A cena pós-crédito de Vingadores: Guerra Infinita mostra o pedido de socorro de Nick Fury à uma velha amiga, que cruzou seu caminho nos anos 90. Após Thanos conseguir pegar as Seis Jóias do Infinito e dizimar metade das vidas do universo inteiro, era hora de chamar a Capitã Marvel. Para os mais próximos do universo Marvel dos quadrinhos, o nome e presença de Carol Danvers tornou-se um dos mais importantes e essenciais no panteão da editora nos últimos anos. Mas quem é essa heroína que surgiu do nada nessa cena pós-crédito? Qual sua origem e trajetória? Como ela pode ajudar os heróis em Vingadores: Ultimato?
A cronologia de Carol Danvers não é exatamente estável, cheia de reviravoltas, a moça já passou por muitas fases antes de poder ser chamada de Capitã. Primeiramente, para destrinchar a origem dela, é preciso recorrer ao Mar-Vell, personagem criado em 1967, por Stan “Excelsior” Lee (texto) e Gene Colan (arte). Lançado na edição 12 da revista Marvel Super-Heroes, o herói é um alienígena da raça Kree que acaba traindo seu povo para proteger a Terra. Durante sua estadia em nosso planeta, Mar-Vell acaba conhecendo a Major da Força Aérea, Carol Susan Jane Danvers, com quem começa a flertar. Foi o nascimento de uma heroína que acabaria se tornando uma das mais fascinantes e humanas da Marvel.
Parte 1: Miss Marvel
Já no ano seguinte, em 1968, acontece o acidente que daria os superpoderes à Carol Danvers. Devido à explosão de um equipamento kree, conhecido como Psicomagnetron, ela acaba sendo exposta à uma quantidade absurda de energia e tem seu DNA fundido com o de Mar-Vell, que estava perto na hora do acidente. Porém, as habilidades custaram a se manifestar. Foi só em Ms. Marvel (1977), que vimos Carol se tornando a protagonista do título, enquanto era editora de uma revista feminina de J. Jonah Jameson, o dono do Clarim Diário.
As consequências do acidente começam a se manifestar quando Carol tem alguns apagões súbitos, até se dar conta de que a Ms. Marvel, o alvo de sua investigação para a revista, era ela mesma. No início, o pacote de poderes incluía: Superforça, voo, resistência acima do normal, rajadas de energia e uma espécie de sentido de alerta para perigos iminentes. Vale ressaltar que foi justamente nessa época, onde a Marvel resolveu apostar mais na vertente das super-heroínas, que era quase completamente eclipsado pelos personagens masculino. O prefixo “Ms” foi proposital da editora, para deixar na dúvida se ela era casada ou solteira.
Inicialmente, o uniforme da Ms. Marvel era uma versão feminina do que o Mar-Vell usava, mas logo isso foi mudado. Na edição 20 de sua revista, a jovem opta por usar um traje que mais lembrava um maiô sensual, que foi criado pelo quadrinista Dave Cockrum. A roupa até hoje, é motivo de discussões a respeito da sexualização da personagem. No entanto, a revista acabou encontrando seu cancelamento na edição 23, em 1979.
Parte 2: Os Vingadores
Carol Danvers já havia cruzado o caminho dos Vingadores e tinha ajudado o time em algumas ocasiões, mas foi somente em Avengers 183 (1979) onde a jovem finalmente ingressou no grupo. Sua ingressão na equipe parecia ser um novo horizonte trazendo novas possibilidades para poder aproveitar a personagem e torná-la mais interessante. Só parecia.
Em Avengers 200 (1980), a Ms. Marvel acaba passando pela sua aventura mais controversa e polêmica. Na trama da revista, um enigmático homem aparece e afirma ser o filho de Immortus, um conhecido vilão dos Vingadores. Chamado de Marcus, ele e Ms. Marvel acabam se envolvendo, mas nem tudo foram flores nesse enlace.
No enredo criado por David Michelinie e Jim Shooter, Marcus leva Carol para o Limbo, uma realidade alternativa, onde ela a seduz, manipula sua mente e depois a devolve grávida para a dimensão normal. Sem ter ideia do que aconteceu, ela agora tem de lidar com uma gravidez que se desenvolve de modo anormal. Na hora de dar a aluz, Carol descobre que o bebê era o próprio Marcus. Mas o grande absurdo da história ainda está para acontecer.
Num surto mental confundido com amor, Ms. Marvel abandona os Vingadores e parte para o Limbo para viver com Marcus. A HQ recebeu duras e justas críticas na época de lançamento e até hoje é odiada pelos fãs, que veem com razão, uma clara forma de humilhação de uma personagem que anos depois se tornaria um símbolo de força, perseverança e independência.
O conceituado Chris Claremont (X-Men: Deus Ama, o Homem Mata, Dias de um Futuro Esquecido) repudiou totalmente os rumos que os roteiristas anteriores escolheram para Carol Danvers. Tanto que em Avengers Annual 10 (1981) ele faz questão de desfazer por completo o que havia sido feito com ela, libertando Ms. Marvel do controle mental e a devolvendo para a Terra. Chegando aqui, ocorre um confronto com a Vampira, que absorve boa parte de seus poderes, originando a clássica rivalidade entre as duas.
Passado esse tormento, Ms. Marvel se junta aos X-Men, e com o apoio do Professor Xavier, inicia um tratamento para se ver livre das consequências e traumas ocasionados por Marcus e pela dimensão do Limbo. Ainda guardando rancor dos Vingadores por terem se mantido neutros na situação, a heroína opta por não voltar para o grupo e decide viver como uma X-Men em tempo integral.
Parte 3: Binária
Foi justamente numa missão espacial com os X-Men que a Ms. Marvel acabou passando por uma fase que a transformou num dos seres mais poderosos de todo o leque de personagens da Marvel. Em Uncanny X-Men 164 (1982), os aprendizes do Professor Xavier vão ao espaço e acabam cruzando com a espécia alienígena chamada de Ninhada, nisso, os aliens acabam fazendo experimentos diversos em Carol Danvers, alterando seus poderes e sua fisiologia, consequentemente, expandindo suas capacidades.
Após essa experiência, ela se torna a entidade conhecida como Binária. Seus poderes aumentaram exponencialmente a ponto da moça absorver a energia do fenômeno Buraco Branco, sendo também capaz de manipular e produzir a energia de corpos espaciais. Vivendo agora em comunhão com o cosmos, ela opta por morar no espaço, e acaba se juntando ao grupo dos Piratas Siderais, que na época era liderado pelo Corsário.
Já em 1992 ocorreu a saga Operação Tempestade Galáctica, que englobou as revistas dos Vingadores e as HQs solos dos personagens. Nela, os krees entraram numa grande guerra com os shiars. E naturalmente, a Terra ficou no olho do tornado durante esse conflito. E para salvar o Sol que entraria em combustão espontânea, a Binária resolveu usar sua energia ao máximo e consertá-lo, evitando assim uma catástrofe sem precedentes. Infelizmente, devido à quantidade imensa de energia utilizada, Carol perde sua ligação com o Buraco Branco, e a partir daí, seus poderes começam a falhar e suas antigas habilidades retornam. Temendo não poder mais viajar no espaço, ela volta para a Terra.
Parte 4: Warbird
Em 1998, com o lançamento da revista dos Vingadores #3, Ms. Marvel volta a ser membro da equipe. Mas desta vez, decidira deixar a alcunha de Ms. Marvel para trás, usando a partir dali o codinome Warbird. Além disso, também foi revelado que ela havia ficado com alguns resquícios dos poderes da Binária. Foi justamente nesta fase, comandada por Kurt Busiek (texto) e George Pérez (arte) onde Carol Danvers acabou passando por muitas pressões psicológicas e pessoais, se rendendo ao vício do alcoolismo.
Entretanto, a heroína mais uma vez estava disposta a superar seus males, e agora, contava com a ajuda de Tony Stark (também alcoólatra). Recuperada da doença, Warbird voltaria para o grupo na edição Vingadores #27, em 2000.
De Miss à Capitã
A primeira vez que Carol Danvers usou o manto de Capitã Marvel foi na megassaga Dinastia M, onde a Feiticeira Escarlate manipula a realidade para criar um mundo perfeito para o bel prazer de cada herói. Na ilusão de Danvers, ela se tornava uma grande heroína e ganhava o título de Capitã pelo próprio Mar-Vell. Passados os eventos da HQ, as memórias continuavam vivas em sua consciência.
Um ano após Dinastia M, a editora anuncia uma nova revista para a heroína, que demonstrava o real interesse em torná-la uma personagem do primeiro escalão.
Em Guerra Civil (2006-2007), ela teve grande destaque, lutando lado a lado do Homem de Ferro pelo registro dos superseres – e graças a seus esforços, foi nomeada como líder dos Poderosos Vingadores. Já em Invasão Secreta (2008), o inescrupuloso Norman Osborn cria uma imagem falsa de herói após deter uma invasão alienígena. Com a popularidade em alta, usa a opinião pública contra os Vingadores e funda a contraparte da equipe, intitulada Vingadores Sombrios, onde a vilã Rocha Lunas chega a confrontar Carol pelo manto de Ms. Marvel.
Finalmente Capitã
Passada essa longa fase de transição, somente em 2012 ela assumiria de vez a identidade de Capitã Marvel, herdando o manto de Mar-Vell e iniciando sua jornada agora entre os principais heróis e líderes do Universo Marvel. Tal mudança foi impulsionada pela entrada da roteirista Kelly Sue DeConnick, que tinha o objetivo de reinventar e reformular a personagem.
Uma das primeiras atitudes da quadrinista, foi deixar para trás o figurino das botas longas, maiô sensualizado e pouca roupa. Era preciso trajá-la de acordo com suas origens militares. Carol era uma oficial da Aeronáutica, e DeConnick fazia questão de explorar e usar essa faceta ao máximo, seja no figurino ou na atitude.
A fase dela à frente da revista da agora Capitã Marvel durou três anos e foi um sucesso absoluto de vendas e críticas, sempre figurando entre as melhores do ano, chegando ao auge com uma indicação ao Eisner Awards de Melhor Roteirista na edição de 2012.
O contexto espacial foi apresentado e desenvolvido da maneira mais envolvente possível, com a Capitã se afiliando aos Guardiões da Galáxia na edição #6 de 2014. Esse lado cósmico foi também pensado para a heroína poder ter conhecimento das ameaças que rondam pelo universo e poder prevenir a chegada delas na Terra. O espírito ímpar de liderança e comando foi crucial para fazer entender o nível de poder e a importância dela, que aos poucos ia se tornando uma líder natural como o Capitão América. O que ficou solidificado com o lançamento de Guerras Secretas (2015-2016), história na qual Carol lidera a Força-V, uma equipe que tem apenas mulheres como integrantes, bem como comanda um grupo de aviadoras.
Em 2016, seu título foi relançado mais uma vez, devido às reformulações que a editora passava, e aqui, chegando no seu ápice do protagonismo, passou a ser a principal responsável pela defesa do nosso planeta. Nesse arco com roteiro de Tara Butters e Michele Fazekas, Capitã Marvel era líder da organização conhecida como Espada, uma versão da SHIELD dedicada a neutralizar ameaças extraterrestres. E como bem disse a editora Sana Amanat, o intuito era ressaltar, mais uma vez, o poderio e a liderança de Carol Danvers para a Marvel.
Tendo ligações com outros grupos, como os Supremos, ela interagia com Monica Rambeau, que foi sua antecessora como Capitã Marvel, agora conhecida como Espectro. Carol estava em todas e, geralmente, participava das atividades que diziam respeito à segurança do planeta. Além disso, mais uma equipe passou a seguir seus comandos: a Tropa Alfa, que era a divisão militar de elite da Espada que se reportavam somente à Capitã Marvel.
Nesse meio tempo, ainda arranjou espaço para o amor, quando engatou um romance com James Rhodes, o Máquina de Combate. O relacionamento acabou não tendo tanto destaque quanto era esperado, pois em 2016, Guerra Civil II chegava às bancas e trazia a Capitã Marvel no centro da história.
A saga que servia como uma espécie de continuação da HQ de Mark Millar, trazia o surgimento do inumano Ulysses, possuidor da habilidade da clarividência. Carol Danvers defende que esse poder seja usado para proteger a Terra e impedir que novas ameaças apareçam, enquanto Tony Stark não acredita na eficácia dessa habilidade e se contrapõe à Carol. Assim, como na saga de 2006, os heróis novamente escolhem lados e lutam entre si.
Mais do que nunca, Carol age como uma militar, mesmo errando e gerando consequências pesadas, como foi o caso da visão de Ulysses que envolvia Thanos. Após isso, ela e seus aliados decidem ir atrás do Titã Louco, sendo que, no confronto, Rhodes é morto pelo vilão e a Mulher-Hulk fica em coma.
Guerra Civil II acabou sem definição depois que Ulysses se tornou uma entidade cósmica.
Entretanto, uma reviravolta chocou as estruturas do Universo Marvel na saga Império Secreto (2017). No enredo em questão, é revelado que os heróis foram manipulados por um Capitão América agindo sob ordens da Hidra. Após saber disso, mesmo estando muito abalada, Carol reúne forças e encabeça o comando na derrocada da organização terrorista.
Filme solo
O filme solo da Capitã Marvel chegou aos cinemas e foi um fenômeno, atraindo uma grande parcela do público feminino por se tratar do primeiro filme protagonizado por uma mulher em dez anos de Universo Cinematográfico da Marvel.
Brie Larson sabia da responsabilidade em viver Carol Danvers, tendo declarado anteriormente que a Capitã é um símbolo para as jovens e crianças, e uma oportunidade única de explorar a complexidade do empoderamento feminino. O filme foi codirigido e coescrito por uma mulher, ressaltando que a Marvel vem fazendo sua parte em reforçar a representatividade na frente e atrás das câmeras.
Além disso, pela primeira vez, uma compositora assumiu a trilha sonora de uma grande produção baseada nos quadrinhos, se trata de Pinar Toprak, que é conhecida por trilhas como a do popular jogo Fortnite e a série de TV Krypton.
O longa obteve boas críticas, aclamação do público e uma bilheteria que ultrapassou a barreira de US$ 1 bilhão. A união perfeita do sucesso. Mas o principal mérito do filme é inserir a personagem no já solidificado Universo Cinematográfico Marvel, pois a partir do final de Vingadores: Ultimato, ela será a principal liderança, assumindo o lugar que por enquanto pertence ao icônico Capitão América de Chris Evans. O futuro parece brilhante, iluminado e imparável para a Capitã Marvel.
Legado
Depois que Carol Danvers deixou o título de Miss Marvel para trás, outra heroína ficou em seu lugar. A carismática Kamala Khan é uma jovem paquistanesa de Nova Jersey; sua família mora nos Estados Unidos há poucos anos, mas mantém sua religião e tradições intactas.
Kamala sempre foi fã dos Vingadores e uma participante fiel de um grupo semanal de Dungeons and Dragons. Ao sair, sem autorização dos pais, ela é atingida por uma nevoa misteriosa, que a faz mudar de forma; na verdade, essa nevoa só “despertava” genes inumanos que acabam aflorando os poderes da adolescente. A Capitã Marvel sempre abordou feminismo e aceitação nas suas revistas – um dos motivos por ter evoluído tanto nas Forças Armadas, foi para ter a aprovação do pai. Logo nos primeiros capítulos, Kamala acaba assumindo o corpo de uma Carol rejuvenescida, e só quando se aceita como é, consegue voltar a forma normal.
Essa não foi a única coisa que a Carol passou para a garota, já que ela é seu símbolo feminino dentro dos Vingadores. Kamala traz a parte jovial que faltava na Capitã, que já é uma mulher adulta e militar reformada – inclusive, as duas ficaram em posições opostas na Guerra Civil II, causando interações polarizadoras entre crítica e público. Isso serve para mostrar uma lição importante: Carol está criando uma geração nova de garotas, que serão tão incríveis quanto ela; a heroína serve como a base para jovens meninas. Não só isso, a introdução da Kamala também traz novos leitores aos quadrinhos, visto que ela é uma representante da nova geração.
Capitães e Misses
Mar-Vell: Criado em 1967, o herói Kree foi o primeiro a usar o manto de Capitão Marvel e agiu como um tipo de mentor para Carol. Faleceu tragicamente vítima de um câncer em 1982.
Monica Rambeau: Em 1982, a Marvel introduziu uma nova Capitã Marvel. Com poderes energéticos, logo a heroína passou a fazer parte dos Vingadores. Hoje, integra os Supremos.
Sharon Ventura: A segunda Miss Marvel foi inserida em 1985. Possuía superforça e era lutadora profissional. Ela se envolveu com o Coisa e passou a integrar brevemente o Quarteto Fantástico.
Genis-Vell: O filho de Mar-Vell usava o título de Legado , e logo depois, virou Capitão Marvel. Foi dado como morto em 2006 em confronto com o Barão Zemo, quando estavam em equipes opostas dos Thunderbolts.
Karla Sofen: Mais conhecida como Rocha Lunas, surgiu em 1975, tem poderes de origem Kree, assim como Carol. Em 2009, entrou em confronto com Danvers, após usar seu nome de Ms. Marvel na época em que participava dos Vingadores Sombrios.
Noh-Varr: Intitulado originalmente de Marvel Boy, apareceu nos quadrinhos em 2000, como um Kree de uma realidade paralela que acabou fazendo parte dos Vingadores Sombrios, também usando o nome de Capitão Marvel.
Kamala Khan: A atual Miss Marvel, Kamala Khan, é uma das personagens mais representativas da editora, e certamente uma das que está em maior ascensão. Kamala é uma inumana, mas acaba adotando o título de Miss Marvel por ter Carol Danvers como sua principal inspiração e mentora. O primeiro encontro entre ambas é muito comovente.
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