O Brasil e a luta para se produzir um jogo de videogame de forma independente

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O Brasil é o 13º maior mercado de games da América Latina – movimentando mais de R$ 1,5 bilhões por ano. Além dos campeonatos milionários, o país também conta com quase 75 milhões de gamers declarados! Nós ainda não produzimos os famosos triple A – jogos com grande investimento – , mas somos a casa de produções como Knights of Pen and Paper (2012) e a Lenda do Herói (2016) que foram feitos por estúdios pequenos e baixo orçamento.

O mercado alternativo já passa por dificuldades lá fora, onde muitos games são produzidos com financiamento coletivo ou com pouquíssimas pessoas na produção – como Super Meat Boy (2010) e Undertale (2015). No Brasil, essa realidade consegue ser ainda pior.

O investimento no mercado interno de games ainda é tímido. Editais para produção de jogos só foram introduzidos na ANCINE (Agência Nacional de Cinema) em 2016 e só em 2018,  a modalidade VR (Realidade Virtual) foi permitida. 

A dificuldade para conseguir financiamento e visibilidade, acaba afastando os produtores – que preferem trabalhar em empresas já consolidadas, ao invés de produzir seu próprio produto.

É difícil ter isso como uma carreira principal, de forma independente, né?” declara MF Salgueiro, Produtor e Game Designer do Bedtime Fright.

Em julho deste ano, aconteceu o Big Festival em São Paulo, o maior evento de games alternativos da América Latina. O público pode conhecer e testar o que está sendo de melhor produzido na indústria nacional e internacional. O evento também conta com uma premiação e o Brasil foi muito bem representado por Spaceline Crew (Coffenauts), que concorreu a “Melhor Jogo”, a principal categoria do evento. Também tivemos uma categoria só para jogos nacionais. 

É legal perceber que jogos de altíssimo nível são produzidos com recursos escassos e em pouco tempo – Space Line Crew é o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de uma turma de Design de Games. 

Outros destaques brasileiros da premiação foram: Adore(Cadabra Games), Mana Spark (BEHEMUTT / Kishimoto Studios) e Pixel Ripped 1989 (ARVORE Immersive Experiences).

A Rev Studio apresentou o Bedtime Fright (que concorreu a melhor jogo brasileiro) onde entramos na pele de um menino com medo de escuro; temos que resolver puzzles e levá-lo em segurança até o seu quarto. Ele está sendo desenvolvido há quase dois anos e começou em uma game jam (um encontro de desenvolvedores para planejar seu produto). Eles trabalhavam em outros empregos enquanto produziam o jogo, o que atrapalhou um pouco, já que não era possível dedicar 100% do tempo

“Nesse período [de produção], os integrantes do projeto, no momento, estavam trabalhando em outros lugares e meio que desenvolvendo o jogo no tempo livre,”ressalta MF Salgueiro.

Eles ainda completaram, dizendo que a maior dificuldade do cenário nacional é orçamentária. Mesmo que você termine seu jogo, publicidade ainda custa caro. 

“Não é um problema só do público em si, mas da publicidade mesmo, de que é caro pra’ você chegar até o seu público, pra’ você ser visualizado é caro.”

Como se já não bastassem todos esses fatores, nós não temos uma boa cultura de consumo. Somos acostumados com os produtos que vêm de fora e não damos atenção ao nosso próprio mercado – claro, isso anda lado a lado com o preço alto da publicidade. Se o público não conhece, o produto não será consumido. 

Em eventos como a BGS (Brasil Game Show) temos espaços exclusivos para jogos alternativos – como a Avenida Indie. Dá para ver como a indústria nacional é cheia de gente criativa e pronta para lançar sua ideia – mesmo que timidamente, em uma feira com as gigantes do mercado.

A Lenda do Herói, como falamos anteriormente, só aconteceu por financiamento coletivo; e recebemos em troca, um jogo que mistura mecânicas em plataforma com música! 

Uma das maiores maravilhas do mercado alternativo é poder inovar mesmo diante das limitações gráficas e técnicas. Aritana e a Pena da Harpia (2014), foi o primeiro jogo brasileiro para Xbox One e misturava 2D e 3D em sua jogabilidade de plataforma – o enredo do game fala sobre Aritana, que sai da sua aldeia em busca de uma pena mágica, capaz de curar o cacique Tabata.

Sem falar, que é só incentivando o mercado nacional, que vamos conseguir nos ver. Para que implorar por um GTA no Rio de Janeiro, se nós temos a capacidade de criar nossas próprias referências, com a nossa própria nostalgia? Irmão do Jorel (2014) já provou que podemos fazer um desenho com a nossa cara, por que não um jogo?

Mais uma BGS está chegando e com ela, mais jogos em estandes pequenos e tímidos, em meio à grandiosidade do resto – se você for curtir o evento em algum dos cinco dias, não esqueça de passar por lá e conhecer um pouco da nossa indústria!