“Antigamente os carros não dirigiam pra ganhar tempo, dirigiam pra aproveitar o tempo.”

Produzido em 2006, filme da Pixar Animation, “Cars”, tenta passar em um recorte os bons velhos tempos da pequena e nostálgica América que remonta, pelo menos, a Preston Sturges. Relâmpago McQueen (Owen Wilson) é o novo grande nome no circuito da Copa Pistão, pronto para ser o primeiro novato a conquistar o pódio e, assim, assumir o patrocinador do campeão atual.

Com apenas cinco dias para chegar à Califórnia e participar de uma corrida que ira determinar o novo campeão após um inédito empate triplo, Relâmpago McQueen se perde no caminho e fica preso em uma pequena cidade no interior dos Estados Unidos, vendo que a unica maneira de sair dessa é reduzir a marcha e descobrir o que realmente importa na vida, e de repente as suas prioridades mudam.

A animação é de primeira qualidade, particularmente nas cenas de corrida, com muita atenção em como os veículos de corrida reais realmente se movem pela pista, com destaque para a caracterização dos personagens principais. Automóveis tendem a ser muito fáceis de antropomorfizar, mas ainda é surpreendente ver as características únicas eles conseguiram espremer em cada um dos personagens secundários, embora eles frequentemente façam o fácil arquétipo.

No topo da história, eles adicionaram uma dissertação sobre a perda da pequena cidade da América e a correspondente perda de humanidade (particularmente na grande cidade) à medida que as pessoas se tornaram tão atentas em chegar onde estão indo de maneira tão rápido, sem ter tempo nem de respirar com calma, perdendo de vista as coisas importantes da vida. O que é verdade, mas a resposta a esse problema provavelmente não é tentar e voltar a “um tempo mais simples na vida” quando as coisas eram mais claras.

A realidade é que os bons velhos tempos geralmente são realmente bons em retrospectiva e, inevitavelmente, alguém de dentro de 50 anos nos olhará e desejará que as coisas possam ser mais como elas são hoje. Sempre é uma boa ideia lembrar o passado, o hoje é construído fora disso, mas voltar a ele como a fonte de respostas para a vida moderna parece mais um retiro do que qualquer outra coisa.

De fora das produções desde de 1999, com Toy Story 2, Carros marca o retorno do astro da Pixar, John Lasseter, e essa é a sua grande carta de amor para o esplendor que é o automóvel. É claro que sua demanda por perfeição teve seu impacto. Os animadores tiveram que apresentar uma nova técnica chamada “ray tracing “, que permite que os visuais dos carros sejam metálicos e fortemente contornados, refletindo de forma credível seus ambientes. Mesmo com uma rede sofisticada de 3 000 computadores e processadores modernos que operam até quatro vezes mais rápido do que em Os Incríveis, o tempo médio para renderizar um único quadro de filme foi de 17 horas. Ainda assim, todo o tempo gasto valeu a pena. Carros é um verdadeiro tratamento visual com outra compreensão firme na narração da história.

O filme está cheio de personagens divertidos e peculiares que, sem dúvida alguma, agradaram o público, tanto na versão dublada quanto a versão original com os atores Owen Wilson, Paul Newman, Michael Keaton e Tony Shalhoub, fornecendo um sólido trabalho de voz. Uma curiosidade é que na dublagem original em inglês os sotaques caipiras dos personagens ficam mais em evidencia, garantindo uma imersão melhor ao tema da animação. No entanto, é o comediante Larry the Cable Guy que rouba o show como o guincho Mate, um personagem tão divertido e ingênuo que chega a roubar o posto do protagonista em algumas cenas.

Ao contrário de outros lançamentos da Pixar, Carros não passa o mesmo peso para os adultos, como em Procurando Nemo ou em Os Incríveis, que são filmes da mesma época de lançamento. Mas as crianças vão adorar, e não é para eles que são feitos esse tipo de animação?