[ANÁLISE] Biomutant | O jogo que tenta fazer de tudo, mas não faz nada direito

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Desde que foi mostrado pela primeira vez na Gamescom de 2017, Biomutant chamou atenção pela sua linda arte com animais antropomórficos e visuais vivos e vibrantes, mas será que o titulo de estreia do estúdio Experiment 101 consegue entregar uma experiência satisfatória de RPG?

Combate e mecânicas de RPG

Em todo o material de divulgação do jogo, podia-se ver muito sobre o combate. O jogo era descrito como uma obra de Kung Fu e muito se falava do sistema de combos.

Bem, ele é satisfatório. A progressão permite que você desbloqueie vários ataques, que podem ser usados de diversas formas e que podem ser executados de maneira relativamente simples, sem precisar de muito tempo treinando como em jogos de luta ou na série Devil May Cry, mas apesar dessa simplicidade para efetuar os comandos ser um ponto extremamente positivo, o sistema de combate corpo a corpo, um dos principais pontos do jogo, ainda é frustrante por conta da câmera deficiente.

Diferente de outros títulos similares que possuem um sistema de combate rápido com a câmera de trás dos ombros, como God of War(2018), Devil May Cry 5, ou a própria serie Souls, Biomutant não tem um sistema de focar a câmera em um inimigo, apostando em uma câmera automática que definitivamente não funciona como deveria. Você vai se pegar atacando o ar em diversos momentos, além de atirar no nada ou falhando um combo porque a câmera não te acompanhou quando você precisava, deixando o combate do jogo frustrante e repetitivo, transformando o que era para ser o ponto alto do jogo em algo contra intuitivo e chato.

O combate corpo a corpo é apenas um dos três pilares do combate do jogo, sendo os outros dois: armas de fogo e magia.

Isso é o que podemos entender no sistema de criação de personagem, onde temos entre as 5 classes: algumas focadas no combate corpo a corpo, uma focada em magia e uma em combate à distancia (Dead Eye, que é mais equilibrada e que foi a usada em todo o material promocional do jogo).

É nítido assim que você começa a jogar e participar dos primeiros combates as mecânicas de combate à distancia e de magia são apenas complementares aos combos de corpo a corpo, de forma muito similar à franquia Devil May Cry, dando a impressão que escolhemos de forma errada ao criar o personagem e pouco dessa escolha vai influenciar na forma de jogarmos. Isso é um exemplo claro de como os sistemas de RPG em Biomutant estão lá apenas para dizer que estão e alteram muito pouco a experiência de cada jogador, sendo apenas uma forma de inflar o jogo com conteúdos desnecessários.

Surpreendentemente, o sistema de looting, criação de itens e exploração do jogo são bem divertidos. O looting é aleatório, baseado no seu nível de sorte, permitindo que você desmonte alguns itens e faça criações que ajudam na sua jornada, sendo extremamente criativos.

História, sistema de Carma e escolhas  

Falando de coisas desnecessárias, uma das piores coisas do jogo é sua historia, principalmente por conta decisões mal feitas.

Começando pelo sistemas de escolhas, ele não tem exatamente nenhum propósito, não influenciando em nada na história e deixando os diálogos que sãos extremamente chatos  ainda piores.

Diferente de The Witcher 3, por exemplo, onde você escolhe o que falar em uma decisão importante, se aprofundar em uma conversa ou decidir como ele pretende tratar um personagem importante, Biomutant oferece três opções de fala que são exatamente a mesma coisa, mas faladas de forma diferente.

Esse não é nem o principal ponto que faz os diálogos do jogo serem maçantes, mas sim o narrador. Segundo os próprios produtores do jogo, o narrador está lá, pois somado aos animais antropomórficos, o jogo se torna uma fábula, o que é até uma boa ideia, mas o problema é que o narrador está simplesmente no jogo inteiro. Desde os menus, descrição dos cenários e nas conversas.

Os personagens que usam um idioma irreconhecível são traduzidos pelo narrador, o que deixa todos os personagens do jogo, incluindo o protagonista, sem nenhuma personalidade ou carisma e a voz do narrador extremamente cansativa.

Outra má decisão é o sistema de karma do jogo, que apesar de influenciar na história, ele não é nem um pouco sutil e não gera peso nos nosso atos, tampouco transforma faz com que algumas escolhas sejam difíceis. Ele é apresentado bem no começo do jogo, sendo representado literalmente por um demônio e um anjo no ouvido do jogador.

Ao longo de todas as escolhas que influenciam no seu Karma, você tem os NPCs e até mesmo o chato do narrador dizendo o que você deveria fazer, qual é o seu propósito e o que a sua falecida mãe acharia disso. Considerando que a história não consegue trazer à tona nenhuma decisão difícil, agir de forma boa não te deixa vulnerável e agir de forma maléfica não te traz nenhuma recompensa pessoal, fazendo com que as escolhas da criação de personagem e o sistema de karma sejam completamente inúteis e não tragam a ideia de um RPG que o jogo promete.

Gráficos e Direção de arte  

O que era o ponto que mais chamava a atenção no jogo, acabou sendo a única coisa que ele entrega à altura.

A direção de arte é de fato magnífica, com cenários e biomas lindos, permitindo que uma das poucas partes divertidas do jogo seja sair perambulando pelo mapa para lootear enquanto aprecia os visuais que as cidades devastadas e esgotos têm a oferecer.

Isso tudo poderia ser mais divertido se houvessem colecionáveis e documentos que complementassem a história. No começo do jogo, temos uma breve introdução de como tudo chegou naquela situação pós-apocalíptica, mas isso acaba sendo esquecido logo, fazendo com que muitas das construções abandonadas estejam apenas perdidas na vastidão do mundo.

Outro ponto que não ajuda a dar destaque nesse ponto positivo do jogo são os gráficos. Não que eles sejam feios, mas as texturas são em baixa resolução e as sombras e iluminação deixam bastante a desejar, fazendo com que tudo só seja bem bonito de longe.

Considerações finais 

Biomutant é um jogo que tenta fazer demais e não consegue entregar quase nada bem feito, uma experiência decepcionante para qualquer fã de um bom RPG. A empresa sueca Experiment 101, que é composta em sua maior parte por veteranos da serie Just Cause, mostrou uma extrema inexperiência com o gênero, tentando adotar mecânicas de Legend of Zelda: Breath of The Wild, The Witcher 3 e da serie Fallout, mas que acabou entregando um jogo inflado, com muitas coisas desnecessárias e que poderia ter sido muito melhor.

Biomutant foi jogado em um Xbox One. Agradecemos à THQ Nordic por ter fornecido uma cópia do jogo para a análise.