Finalmente, a Ubisoft decidiu atender os pedidos dos fãs e nos entregou o aguardado Assassin’s Creed Shadows, que chega como o título mais ambicioso da produtora.
Por muito tempo, os fãs pediam por um jogo de Assassin’s Creed situado no Japão, já que os tempos dos shinobis e samurais traz uma atmosfera perfeita para os moldes da franquia. Com o lançamento de Ghost of Tsushima esse desejo ficou ainda mais intenso.
Assassin’s Creed não é apenas uma das principais franquias da Ubisoft, mas uma das maiores da indústria. Nascida em 2007, deu início a um mundo intrigante com assassinos, templários e protagonistas memoráveis. Com tantos lançamentos, uma renovação se fez necessária.
Depois de muitos altos e baixos, a franquia se afastou das suas origens para trazer mecânicas de RPG e um mundo aberto mais complexo com a trinca Origins, Odyssey e Valhalla. A decisão foi ousada e deu certo para parte do público, mas uma parcela sentiu que a série perdeu a sua essência. Para agradá-los, veio Mirage, que funcionou como um tributo ao primeiro Assassin’s Creed.
Agora, a saga chega com mais uma reformulação ao colocar dois protagonistas jogáveis, que trazem histórias e habilidades completamente diferentes, mas que acabam se complementando ao longo da aventura.
Será que essa é a experiência definitiva que todos aguardavam? Confira em nossa análise!
Dois mundos interligados
Assassin’s Creed Shadows ocorre no Japão Feudal em 1579, durante o período Azuchi-Momoyama. Essa época marca o final da era Sengoku, quando o país estava mergulhado em uma intensa guerra civil após Oda Nobunaga ascender ao poder ao derrotar o clã Takeda.
Ao contrário de outros jogos da série em que controlávamos um personagem e apenas escolhíamos o gênero dele, Assassin’s Creed Shadows traz dois protagonistas distintos com suas próprias histórias, motivações e estilos de combate, que serão discutidos em outra seção.
De um lado, há o samurai africano Yasuke, que foi escravizado pelos portugueses e levado por eles ao Japão em uma missão de negócios. Seu porte físico chama a atenção de Oda Nobunaga, que faz dele um de seus principais samurais e peça principal de sua expansão no território japonês.
De outro lado, temos a jovem shinobi Naoe. Habitante da província de Iga, acaba envolvida no conflito contra os exércitos de Oda Nobunaga e precisa embarcar em uma jornada de vingança após um familiar ser assassinado.
Apenas pela descrição, fica claro que Yasuke e Naoe estão em lados opostos da guerra. Como todo Assassin’s Creed, a mitologia dos assassinos começa a desempenhar um papel intrigante e você verá que nem tudo é o que parece.
A história principal tem duração de 30 a 40 horas. O início é lento e pode ser um entediante, mas cumpre o seu papel em apresentar os protagonistas e como ambos se entrelaçam. Para completar tudo o que o jogo oferece, o jogador levará por volta de 80 horas, menos do que Valhalla e Odyssey.
Outra novidade trazida por Assassin’s Creed Shadows é o modo canônico, que remove as opções de diálogo e por consequências, as escolhas. A proposta é oferecer uma narrativa fixa, da forma que o estúdio gostaria de contar. Esse é mais um retorno às raízes da saga, em que tínhamos uma história linear.
A dupla dinâmica em Assassin’s Creed Shadows
Ao contrário de Valhalla, Assassin’s Creed Shadows traz dois protagonistas distintos em tudo, desde história até jogabilidade. A ideia é que ambos ofereçam os estilos que consagraram a franquia: furtividade e combate franco.
Yasuke é um samurai e lembra uma versão refinada – e mais bruta – de Eivor
Com sua espada, ele consegue devastar hordas inimigas e se lançar pelo campo de batalha e triturar tudo pelo caminho. Ele é a escolha perfeita para quem deseja se divertir sem se preocupar com ser discreto.
Naoe é o exato oposto de Yasuke
Como uma shinobi, ela é especialista em furtividade e apesar de ser habilidosa com lâminas, ela não aguenta muitos golpes. Ou seja, enfrentar grupos inimigos é uma péssima ideia. Além disso, seu parkour é complementado pelo rapel, que permite escalar locais facilmente ou chegar a pontos estratégicos.
A partir de um determinado momento, Assassin’s Creed Shadows permite que você troque entre ambos os personagens livremente, sendo até mesmo possível até terminar o jogo com um deles e ignorar parte da história do outro. Porém, fazer isso é um dos maiores erros da sua experiência.
O jogo dá liberdade para você encarar as missões como quiser, mas há dicas de quando a furtividade é ideal ou quando você precisa de alguém para chegar com o “pé na porta” e destruir tudo pela frente. Entender essa dinâmica é o que faz a jogabilidade de Assassin’s Creed Shadows uma experiência interessante até o final. O combate é viciante e não fica entediante se você revezar entre a dupla com frequência.
Nas mecânicas de furtividade, há duas novidades. Uma delas é um medidor de visibilidade para que os inimigos te detectem, semelhante ao que existe em Splinter Cell. A IA está mais sagaz, então você precisará pensar mais para ser um fantasma. Outra mecânica interessante é a possibilidade de apagar velas ou destruir lâmpadas para escurecer o ambiente e se misturar à escuridão.
Naoe pode rastejar e se esconder na grama, uma mecânica nova e muito útil. Ela deixa a furtividade ainda mais complexa e divertida. Isso dá vantagem ampla em missões de infiltração e abre uma gama de possibilidades, principalmente para assassinato. Além disso, isso possibilita se enfiar em túneis para atravessar áreas infestadas de inimigos ou fugir quando for detectada.
Como em outros títulos RPG da série, há uma árvore de habilidades, mas agora há um novo elemento, a Maestria. Basta passar de nível e desbloquear vantagens para ter acesso a outras mais poderosas. Além disso, há também um sistema de equipamentos que não é novidade para quem jogou Origins, Odyssey ou Valhalla.
Algo que desagradou na jogabilidade é a montaria. Controlar o cavalo é uma experiência frustrante e parece que você está empurrando um carrinho de supermercado com uma roda ruim. Tendo em vista os acertos de títulos como Ghost of Tsushima nesse aspecto, dava para Assassin’s Creed Shadows ter feito algo melhor.
Passeio pelo Japão
O mundo aberto de Assassin’s Creed Shadows é menor do que Valhalla, mas em termos de qualidade, oferece uma experiência de exploração mais agradável e interessante. A Ubisoft aparenta ter entendido as reclamações dos jogadores sobre repetição excessiva e tamanho artificial.
Para começar, os objetivos não ficam explícitos no mapa. O papel do jogador é utilizar as pistas que o jogo dá para encontrar o seu alvo e prosseguir com a missão. Por exemplo, em uma missão eu precisava eliminar um bandido e tinha apenas direções de onde ele poderia estar e precisei vasculhar a área até o achar.
Na tela de mapa, o jogador pode enviar batedores para a área que ele suspeita que o objetivo está para encontrá-lo. Porém, você começa com poucos e precisa usar com inteligência, fazer uma análise minuciosa das pistas pode economizar um bom tempo de procura.
Apesar de ser uma ideia simples, isso oferece uma imersão muito maior, já que sua tela não é poluída por diversas setas e indicativos. Explorar o Japão se torna muito mais agradável e com um senso de recompensa real. Porém, se você achar confuso demais jogar assim, é possível ativar o modo tradicional para ter algo próximo dos jogos anteriores da série.
Outro elemento interessante de jogabilidade é a passagem das estações do ano. Aqui, elas não servem apenas como algo estético, já que influenciam diretamente no combate. Por exemplo, realizar uma infiltração no inverno com nevasca intensa é mais fácil devido à baixa visibilidade dos inimigos do que no verão com tempo ensolarado.
Há também gerenciamento de base, uma versão mais refinada do que você encontra em Valhalla. Evoluir as construções é um ponto importante, já que permite que a forja aprimore seus equipamentos e que sua equipe tenha mais batedores, por exemplo.
Assassin’s Creed Shadows traz um sistema de procurado mais robusto. Caso um alerta seja emitido em alguma área importante, não basta fugir do local e esperar a “poeira abaixar”. Um grupo de samurais de elite irá caçar o jogador por toda a província e encará-los representa um dos maiores desafios do jogo.
Para lidar com o nível de procurado, há algumas formas de escapar ou resolver completamente. A mais fácil é trocar o personagem ou ir para outra província e aguardar a troca de estação do ano. Para remover o alerta, é necessário utilizar os batedores.
Assassin’s Creed Shadows traz visuais de cair o queixo
A franquia Assassin’s Creed sempre impressionou quando o assunto era gráficos. Shadows não foge a regra e entrega um trabalho técnico impressionante, tanto em paisagens quanto em personagens. A construção do Japão e a movimentação dos personagens revelam uma atenção excepcional aos detalhes.
A direção de arte é um verdadeiro espetáculo. Como outros jogos da série, Assassin’s Creed Shadows em alguns momentos é como uma aula de história interativa, mas sem a parte enfadonha. Personagens históricos, locais e acontecimentos são recriados de forma impressionante.
Nos modos gráficos, Assassin’s Creed Shadows traz três opções: Desempenho (2.160p com up com upscaling, 60 FPS, Ray Tracing Seletivo), Fidelidade (2.160p com upscaling, 30 FPS, Ray Tracing Padrão) e Equilibrado (2160p com upscaling, 40 FPS, Ray Tracing Padrão). Optei pelo terceiro e acredito que seja a melhor opção.
Em otimização, encontrei alguns bugs incômodos. Em um determinado trecho, o som do jogo sumiu e só reaparecia em cutscenes. Isso me obrigou a reiniciar o PlayStation 5 para que fosse normalizado. Além disso, é comum que a textura de alguns itens não carregue. Não são problemas graves que atrapalham o progresso da história e devem ser corrigidos futuramente.
Em dublagem, Assassin’s Creed Shadows possui vozes e legendas em português. O trabalho é excelente, mas eu optei por um novo modo que contribui mais para a imersão: ele considera o contexto histórico e faz com que os personagens falem japonês ou português de Portugal. A trilha sonora é um deleite com faixas que remetem ao período do Japão feudal.
Devo investir em Assassin’s Creed Shadows?
Assassin’s Creed Shadows é o melhor jogo da safra de RPGs da série. Aqui, a ideia é refinar o que deu certo nos títulos anteriores e trazer dois personagens com jogabilidade variada para agradar dois tipos de jogadores: a nova geração que gosta de ação e a antiga que não dispensa a furtividade.
A trama lenta pode entediar no início, mas quando engrena irá segurar o jogador até a conclusão. A ambientação dos sonhos, combate viciante e boas decisões de jogabilidade contribuem para uma das experiências mais imersivas da franquia. Apesar de alguns problemas de otimização, o jogo entrega capítulo sólido que promete agradar até os fãs mais chatos que perderam o gosto pela série.
Assassin’s Creed Shadows será lançado em 20 de março para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC.
*O Cromossomo Nerd agradece Ubisoft por nos ceder uma cópia do jogo no PS5 para esta análise.