Não, Brie Larson e Capitã Marvel não estão sendo “forçadas”

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Desde antes de Capitã Marvel chegar aos cinemas, vemos uma verdadeira comoção por parte dos fãs de filmes de super-heróis e fãs de cultura Pop em geral, que se opõe ao fato da personagem ser apresentada como a heroína mais forte do Universo Cinematográfico Marvel, alcunha dada à ela pelo próprio Kevin Feige, presidente da Marvel Studios.

Muito da oposição à heroína, se deve ao fato de grupos extremistas norte-americanos terem se sentido ofendidos com o fato de sua intérprete, Brie Larson, ter declarado que gostaria de ver mais diversidade por parte dos jornalistas durante a turnê de divulgação do longa, o que foi o suficiente para que distorcessem suas declarações e fizessem com que parecesse que ela estava praticando “racismo-reverso”(?).

Como um jornalista que se dedica exclusivamente à cobertura de eventos relacionados a filmes, jogos, séries e tudo o mais que cerca a cultura Pop, devo ressaltar que a declaração de Larson está correta, já que, em meio a tantos eventos que frequento como resultado dessa profissão, sempre me vejo cercado por um padrão formado por homens brancos. Isso é um padrão da indústria, porém não significa que devemos deixar da maneira que está.

A cultura Pop remete a algo popular, que quer dizer abranger todo o público, ou seja, o que impede de vermos profissionais que são mulheres ou de outras etnias participando de tais eventos?

Embora o filme solo da heroína tenha sido um sucesso comercial, todo o ódio direcionado à atriz e à personagem não acabou, na verdade, ele só piorou com a campanha de divulgação de Vingadores: Ultimato, próximo filme em que veremos a heroína.

Como era de se esperar, Larson se uniu aos atores que representam os seis Vingadores originais para participar da campanha de divulgação do longa ao redor do mundo, mas como é de praxe, os atores se dividem ao longo da turnê para que possam cobrir uma gama maior de países, evitando conflitos de agenda.

Esta semana, aconteceu um evento na Coréia que contou com a presença de Larson, do já veterano Robert Downey Jr., dos diretores Joe e Anthony Russo e do próprio Kevin Feige. No fim do evento, os fãs se organizaram para homenagear e agradecer os Vingadores. A reação de Larson e de Downey Jr. foi impagável, onde ambos se mostraram maravilhados e emocionados com a situação, realmente gratos pelo que estavam presenciando.

Por mais bonito e genuíno que o momento tenha sido, muitos fãs detestaram ver Larson sendo prestigiada, afirmando que “ela não merecia aquilo por não ser uma Vingadora raiz”, ou que “ela havia acabado de chegar e já queria sentar na janelinha.” Primeiramente, devemos nos lembrar que Larson estava lá a pedido da Marvel Studios e sendo paga para isso, ou seja, ela não se ofereceu e tampouco estava ali para roubar os holofotes de qualquer outro ator da franquia.

Em segundo lugar, de acordo com os próprios filmes da Marvel, os Vingadores só se chamam Vingadores por conta do encontro entre Nick Fury e Carol Danvers, ou seja, ela merece tanto reconhecimento quanto qualquer outro ator do primeiro filme da equipe e você precisa aceitar isso.

Outro ponto polêmico, foi quando em uma das entrevistas do filme, Chris Hemsworth, o Thor, disse que Larson “estava se tornando a próxima Tom Cruise” por ter feito suas próprias cenas de ação. Incomodada com a comparação, Larson respondeu que “estava se tornando a próxima ela mesma.”

Isso foi o suficiente para diversas pessoas a chamarem de arrogante, insulta-la e usarem palavras de baixo calão. Ao pararmos pra pensar, a atriz está certa em não aceitar ser comparada com outro ator, ainda mais com um ator masculino, já que ela é uma mulher. Hollywood é uma indústria extremamente desfavorável para mulheres, que são hiper sexualizadas, recebem salários muito menores do que os homens, não recebem boas oportunidades de dirigir filmes de grande orçamento e, geralmente, são vistas como personagens coadjuvantes que ficam à sombra do ator principal.

Nos últimos anos, isso tem mudado gradativamente, dando às mulheres o devido destaque e Larson está certa em querer ficar famosa por ela mesma sem ter que ser comparada à outra pessoa. Como exemplo básico, podemos citar a clássica história onde todo mundo detesta ser comparado com o primo mais bem-sucedido. Enquanto alguns enxergam como uma honra ser comparado ao Tom Cruise, a atriz está no direito dela de querer se destacar por si só.

Por fim, mas não menos importante, devemos ressaltar que, por anos, Tony Stark foi “forçado” dentro do Universo Cinematográfico Marvel, chegando ao ponto de até mesmo superar a liderança do Capitão América, mas isso nunca foi um problema muito grande para os fãs, aliás, muitos já choram com a possibilidade de ter que se despedir do Capitão América, de Stark ou do Thor, mas se esquecem que tais personagens já estão em destaque há mais de 10 anos.

Além disso, em 11 anos de Marvel Studios, a Capitã Marvel foi a primeira heroína a ganhar um filme solo, nem mesmo a Viúva Negra, que era considerada uma das Vingadoras originais, ganhou tal destaque, o que mostra o quão deficiente esse universo estava em termos de destaque feminino.

Todos temos o direito de não gostar de algo ou de algum personagem, nem tudo é perfeito e está tudo bem, contudo, o que tem sido feito com Brie Larson e com a Capitã Marvel nos últimos meses não passa de uma birra infantil para provar que elas não merecem ganhar destaque.

A Marvel está em uma nova fase, muitos dos atores originais já estão cansados de interpretar os personagens por tanto tempo e precisam buscar novos ares, isso é normal em qualquer grande franquia de cinema – temos que nos lembrar que eles também são seres humanos. A nova fase da Marvel está cheia de possibilidades incríveis, ainda mais com a recente fusão da Disney e Fox, que garante a aparição de personagens como X-Men e Quarteto Fantástico nesse universo tão rico e diversificado.

A Capitã Marvel é apenas uma parte de tudo isso e todo o legado que foi construído ao longo dos últimos anos será continuado por ela e pelos novos personagens que virão. O fato dela assumir a linha de frente desse universo não significa que o que aconteceu no passado será apagado, pelo contrário, ele ainda estará lá e você pode assistir novamente sempre que quiser.