[CRÍTICA] The Boys – 3ª Temporada | Anda, anda e não sai do lugar

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Considerada o carro-chefe do Prime Video, The Boys foi um frescor deveras interessante para as adaptações de super-heróis na cultura pop. Com sua violência gráfica e personagens complexos e perturbados, a série trouxe duas primeiras temporadas que bombaram ao ponto do serviço de streaming mudar sua estratégia de lançamento de episódios, se distanciando da Netflix com o lançamento de toda a temporada de uma vez e criando uma amálgama entre o lançamento semanal e o completo, que deu extremamente certo.

Agora, a série chega ao seu tão esperado terceiro ano, onde os fãs esperavam ver uma das histórias mais obscenas e bizarras dos quadrinhos de Garth Ennis, o fatídico Herogasm. Além disso, tivemos a chegada de ninguém menos que Jensen Ackles no elenco, o que fazia com que a expectativa estivesse nas alturas para o retorno de Billy Bruto e sua equipe. É uma pena que, embora a série continue sendo um bom entretenimento, ela esteja pecando em algo que ela mesma quis se diferenciar das outras adaptações do gênero… o mais do mesmo.

Só gore e sexo não é o suficiente

Tendo começado com uma premissa original para o cenário de super heróis do momento, The Boys também chocou a todos por sua violência explícita e cenas mais pesadas em relação aos tradicionais filmes da Marvel Studios ou da DC. Agora, com a chegada de outras adaptações que diferem dos dois pilares do universo de heróis, como a excelente Invencível, também do Prime Video, parece que a produção não consegue mais trazer aquele frescor que se tinha na primeira temporada e, pelo menos em partes, na segunda.

Claro que, pelo menos no início, o novo ano consegue sim trazer cenas chocantes e interessantes, se aproveitando das piadocas da internet envolvendo os outros universos de super-heróis para gerar isso, mas esses momentos cômicos e sátiras das situações reais não deveriam ser os únicos pontos positivos da produção.

Ok que, de certo, é interessante a premissa de que agora “Os Rapazes” têm acesso a poderes, algo que poderia sim trazer uma novidade interessante e que elevaria as escalas, mas isso infelizmente é usado de forma pobre e sem risco, servindo mais para só termos mais cenas de cabeças explodindo e tripas saindo do corpo do que para realmente gerar alguma novidade para a atual situação do universo da série. O que senti ao terminar o novo ano é que, por alguma razão, os produtores e roteiristas não querem sair de sua zona de conforto em relação ao status quo de The Boys, e eu explico o porquê…

Uma temporada inteira pra não ter nada de significativo

Embora introduza novos personagens e novas histórias, como falei anteriormente, parece que os produtores de The Boys não querem avançar a trama principal. A apresentação do Soldier Boy de Jensen Ackles era vendida como algo que mudaria completamente a situação da Vought e do Capitão Pátria, mas mesmo com Anthony Starr entregando sua atuação mais pirada até então, não difere muito do que foi apresentado anteriormente.

Não me entenda mal, o Soldier Boy e o grupo Payback é uma ótima sátira com Os Vingadores, mas no âmbito maior da série, parece que ele seria melhor utilizados como uma sub-trama em um ou dois episódios e não como a principal questão do novo ano. Junte isso ao fato dos próprios Rapazes não terem muita mudança do que já foi apresentado anteriormente e temos a sensação que descrevi no título dessa crítica. Parece que The Boys anda, anda e anda… Mas não quer sair do lugar.

Até o tão falado Herogasm, um arco extremamente ridículo e bizarro do material original, parece subaproveitado, especialmente após os diversos comentários durante a campanha de marketing da série sobre o quanto ele seria chocante. Os mais conservadores e puritanos certamente devem se chocar com algumas situações do evento, mas quem está acostumado com as bizarrices de The Boys não irá se impressionar muito.

Essa decepção talvez seja fruto de uma expectativa criada pela própria plataforma e com base no que vimos nos quadrinhos, mas de qualquer forma, fica claro que esse evento não passou de uma ferramenta de marketing, não tendo um propósito real para a trama e que poderia ser facilmente descartado.

Falando em algo que não atende às expectativas, é notável a vontade dos produtores de não sair da zona de conforto quando vamos ao grupo protagonista. Billy Bruto continua inconsequente e com sede de vingança, mas com um pouco de bondade no fundo do coração, Hughie continua o coração da equipe, tentando ser útil de alguma forma, mesmo que as vezes não seja do melhor jeito, Leitinho ainda é aquele que põe as rédeas em todos os companheiros, Francês ainda é o cara das bugigangas com passado triste  e Kimiko ainda é a assassina silenciosa. Tem problema nisso? Logicamente não, mas eles são isso e apenas isso desde a primeira temporada. Não há nenhum, repito, nenhum desenvolvimento dos personagens. Eles começam e terminam no mesmo lugar, mesmo que conflitos sejam estabelecidos.

O mesmo vale para a Vought e os heróis. Embora haja a tentativa de dar um desenvolvimento para o Capitão Pátria, que a todo momento parece estar sucumbindo ainda mais à sua loucura interna, ainda parece não sair do mesmo lugar onde começou no início da terceira temporada.

Além disso, considero um erro terem canonizado o episódio entre o personagem e o Black Noir na animação Diabolical, pois existe a tentativa de tornar os dois personagens mais próximos ou íntimos, mas se você não tiver assistido a animação, isso não vai funcionar. Nem mesmo a Rainha Maeve e a Luz Estrela, que tiveram um desenvolvimento considerável no último ano, parecem aproveitadas corretamente.

Mesmo decepcionado, ainda me diverti.

Ao final da temporada, mesmo com tudo o que citei, The Boys ainda é um bom divertimento no meio de todos esses produtos baseados em quadrinhos e em super-heróis. Jensen Ackles foi um acerto e tanto e embora continuem iguais a antes, o grupo de Billy Bruto e os membros dos Sete têm carisma o suficiente para fazer com que o público releve os problemas da série. O gore e o fator pandemia, também podem ser um artificio funcional, afinal, após todo esse tempo, é bom retornar a esse universo completamente quebrado e bizarro, que se assemelha muito ao nosso, nos dando uma chance de rir da desgraça que tudo ao nosso redor se tornou.

Uma coisa para mim é certa, The Boys precisa encontrar uma forma de avançar sem parecer que está fazendo isso vagarosamente. Está na hora da história andar e os acontecimentos terem consequências reais em relação aos personagens principais, se não… melhor começar a pensar no que toda série devia fazer quando não sabe o que fazer: acabar.