[ANÁLISE] Digimon World: Next World chega ao PC e Nintendo Switch com nostalgia e sinais de cansaço

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Desde que Pokémon explodiu no final dos anos 90, surgiram diversas outras franquias que tentavam imitar a fórmula ou surfar nessa mesma onda. Uma das que conseguiu se sobressair e resistir ao teste de tempo foi Digimon, que para alguns, chega a ser melhor que a franquia original.

Enquanto Pokémon ainda é um sucesso absoluto, vendendo milhões de cópias a cada novo jogo lançado, Digimon corre pela lateral com jogos mais contidos e um investimento menor.

Em 2016, o B.B. Studio e a Bandai Namco lançaram no PlayStation Vita o RPG Digimon World: Next Order, que foi portado no ano seguinte para o PS4.

Recentemente, o jogo foi relançado para o Nintendo Switch e PC, permitindo que mais jogadores possam conhecer o título e viver essa aventura no Digimundo, recheada de referências ao passado da franquia.

Será que esse retorno ao jogo foi uma experiência agradável?

A premissa

Em 1999, Digimon ganhou seu primeiro RPG no PlayStation através do título Digimon World, também desenvolvido pelo B.B. Studio.

Alguns anos mais tarde, o estúdio voltou a explorar essa saga através do lançamento de Digimon World: Next Order, que aproveita alguns conceitos do jogo original enquanto atualiza as mecânicas, gráficos, panteão de personagens jogáveis e tudo mais.

Assim como no original, nossa aventura começa com um adolescente sendo transportado para o Digimundo e se deparando com uma ameaça colossal, e apesar de não conhecer aquele lugar ou os personagens que aparecem em seu caminho, tudo indica que nosso protagonista já esteve ali e é um velho conhecido.

Daí em diante, cabe ao jogador encontrar uma forma de eliminar a ameaça que assola o Digimundo e de retornar para o mundo dos humanos.

A jogabilidade

Tal como o Digimon World de 1999, Next World nos coloca no papel de treinar um Digimon a partir do nível bebê, onde devemos melhorar atributos como Força, Sabedoria, Pontos de Mana, Pontos de Vida, Resistência e por aí vai.

Além de poder treinar essas habilidades na cidade principal do jogo, podemos também ir ganhando pontos de experiência ao derrotar os Digimon inimigos que aparecem no mapa, até que chega o momento em que temos atributos suficientes para evoluir.

Mesmo não apostando na mecânica tradicional dos combates por turnos, o jogo segue um padrão de jogos de RPG, onde temos missões principais e secundárias, que se complementam com as batalhas contra inimigos comuns e chefões, assim como exploração e coleta de itens. Vale destacar que o jogo também conta com o gerenciamento da cidade, que vai melhorando e ganhando mais recursos à medida que vamos recrutando novos Digimon aliados.

Embora isso seja interessante à primeira vista, não podemos negar que o jogo tem uma mecânica bem datada para os dias atuais, ainda mais quando se refere ao sistema de grind para melhorar os atributos de seus parceiros.

Um dos pontos mais problemáticos é o fato de você sempre ter que ficar retornando à cidade principal, o que é um tédio, principalmente no começo do jogo, quando você não tem recursos o bastante para comprar o item de viagem rápida (sim, isso também me causou estranheza).

No decorrer da aventura, você vai perceber que todo o seu trabalho para melhorar os atributos de seus monstrinhos será em vão, já que seus parceiros possuem um número limite de dias de vida, o que significa que após um certo período, eles irão morrer e você volta à estaca zero. Mesmo que parte do treinamento e dos atributos da “vida” anterior sejam carregados para a nova geração, é bem frustrante você ter que recomeçar todas as evoluções e ter a sensação de que sua jogabilidade não está avançando.

Quanto ao sistema de evoluções, Digimon sempre deixou bem claro que um monstrinho possui diversas linhas evolutivas, o que significa que por mais que você conheça o inicial que esta escolhendo como parceiro, isso não garante que ele irá se transformar em um Angemon ou algo do tipo. Tudo depende do tipo de treinamento que você oferece ao seu monstrinho, já que cada atributo interfere no tipo de evolução que ele vai ter no futuro.

Vale dizer que, ao avançar na história, é possível encontrar recursos para gerenciar as formas evoluídas de seus parceiros, mas até chegar nesse ponto, você precisará gastar umas boas horas jogando.

Outro ponto que emperra bastante a jogabilidade é a necessidade de gerenciamento de saúde de seus parceiros. Embora isso tivesse sido um sucesso no passado graças ao Tamagotchi (também conhecido como “Bichinho Virtual”) e funcionado no jogo de 1999, em Next Order, temos uma quebra de clima absurda ao ver que precisamos alimentar, dar remédio ou até levar seu parceiro ao banheiro. Tal mecânica só deixa o jogo ainda mais datado e lento.

Os recursos técnicos

Mesmo sendo um jogo de 2016, Next Order ainda é aceitável atualmente em termos gráficos, ainda mais para quem está jogando no Switch, mas em alguns momentos, fica nítido que esse não é um jogo recente, principalmente durante os combates ou ao se locomover pelo mapa com parceiros em estágios finais de evolução.

Andar com um WereGaruromon ao lado chegava a ser engraçado e bizarro ao mesmo tempo, já que seu andar engessado e o tamanho do modelo do boneco não condizem aos demais elementos do cenário.

Quanto à trilha sonora, não espere nada muito marcante, principalmente com o jogo ficando em silêncio absoluto por muitos momentos.

Um ponto que merece ser reconhecido é que tudo está localizado para o inglês, o que já ajuda um pouco a facilitar a jogatina e a deixar o título mais comercial.

Considerações finais

Como um fã de longa data de Digimon, sei de todo o potencial da franquia e como ela pode render um ótimo RPG mais atual e com recursos de ponta, mas não dá para entender o motivo da Bandai Toei investir tão pouco em jogos da franquia.

Ao longo dos anos, Digimon ganhou dezenas de jogos, alguns bons e outros bem ruins, mas fica nítido o quanto a evolução desses jogos é lenta, seja em elementos de qualidade de vida como o sistema de evoluções ou até mesmo na exploração dos mapas. Com alguns ajustes simples, seria possível criar um novo jogo bem interessante para a franquia e que fizesse jus ao que os fãs esperam.

Digimon World: Next Order foi transportado com maestria para o Nintendo Switch, mas não esconde ser um jogo datado e com sistemas precários, o que é uma pena, já que é muito empolgante ir desbloqueando as novas formas de seus parceiros e obter formas que sempre fui fã ao assistir ao anime.

Ainda não sabemos qual será o próximo passo da Bandai em relação à franquia Digimon, mas os Digiescolhidos e os fãs certamente esperam pela experiência definitiva.

*Gostaríamos de agradecer a Bandai Namco e TheoGames por terem nos cedido uma cópia do jogo para esta análise.