportar em ambiente familiar pois é desprovido de família e com um início de vida difícil – situação que é apresentada no filme de forma hilária  – e faz com que anseie se casar com a mulher que ama e ter uma família que o aceite pelo que ele é – por isso a aprovação do sogrão é tão importante.

A família Fleming viaja para conhecer o namorado da filha e acreditam que ficarão num hotel, porém Laird tem outros planos, preparando uma infinidade de ações que acredita que causarão uma boa impressão nos sogros.

Em contrapartida, tudo o que Ned quer, é esquecer que conheceu o namorado da filha e ir para um hotel em vez de ficar hospedado na bela, porém maluca mansão do rapaz . Mas qualquer fuga se torna impossível por causa das intermináveis ‘surpresas’ que Laird prepara com a intenção de agrada-los, como a tal pista de boliche em tamanho oficial, personalizada para Ned.

Embora as piadas do filme tenham um cunho um tanto juvenil, como por exemplo, uma lhama andando pela propriedade , uma acidental inundação de xixi de alce na sala de estar, ou as peripécias de Barb e Ned  com a privada high tech japonesa (um dos criadores da história é Jonah Hill, o que explica muita coisa) é interessante ver a leve hipocrisia que normalmente reina nas famílias tradicionais, ser escrachadamente surrada a todo momento.  Muitas famílias sabem que seus filhos(as) adultos (ou nem tanto), têm vida sexual ativa, mas preferem viver como se isso não estivesse acontecendo. Por outro lado, qual é o pai que quer ouvir do namorado da filha, os sentimentos carnais que ela lhe desperta? Até a bela sogra, Barb (Megan Mullally de Os Reis do Verão) é ostensivamente elogiada por Laird, de forma um tanto íntima demais, o que o rapaz considera apenas como sinceridade. Porém quanto mais ele fala, pior ele fica aos olhos do sogro. E isso são os primeiros 5 minutos do filme.

O tema ‘família’ pode ser fonte interminável de roteiros e geralmente dá boas comédias. Talvez por isso haja muitos filmes envolvendo a interação de sogros, noras, genros e as piadas e constrangimentos que essas situações podem causar. A ideia já foi muito explorada, porém no meu entender nunca cansa, pois toda vez que é revisitada, traz uma nova perspectiva, uma visitação de antigos valores sob o prisma da comédia.

O elenco nada deixa a desejar, e além da presença do veterano mais do que competente Bryan Cranston, que desfila por qualquer roteiro como soberano, seria justo destacar também dois coadjuvantes: Keegan-Michel Key (Tomorrowland e Teacher Of The Year) e Megan Mullally que proporcionam algumas das melhores piadas do filme. Barb/Megan influenciada por um cigarrinho suspeito que fumou na festa, chapada, com suas lindas pernas de fora e tentado seduzir o marido na cama, está ótima. Keegan é Gustav, um sofisticado ‘gerente’ da casa, com uma piada escancaradamente tirada de A Pantera Cor de Rosa, de Peter Sellers e sendo o tempo todo o melhor amigo de Laird. James Franco se sai muito bem, seu personagem poderia ter pendido para a subserviência em busca da aprovação do sogro, mas definitivamente isso não aconteceu. A jovem Zoey Deutch como Stephanie, fez o contrapeso tanto quando está em cena com o personagem de James Franco quanto com a família. Ela nos convence como filha e namorada amorosa porém decidida. A Barb de Mullally vai aos poucos mudando de senhora constrangida para a mãe disposta a esquecer algumas convenções sociais em prol do que acredita ser melhor para a filha. O filho caçula dessa família é o Scotty (Griffin Gluck de Esposa de Mentirinha), que em momento algum achou que seu possível futuro cunhado poderia ser uma ameaça, pois como é que alguém que faz jogos para vídeo games poderia sê-lo?

Merece menção a participação de Kaley Cuoco, a Penny da série The Big Bang Theory , fazendo uma ponta: ela é a voz do computador onipresente na mansão de Laird. Com sua experiência em cenas cômicas, sua voz expressiva e dicção rápida, ela completa perfeitamente as várias piadas já armadas para sua participação.

Outro destaque é a presença muito especial Gene Simmons e Paul Stanley do Kiss.  Sim, você não entendeu mal, os músicos entram em cena e além de interpretarem um de seus maiores sucessos, I Was Made For Lovin’ You, ainda emprestam suas vozes poderosas para doces músicas Natalinas. Para muitos, só isso valeria uma ida ao cinema.

John Hamburg já dirigiu Eu, Eu Mesmo e Irene, Eu Te Amo Cara e roteirizou Zoolander 1 e 2, Entrando Numa Fria , Entrando Numa Fria Maior Ainda e Quero Ficar Com Polly. Ainda é co-criador, roteirista e diretor de  Tinha Que Ser Ele? . Sua direção já experiente nesse tema, propõe a melhor forma para comédias desse tipo, sem tentar transforma-la no que não é: um filme mais rígido e reflexivo. Traz a agilidade necessária para esse tipo de humor, assume o estilo e segue conduzindo o talento dos atores sem desperdício. Este não é um marco no cinema da comédia, mas diverte bastante. Não tem a intenção de discutir os temas apontados no roteiro, como tolerância, comportamento familiar moderno, sexualidade dos jovens adultos, etc. A intenção dos realizadores é divertir o público com esses temas, sem apontar soluções, isso seria muita pretensão – mas isso não os impede mostra-los . Muitas piadas são um pouco apelativas, mas nada de que assuste.

A eclética trilha sonora trilha sonora traz sucessos que vão desde o Hip Hop de Eminen ao Hard Rock do Kiss.

Tinha Que Ser Ele? tem como cocriador, Jonah Hill, que já trabalhou com Adam Sandler, Borat e Ben Stiller, portanto, espera-se que o mesmo estilo de humor esteja presente nessa obra.

Mais uma crítica elaborada por Cecilia Rivers.