[CRÍTICA] A Casa Sombria | Apesar de indeciso, temos aqui um ótimo horror atmosférico

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O cinema passa por sérios problemas de reinvenção, principalmente quando se trata de filmes de terror, que são recheados de clichês e pouco surpreendem o bastante para fazer com que eles se destaquem.

A utilização de estruturas parecidas, que se baseiam na escalada narrativa de forma previsível, faz com que eles pareçam formulaicos, embora seja esperado de filmes do gênero.

A Casa Sombria tem um início interessante, partindo direto da misteriosa morte de Owen (Evan Jonigkeit), o que prontamente apresenta uma estrutura diferente, indicando logo de cara o que talvez seria o principal objetivo do longa: acompanhar o luto de Beth (Rebecca Hall) e como isso afeta sua mente. E, como premissa, o filme precisaria tratar de arrastar esse trauma recente na vida da personagem para o lado sobrenatural, que é proposto no roteiro e é bem o que acontece. O problema é que, apesar de interessante, o filme não decide o que quer fazer.

Ainda que se possa dizer que em um filme assim é possível trazer diversas nuances e até mesmo abordar vários sub-gêneros em uma mistura plausível e interessante, A Casa Sombria torna isso bruscamente heterogêneo e é possível notar exatamente os pontos em que a história muda de uma coisa para outra. Há travessias muito perceptíveis entre a tragédia do luto, história de fantasma, terror psicológico e uso abrupto de clichês, compondo uma história que também precisa de um pouco de esforço de quem assiste pra entender o que está acontecendo.

Mesmo que indeciso, o filme tem méritos. A ambientação é interessantíssima, não só pelo lado do cenário, mas também pelo trabalho de som que executa um papel de destaque na montagem, já que a sonoplastia ressalta vários detalhes para criar uma atmosfera de horror, como o ranger da madeira da casa, as músicas e sussuros que precisam ser entendidos. Tudo isso cria momentos tensos que são crescentes, resultando em alguns jumpscares, que apesar dos pesares, são até que bacanas.

O terror abordado na trama pode trazer questionamentos sobre crenças e até mesmo sobre o quanto algo assim pode interferir na vida dos personagens, abordando a perspectiva do ceticismo. É de extrema importância que se preste bastante atenção aos diálogos, para entender o que está acontecendo na sobrenaturalidade da narrativa e como seus conceitos são aplicados em toda aquela salada tensa, a fim de encontrar justificativas para tudo o que acontece.

A Casa Sombria é um filme interessante, intrigante e emotivo, que apesar de dançar entre seus objetivos e artifícios consegue te prender, o que é indispensável para compreendê-lo.