[ANÁLISE] Assassin’s Creed: Valhalla | Incrível, mas não perfeito

0
1304

Lançado no final de 2007, Assassin’s Creed tornou-se um verdadeiro fenômeno ao aliar uma trama intrigante a um mundo aberto inovador para os padrões da época. O sucesso foi tanto que a série ganhou outros 11 títulos, lançados pelo decorrer de 3 gerações de jogos.

É natural que com o tempo tantas sequências acabem necessitando de melhorias e novidades para atrair novos jogadores e manter a base fiel à saga, mas é inevitável que uma franquia com tantos títulos acabe sofrendo de um certo cansaço e obrigue a desenvolvedora a pensar fora da caixa.

No décimo título, Origins (2017), a Ubisoft ousou e decidiu implementar mecânicas que aproximassem a série de um RPG, reformulando o combate e ampliando o sistema de evolução do personagem, além de escolher uma ambientação pouco explorada: o antigo Egito. É claro que nem sempre é possível agradar a todos, mas o fato é que Origins agradou e muito grande parte da base de jogadores e da crítica, mostrando que a decisão foi muito acertada.

O próximo título, Odyssey (2018), decidiu ampliar tudo o que Origins havia feito mas em certos aspectos, como no sistema de progressão, acabou batendo na trave, fazendo com que a experiência pudesse ser enfadonha em alguns pontos, mas ainda assim, Odyssey conseguiu agradar bastante o público e a crítica, com um mundo enorme vivo representando bem a Grécia da antiguidade e adicionando pitadas generosas da mitologia grega.

Assassin’s Creed: Valhalla é o novo título da série que promete entregar uma experiência incrível em uma das ambientações mais aguardadas pelos jogadores: o período Viking. Além disso, Valhalla tem a ambição de pegar os elementos que deram certo ao longo da franquia para entregar a experiência definitiva da série e também marca a estreia da série na nova geração de consoles.

História

Valhalla leva aos jogadores ao ano 873 depois de Cristo, na antiga Noruega, onde encontraremos Eivor e seu irmão adotivo Sigurd. Ambos lideram o clã do Corvo e buscam explorar a Inglaterra visando expandir o domínio viking por toda a Europa.

Eivor cresceu com um desejo de vingança após eventos traumáticos da sua infância, tornando-se um grande guerreiro viking respeitado pelo seu clã. Retornando de suas aventuras na Constantinopla, Sigurd apresenta seus novos amigos, Basim e Hytham, a Eivor. Os jogadores mais atentos perceberão um visual familiar em ambos: a dupla integra os Ocultos, um prelúdio da Ordem dos Assassinos, chegando em terras nórdicas para conter a ameaça crescente da Ordem dos Anciões, o embrião da Ordem Templária.

Eivor mostra-se cada vez mais interessado nos Ocultos e dispõe-se a aprender mais sobre ela e seus costumes, absorvendo seus ensinamentos e práticas ao seu estilo de batalha e acaba tendo como inimigos em comum a Ordem dos Anciões, mas sem deixar de lado o objetivo de conquistar a Europa.

Como é tradição na franquia, o jogador testemunhará diversos fatos históricos misturados com ficção para desenvolver seu roteiro. Inicialmente, Valhalla parece uma aventura de pequenas proporções devido à motivação por vingança do protagonista, mas à medida que Eivor avança e é envolvido nos acontecimentos da trama, o jogo toma proporções muito maiores e épicas.

A história também conta com período no presente em que o jogador controlará Layla Hassan, dando sequência à trama de Origins e Odyssey. Layla continua sua busca para salvar o mundo e encontrar respostas da Primeira Civilização.

E para isso, ela utiliza o Animus para reviver as memórias de Eivor que serão cruciais para seu objetivo. Essas partes são poucas e não representam nem 10% da trama. Mesmo assim o arco de Layla, iniciado em Origins, conclui em Valhalla.

A história permite que o jogador escolha o sexo de Eivor, mas a decisão não impacta em nada a trama e há a possibilidade de você mudar o sexo do personagem quando quiser, sem nenhum prejuízo.

Valhalla é um jogo gigantesco e recheado de conteúdo. Para zerá-lo, é necessário investir entre 50 a 80 horas, dependendo majoritariamente de como você irá fazer atividades extras no decorrer da aventura. Caso você busque completar tudo o que o jogo oferece, a duração poderá ultrapassar 120 horas.

Jogabilidade

Valhalla segue o estilo criado em Origins e expandido por Odyssey, mas busca aprimorar o que dava certo e eliminar o que não funcionava. A decisão é acertada e faz com que o combate seja uma experiência amigável a qualquer tipo de jogador, seja ele estreante na série ou veterano.

O jogador poderá equipar armas em ambas as mãos ou optar por uma arma e um escudo. Cada escolha permite uma variedade de estilos de combate. Caso você seja um jogador indeciso, fique tranquilo: Eivor pode equipar qualquer tipo de arma, independente do seu nível. Sendo assim, você poderá testar diferentes combinações para ver qual lhe agrada mais. Durante a minha experiência, adotei o uso de machado e escudo para jogar de forma mais segura.

Desta vez, o jogador contará com uma barra de energia que irá ditar como certas ações irão funcionar. Caso você desfira golpes demais, esgotando a barra de energia, Eivor ainda irá golpear, mas de forma mais fraca. Acertar golpes nos inimigos não drenará a barra, um sistema muito mais amigável do que o de Dark Souls ou Bloodborne.

Valhalla é um jogo bem violento, com direito a golpes brutais, decapitações e mutilações recheadas com muito sangue. Sejamos francos: é impossível retratar um período histórico como esse sem mostrar a violência da época. Caso você se incomode com este aspecto, o jogo conta com um filtro para eliminar essa violência.

Há o abandono dos níveis convencionais e adoção do sistema de nível de poder. Liberar  habilidades fará com que o nível de poder de Eivor aumente, permitindo que o mesmo possa enfrentar oponentes mais resistentes. No mapa, você será capaz de ver o nível de poder da área e planejar-se antes de explorá-la.

A árvore de habilidades é dividida em 3 estilos: Corvo, Urso e Lobo que equivalem respectivamente a furtividade, combate físico e combate a distância. Cada uma delas dará bônus ao seu estilo escolhido, habilidades variadas e as aptidões.

Caso você deseje uma experiência próxima dos jogos originais em que era possível matar inimigos com um golpe furtivo, algo retirado em Origins e Odyssey, vale a pena investir na árvore de furtividade, já que há uma habilidade que removerá a barreira do nível de poder permitindo que Eivor possa executar inimigos imediatamente

Eivor pode equipar 8 aptidões divididas em 4 para combate a distância e 4 para combate corpo a corpo. Elas são liberadas de duas formas: desbloqueando diretamente da árvore de habilidades ou encontrando livros escondidos no mundo. Escolher as aptidões certas dá um toque de estratégia bem-vindo ao sistema de combate e permite que o jogador possa personalizar sua experiência de acordo com o estilo escolhido.

As aptidões escondidas no mundo costumam ser poderosíssimas, podendo mudar completamente o combate numa situação de aperto. Nas 20 primeiras horas, acabei esbarrando em uma aptidão chamada “Mergulho das Valquírias”. Esta habilidade salvou minha vida inúmeras vezes, principalmente contra chefes fortes.

Um jogo que pretende retratar com fidelidade o período viking não pode faltar um dos fatos históricos mais famosos por esse povo: a pilhagem. Enquanto navega pelos rios da Inglaterra, Eivor pode soprar uma corneta e ativar uma incursão que nada mais é do que um ataque a áreas de interesse em que o jogador irá saquear e pilhar atrás de riquezas, lutando lado a lado com seus guerreiros.

Durante os ataques a mosteiros, a Ubisoft toma uma decisão um pouco estranha que vai contra os aspectos históricos: não é possível atacar civis e nem monges, Eivor e nem seus soldados atacarão inocentes. Caso insista, o jogo irá dessincronizar o jogador algo que acontece em jogos da franquia quando você ataca civis. O fato acaba sendo uma contradição, já que Eivor e seus companheiros em momentos da história não demonstram ter esse tipo de piedade.

Durante esse período histórico, os vikings tinham o costume de povoar aréas antes não exploradas e estabelecer uma pequena civilização. Em Valhalla, esse costume mostra-se presente na forma de assentamento. Ao partir de sua terra natal, Eivor e Sigurd criam um assentamento na Inglaterra. Durante a aventura, principalmente nas incursões, você encontrará recursos para evoluir seu acampamento e não deverá subestimar este aspecto do jogo.

Melhorar seu assentamento abrirá diversas possibilidades de melhorias para Eivor como por exemplo o ferreiro que permitirá que suas armas sejam melhoradas e até mesmo revelar a localização de itens importantes no mapa por meio de seu cartógrafo, além de trazer vendedores. O jogador também pode nomear um Jomsviking, uma espécie de braço direito de Eivor que pode ser usado no modo online por outros jogadores que renderá recompensas.

Valhalla brilha no novo sistema de missões secundárias, agora chamadas de eventos de mundo. Por mais que não sejam aleatórios, acabam lembrando um pouco o sistema de acontecimentos inesperados de Red Dead Redemption 2.

O mapa conta com pontos brancos e ao chegar em algum deles, Eivor irá deparar-se com algum acontecimento e personagem em uma determinada situação, dando início a missão. As missões costumam ser curtas, rápidas e interessantes, possuindo uma variadade incrível. Algumas são memoráveis devido ao bom humor da escrita. Por isso, recomendo que explore cada ponto do mapa, principalmente atrás destas missões.

Aspectos Técnicos

Jogar Valhalla no PlayStation 4 e no PlayStation 5 são experiências bem diferentes, com o console mais velho sofrendo demais para entregar uma experiência sólida. Em diversos momentos, o jogo não parece ter sido feito pensado na geração anterior. As quedas de framerates são constantes principalmente durante as incursões, que há muita coisa acontecendo na tela e o console não dá conta.

Os carregamentos são longos e os bugs incomodam, principalmente quando obrigam o jogador a reiniciar o jogo. Em alguns momentos, eu me deparei com um chefe que começou a flutuar e ficou imóvel e em outro, meu personagem ficou com o pé preso dentro do cenário.

No PlayStation 5, Valhalla consegue entregar a experiência proposta. Com gráficos belíssimos, efeitos de iluminação incríveis e uma performance sólida, a aventura torna-se muito mais agradável e fluida.

A versão da nova geração não está isenta de bugs, muito pelo contrário. Durante toda a minha experiência, encontrei na maior parte das vezes bugs gráficos, como por exemplo texturas que carregaram e ficaram “tremendo” de forma discreta. A única vez que precisei reiniciar o jogo foi quando eu explorava uma cachoeira e decidi pular na água. Eivor acabou passando direto do fundo do rio, ficando além do mapa caindo infinitamente. A física de Valhalla produz sequências cômicas com direito a inimigos que saem literalmente voando ao serem acertados com golpes fortes.

Infelizmente, Valhalla também sofre com bugs graves. Diversos jogadores revelam que perderam horas de jogo porque seu save foi apagado, algo preocupante. Há também bugs de progressão em que fatos necessários para dar continuidade a história não ocorrem, deixando o jogador preso.

A impressão que temos é de que Valhalla foi lançado muito antes do tempo necessário, para pegar carona no lançamento dos consoles da nova geração. O jogo ganharia muito com um adiamento de alguns meses para ser polido.

A trilha sonora conta com Jesper Kyd, Sarah Schachner e Einar Selvik. Este trio de compositores entrega uma coletânea de faixas épicas memoráveis que misturam faixas orquestrais com elementos folks, contribuindo para a imersão no período.

O jogo conta com dublagem e legendas em português. Os dubladores fazem um bom trabalho no geral e a tradução tem excelente adaptação, principalmente nos momentos com algum tipo de piada.

Considerações Finais

Assassin’s Creed: Valhalla é uma experiência impressionante. Adaptando o período viking de forma incrível, mesmo que não perfeita, apresenta uma narrativa divertida com todos os elementos que os fãs esperam da franquia.

Com um mapa gigantesco e belíssimo que merece ser explorado, personagens carismáticos e um sistema de combate bem construído, acaba pavimentando um caminho promissor para a franquia, mesmo passando uma sensação de conclusão encerrando o arco iniciado em Origins, inaugurando a nova geração de forma primorosa e mal podemos esperar o que o futuro reserva aos fãs.

A pressa para lançá-lo junto da nova geração acabando tirando parte de seu brilho e presenciamos novamente outro grande lançamento que sai precisando de polimento adicional que tornaria a experiência muito superior. Só nos resta torcer para que a Ubisoft continue trabalhando por meio de patches para consertar esses problemas.

Caso você seja fã da temática viking ou goste de RPGs de mundo aberto gigantesco, Valhalla irá agradá-lo e a nova geração entrega a experiência definitiva.

*O jogo foi analisado no PlayStation 4 e PlayStation 5. Agradecemos a Ubisoft por nos ceder uma cópia da edição Ultimate para análise.

RESUMO DA CRÍTICA
Jogabilidade
Gráficos
História
Imersão
Trilha Sonora
Post anteriorSony revela os jogos da PlayStation Plus de dezembro
Próximo postNetflix anuncia os lançamentos de seu catálogo para dezembro de 2020