[CRÍTICA] Liga da Justiça de Zack Snyder | Tanto barulho pra isso?

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É bem comum os bastidores dos filmes de Hollywood serem um grande mistério (como forma de evitar vazamentos indesejados), com informações mais precisas sendo reveladas somente após o lançamento do produto final. Mas no caso da Liga da Justiça de Zack Snyder, acompanhamos o drama da produção desde 2016, onde o estúdio já não estava contente com a visão do diretor e decidiu mudar os rumos narrativos e artísticos que ele havia estabelecido para o Universo Estendido DC durante os eventos de Batman vs Superman: A Origem da Justiça.

Em 2017, após uma tragédia na família de Snyder e insatisfeitos com os rumos que a produção estava tomando, o estúdio decidiu afastar o diretor do filme da equipe e trouxe Joss Whedon (Vingadores) pra finalizar a produção. O filme sofreu alterações no roteiro e teve algumas cenas regravadas às pressas, o que acabou prejudicando o resultado final.

A intervenção do estúdio não agradou nada os fãs, que logo começaram a campanha para que a Warner lançasse o “Snydercut”. Depois de muita luta e protestos, quatro anos depois finalmente foi lançada a versão de Zack Snyder de Liga da Justiça, mas será que ele é um filme totalmente diferente da versão de 2017?

A primeira coisa diferente é o tempo de duração, que é de 4 horas, (2 horas a mais do que a versão que foi para os cinemas). Muitas pessoas reclamaram, dizendo que era longo demais e que poderia atrapalhar a experiência. As primeiras horas do filme são bem lentas e pra quem assistiu o “Whedoncut”, não tem muita coisa nova.

Algumas cenas são mais longas do que deveriam e narrativamente não fariam falta se fossem cortadas, inclusive, algumas delas são totalmente inúteis e desconexas, mostrando que estão ali apenas para dizer que Snyder tinha muita coisa diferente para mostrar. Snyder poderia ter usado esse tempo extra para apresentar um filme com uma história mais lapidada e que não deixasse margem para furos no roteiro, tais como o Darkseid desmemoriado, gravidez de Lois Lane e por aí vai.

Por sorte, o filme toma outro rumo nas duas horas restantes e fica bem mais dinâmico, de uma forma que nos deixa bem mais presos na história.

O enredo de ambas versões é praticamente o mesmo, Bruce Wayne (Ben Affleck) tenta reunir uma equipe de heróis pra ajudar na luta contra o Lobo da Estepe (Ciaran Hinds) e o impedir de destruir a Terra. Fora isso, a versão de 2017 focava em resolver o problema o mais rápido possível, enquanto no Snydercut o foco está muito mais em desenvolver a relação entre os personagens e ele consegue fazer isso muito bem. As ligações entre os personagens e suas motivações são muito mais palpáveis e nós acreditamos que aqueles heróis viraram amigos depois de lutarem juntos.

Dentre as mudanças consideráveis desse corte está o personagem de Ray Fischer, o Ciborgue. A abordagem mudou de forma drástica, com o personagem ganhando um desenvolvimento muito melhor e muito mais protagonismo, sendo uma das peças fundamentais pra conclusão do filme, o que nos leva a entender o o motivo do ator ter sido um dos principais apoiadores da campanha para o lançamento desta versão.

Uma das maiores mudanças está no design do vilão principal. Enquanto alguns preferem o visual apresentado nos cinemas, outros adoraram esse visual mais “alienígena”. No fim das contas, o visual nem importa tanto. Se você não gostou das imagens promocionais do Lobo da Estepe, pode ficar tranquilo que ele não incomoda visualmente. O que realmente importa é que as motivações do vilão estão melhores nessa nova versão, mas o diretor insiste em repetir o plano do vilão várias vezes durante o filme, tratando-o como se fosse algo mirabolante e complexo, que precisa ser explicado o tempo todo, mas é só um plano genérico de dominar o mundo.

Quem acompanha o diretor nas redes sociais já estava ciente de 90% das “surpresas” do filme e isso pode ter estragar a experiência de alguns momentos importantes. O que mantinha as expectativas dos fãs lá em cima eram algumas promessas como participações de alguns personagens muito famosos no universo DC e a conclusão do arco do Superman.

As participações acontecem, mas não têm quase nenhuma importância pra história [pra não dizer nenhuma]. Quanto ao arco do Superman, é como se o personagem estivesse ali só pra dar uns socos no vilão e só. Por falar nisso, devemos destacar que Whedon conseguiu apresentar um Superman muito mais evoluído e parecido com o dos quadrinhos, mesmo que com os contratempos do bigode horroroso.

Por falar em CGI, por mais que muitas cenas dessa versão tenham sido usadas na versão que foi para os cinemas, não podemos ignorar o fato de Snyder não soube aproveitar bem o orçamento que a HBO Max lhe deu e preferiu investir em cenas novas com um visual capenga, ao invés de polir tudo o que precisava.

No fim das contas, o filme não é tão diferente da versão de 2017, surpreendendo fãs que achavam que algumas piadas eram de Joss Whedon, mas que acabaram sendo do próprio Snyder.

Liga da Justiça de Zack Snyder é um ótimo filme pra quem é fã do diretor, mas pode desagradar um pouco fãs de personagens como o Superman. A história por trás da produção desse filme já está marcada como um tabu em Hollywood, seja de forma positiva ou negativa. Os personagens possuem um desenvolvimento muito melhor e os arcos contém uma conclusão bem superior. Revisitar o filme pode ser um problema porque o roteiro vai se mostrando bem fraco e com muitos furos, apesar de tudo isso ainda é um bom filme.