[CRÍTICA] Brinquedo Assassino | Um reboot feito do jeito certo

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É difícil quem nunca tenha ouvido falar da série de filmes Brinquedo Assassino. Lançada originalmente em 1988, contava a história de um boneco possuído por um serial killer. O sucesso foi imenso, rendendo diversas sequências. Com a onda de reboots no universo cinematográfico atual, era natural que um novo capítulo da franquia fosse lançado. Muitos filmes tentam recriar a obra original e acabam falhando justamente por isso. Brinquedo Assassino é ousado e muda diversos pontos, adaptando-os a uma temática mais atual.

O ponto mais notável é a diferente origem de Chucky. No filme original, o serial killer conhecido por Charles Lee Ray, está fugindo de polícia e se vê encurralado em uma loja de brinquedos. Como último recurso, faz um ritual vodu e transfere sua alma para o boneco, jurando vingança a todos. Quando, na forma de brinquedo, chega as mãos do menino Andy, seu objetivo passa a ser transferir sua alma do corpo de brinquedo para o corpo do jovem.

Neste filme, Chucky continua sendo um brinquedo, mas não há sobrenatural envolvido. Desta vez ele é um brinquedo fabricado por uma multinacional de tecnologia com inteligência artificial dotada de grande potencial de aprendizado capaz de se conectar a carros, televisões e tudo o que possuir o sistema inteligente da empresa que o produziu. Para o azar dos protagonistas do filme, os produtos dotados de tal sistema são populares, marcando presença nas casas da maioria. Um funcionário revoltado, que trabalha na fabricação dos bonecos, tira o filtro de violência e censura do boneco, tornando-o extremamente imprevisível e perigoso. O brinquedo chega a Andy como presente de sua mãe. Com defeito, ele seria devolvido para a empresa e ser descartado, mas com o aniversário do filho chegando, sua mãe, que trabalha na loja de brinquedos, dá um jeito de levá-lo para casa e é justamente nisso que o filme brilha: Chucky evolui como uma grande ameaça, devagar, durante o filme, na convivência com Andy, um garoto deficiente auditivo, e seus novos amigos. O brinquedo, extremamente popular, é conhecido por tentar fazer seu dono feliz, realizando seus desejos. Sendo assim, tudo que deixa Andy triste é visto como uma ameaça por Chucky e é aí que o problema começa: ele não hesita em matar para acabar com os problemas de Andy, seu melhor amigo, mesmo que o garoto nunca tenha pedido nada parecido.

O filme trabalha bem seu núcleo principal que envolve Andy (Gabriel Bateman) e Karen Barclay (Aubrey Plaza). Após a morte do pai de Andy, ambos se mudam para um novo apartamento, com o garoto tendo problemas de adaptação e tentando seguir em frente após a tragédia. Chucky é interpretado por Mark Hammil, conhecido pelo papel de Luke Skywalker e do Coringa, em animações e jogos. Hammil entrega uma atuação impecável no papel do boneco, sendo o grande destaque do filme.

A trama consegue se manter interessante do início ao fim, algo que não é tão comum. Em nenhum momento, você sente que o filme está te enrolando e isso o torna uma experiência agradável. Mesmo sendo uma obra de terror, o humor é presente, mas sem exagerar ou quebrar o ritmo de tensão do filme. Não se engane pelo fato do filme ser remake e não contar com temas sobrenaturais: o filme consegue ser assustador e brutal quando precisa. Cenas agoniantes e mortes violentas podem deixar as pessoas mais sensíveis impressionadas.

Lars Klevberg, não muito experiente como diretor, consegue entregar uma obra bem feita, com enquadramentos muito bons, que valorizam principalmente o quanto Chucky pode ser assustador. A produção do filme ficou a cargo David Katzenberg e Seth Grahame-Smith, responsáveis pela excelente adaptação de It – A Coisa e novamente, ambos mostram como entendem bem em fazer filme de terror. O roteiro de Tyler Burton Smith é simples funciona bem na proposta, mas não é perfeito. A trilha sonora é mediana e não consegue se destacar , principalmente nos momentos de tensão. Tirando o núcleo principal, o resto dos personagens, principalmente os amigos de Andy, não é memorável e nem muito desenvolvida para que os espectadores criem algum tipo de laço com eles. Isso acaba tirando um pouco da química e os torna esquecíveis.

Brinquedo Assassino é um reboot surpreendente por não querer recriar a obra original. Ousando em se distanciar do clássico e usando um tema atual para escrever uma história completamente diferente, é uma experiência ótima para aqueles que buscam um filme de terror com diversão.