Fazia tempo que a Marvel não acertava em cheio com uma série distribuída pela Netflix. Aliás, me arrisco a dizer que acertou somente na primeira temporada de Demolidor (e metade da segunda) e na primeira temporada de Jessica Jones, que tiveram dois vilões extremamente competentes e protagonistas que conseguiam segurar a trama.
Depois de deixar um gosto amargo com Punho de Ferro e não conseguir grandes resultados com Defensores, a Casa das Ideias parece ter entendido que a solução para o sucesso d’O Justiceiro seria deixá-lo longe de tudo o que deu errado nas séries anteriores, ou seja, isolá-lo de todo o misticismo e até mesmo daquelas conexões inexistentes com o Universo Cinematográfico Marvel, e isso deu muito certo!
O Justiceiro é uma série extremamente densa, até mesmo para quem achava que estava acostumado com a violência exibida em Demolidor, mas vamos deixar claro que todo esse peso da série não se deve somente à violência explícita. Frank Castle é muito mais do que uma máquina de matar, e é exatamente isso que a série quer nos contar: todo o drama, o sofrimento e a loucura de Castle. Tudo isso vem à tona em forma de memórias, que o perturbam a todo momento, do tempo em que tinha sua família a seu lado e que o fazem lembrar o real motivo de ter chegado ao fundo do poço.
O ponto mais forte da série é sem dúvidas o elenco. Todos os novos personagens são extremamente cativantes e os atores entregam-se aos papéis de corpo e alma, com exceção da veterana Deborah Ann Woll, que mais uma vez entrega uma Karen Page que não agrega muito na construção do personagem e em suma está lá só pra dizer que existe uma conexão com a patota de Defensores, se não fosse a presença dela, você facilmente não se recordaria que o personagem foi apresentado em Demolidor.
A grande sacada de Justiceiro é não apresentar um super herói e sim um humano quebrado, que quer a todo custo impedir que outros sofram o mesmo que ele sofreu, aliado a isso, temos a forte crítica ao “sonho americano”, o patriotismo e outras questões altamente pertinentes no cenário político americano atual. Embora a série critique abertamente problemas como a legalização de armas, justiça com as próprias mãos e guerras, tudo é feito de forma muito sutil e nada parece deslocado, muito pelo contrário, é uma ótima obra de ficção, mas no fundo sabemos que também é uma reprodução dos noticiários da vida real.
O sentimento deixado por O Justiceiro é o de que a Marvel funciona muito bem sem a própria Marvel, deixar de lado os assuntos dos Vingadores e companhia e focar-se nos personagens individualmente foi uma grande cartada para a série, e vamos ser sinceros, essa conexão unilateral já ficou cansativa, já que não temos algo concreto, melhor esquecer.