No ano passado, foi ao ar a primeira temporada de Titãs, série em live-action da plataforma de streaming DC Universe, plataforma exclusiva para conteúdos da DC Comics. Na semana passada, a série foi adicionada ao catálogo da Netflix, permitindo que os fãs brasileiros finalmente pudessem conferi-la.
Diferente das séries baseadas em personagens da DC veiculadas pelo Canal CW, Titãs vem com uma proposta mais adulta e sombria, assim como a Marvel fez com as séries do Demolidor e Justiceiro. Embora muitos fãs, órfãos da visão de Zack Snyder para personagens da DC, tenham amado a produção, muitos enxergam os problemas que ela apresenta, ao analisarem todos os defeitos nas camadas que vão além da violência exagerada.
Inicialmente, devo falar que a série possui um problema gravíssimo em sua montagem, nos entregando uma primeira temporada esquizofrênica e cheia de quebras de ritmo. Embora o plot inicial seja apresentar os personagens e mostrar um confronto contra o demônio Trigon, pai de Ravena, por diversas vezes, a série se perde em sua própria narrativa e é permeada com episódios fillers que não servem para nada, mas o principal problema está no episódio final, que força um gancho para a segunda temporada através de uma ilusão de Dick Grayson, porém falarei mais sobre isso mais adiante.
Outro grande problema é a indecisão da série em relação a um vilão, já que, ao longo da temporada, vemos tudo sendo construído para a chegada de Trigon, porém isso faz com que não exista uma ameaça real para a equipe até o momento da chegada do vilão, quebrando o paradigma de ameaça e situações onde eles devem começar a agir como equipe.
Em meio aos dramas de Ravena, existe o drama pessoal de Dick Grayson, ex-ajudante do Batman que tenta deixar para trás seus dias como Robin e viver uma nova vida como detetive de Detroit. Na série, Dick diz por inúmeras vezes que deixou o Batman, pois estava cansado da maneira na qual seu antigo mentor fazia justiça com as próprias mãos e que estava se tornando tão violento e sombrio quanto ele, algo que o assustava. Acontece que todo esse discurso cai por terra em pouco tempo, já que Grayson faz questão de torturar bandidos e até mesmo pedir que Estelar exploda um hospício cheio de pessoas inocentes, mas é claro, isso é tudo em prol da violência explícita e para mostrar que essa é realmente uma série adulta.
O mais curioso, é que Dick quer provar a todo o custo que consegue se virar sem o Batman e que é independente dele, porém ao longo da trama, vemos o personagem pedindo dinheiro para Alfred e até usando um dos prédios de Bruce Wayne como base temporária, além de continuar usando o carro que Bruce lhe deu. Essa é uma independência um tanto quanto curiosa, não?
Essa lenga-lenga com o Batman se estende até o episódio final, que é coroado por uma visão de Dick onde o Batman fica fora de controle e sai matando todo mundo (oi?). A “aparição” do Batman é patética e se limita a uma sombra com chifres que é um verdadeiro psicopata.
Demolidor, Justiceiro, Deadpool e Logan já nos mostraram que é possível fazer adaptações super-heroicas onde se tem muita violência, sangue e mutilações, contudo, em todas essas produções vemos um sentido e coerência para a violência, vemos as consequências dela e vemos realismo, em Titãs, um soco significa um litro de sangue espirrando na tela, além de parecer que todos os membros da equipe sentem prazer em matar. A produção deixa de lado toda a sutileza e o realismo que a violência pode conter para dar lugar a um gore descarado que faz parecer que estamos assistindo a um filme B de terror.
Outro ponto que vem sendo bastante criticado desde as imagens dos bastidores – e que fica ainda mais evidente ao assistirmos a série – são os figurinos dos personagens. Enquanto Robin, Rapina e Columba ostentam trajes bonitos e fiéis aos quadrinhos, Mutano, Ravena e Estelar se limitam a usar a mesma roupa durante toda a temporada da série. Seria compreensível eles não aparecerem de uniforme na primeira temporada, porém eles literalmente não trocam de roupa, mostrando que a série não se preocupa com coesão, cronologia ou realismo.
Embora não tenhamos nenhuma atuação excepcional na série, Teagan Croft, intérprete de Ravena, é uma das piores atrizes mirim que já surgiram nos últimos anos. Croft não consegue passar a carga dramática que sua personagem exige e por diversos momentos parece não saber o que está fazendo ali, entregando uma cara de tédio em momentos que deveria se mostrar emocionada.
Como esperado para as séries de super-heróis, os efeitos especiais são bem ruins, porém as soluções que a série busca para adaptarem os poderes dos personagens são piores ainda. Ravena deixa de lado suas manipulações das sombras para dar lugar a um espírito maligno dentro dela que a xinga de “vadia” o tempo todo. Já Estelar, se limita a soltar rajadas de fogo das mãos e não possui sua característica pele laranja, o que é mais um ponto negativo para a caracterização. Mutano, além de não possuir pele verde, só se transforma em um tigre, sendo meio que inútil na equipe.
O que mais se destaca positivamente na série são as atrizes Anna Diop (Estelar), Conor Leslie (Donna Troy) e a breve introdução da Patrulha do Destino, que ganhará uma série própria em breve, fora isso, tudo pode ser descartado.
Apesar de muitos que gostaram da série estarem comemorando a confirmação de uma segunda temporada, enquanto muitas séries da Marvel foram canceladas, temos de levar em conta que Punho de Ferro também ganhou uma segunda temporada, mesmo com a temporada de estreia da série sendo um verdadeiro desastre, o que significa que renovação não é um mérito a ser comemorado e nem sinônimo de qualidade.
No fim das contas, Titãs serve apenas para agradar uma pequena parcela de fãs que sentem prazer em imaginar super-heróis violentos, deturpados, que não servem de inspiração pra ninguém e que matam por prazer (pseudo-adultos). Além disso, se você gosta produções com filtros escuros, nos quais muitas vezes não vai enxergar nada, essa também é uma ótima pedida para você.
Por mais que as séries do Arrowverso tenham muitos defeitos, em diversos momentos vi os heróis dos quadrinhos refletidos naquelas produções, coisa que Titãs erra feio ao tentar fazer na sua primeira temporada.