[ANÁLISE] Call Of Duty: Modern Warfare | Missão cumprida e com louvor!

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Gostando ou não, a franquia Call Of Duty escreveu seu nome na história com jogos que são sucesso tanto de crítica quanto de público. Anualmente, a saga conquista seu lugar nos títulos mais vendidos e atrai novos jogadores constantemente, formando uma base bem fiel e sólida. De uns anos para a cá, para fugir do marasmo, a série começou a inserir mudanças bruscas não só na temática, indo ao futuro, mas também na sua jogabilidade. Em 2014, vimos Advanced Warfare com seus soldados usando exoesqueletos com pulos duplos e firulas diversas e em Black Ops 3, as coisas tomaram proporções maiores com operadores capazes de correr pelas paredes e com poderes que mudavam as partidas constantemente. Devido à essa nova abordagem ousada, os jogadores que conheceram a saga nos títulos clássicos, começaram a sentir que os jogos estavam perdendo a mão e distanciando-se do realismo e das partidas mais “pé no chão”.

Até 2019, o Call of Duty: Modern Warfare original habitava a memória de muitos, tanto por seus modos solo e multijogador, quanto por sua história, principalmente por sua proporção épica, reviravoltas e personagens carismáticos, como o admirado Capitão Price e o misterioso Ghost.

A Infinity Ward, ouviu o apelo dos jogadores mais antigos e ao tentar manter a base fiel, mas ao mesmo tempo trazer novos jogadores, decidiu optar pelo ambicioso projeto de fazer um reboot da série Modern Warfare, trazendo todo o realismo de volta, acompanhado de mudanças que prometem torná-lo o maior Call Of Duty já feito.

História             

A trilogia original ficou conhecida por ter uma das narrativas mais explosivas e dramáticas de todos os tempos, cheia de momentos memoráveis e polêmicos. Quem não se lembra da missão “No Russian” em que o jogador deveria participar de um atentado terrorista num aeroporto de Moscou fuzilando civis? A série nunca teve medo de tocar em assuntos delicados ou chocar o jogador com acontecimentos violentos e nesse novo título, não seria diferente. Uma grande mudança em relação aos títulos anteriores é a forma com que as cenas da história são mostradas, onde a tradicional visão em primeira pessoa é deixada de lado para apresentar um forma mais cinematográfica, em terceira pessoa, onde detalhes da trama são revelados e iremos conhecer mais dos personagens, entendendo como os eventos da campanha irão mudá-los para sempre.

A campanha de Modern Warfare (2019) mantém a linha cheia de ação, mas desta vez nos leva a refletir sobre a violência cometida no mundo utilizando o pretexto para defendê-lo. Em diversos momentos, o jogador vê-se de frente em situações delicadas e que deve pensar rápido e o jogo irá respeitar a sua decisão, independente de qual seja. Por exemplo, em uma missão devemos investigar uma casa que, segundo informações de inteligência, serve como base para terroristas e ao infiltrar-se com seu time eliminando eventuais ameaças, você ficará de frente com uma mulher que irá correr para um berço. Você irá eliminá-la por ela ter feito um movimento brusco ou irá esperar, arriscando a sua vida e a do seu time, para ver o que ela foi buscar no berço? Independente do que você fizer, o jogo irá respeitar a sua escolha e você deverá viver com ela. Espere ver diversas cenas chocantes com crimes de guerra tenebrosos que irão mexer com as pessoas mais sensíveis e decisões dos próprios protagonistas que são duvidosas e os colocam numa linha cinza entre heróis e vilões, mas diante da situação desesperadora, são necessárias. Como foi dito no trailer pelo Capitão Price “nós nos sujamos para que o mundo fique limpo” e essa é a melhor forma de definir como o jogador deve encarar a campanha.

No decorrer do campanha, iremos conhecer os dois protagonistas principais: o agente da CIA Alex e o sargento britânico Kyle Garrick. Alex está numa operação no Urziquistão, que foi dominado pelas forças russas há décadas e está mergulhado em uma sangrenta guerra civil com os Estados Unidos ajudando a resistência local que tem como líderes os irmãos Farah e Hadir. Após um violento atentado na Piccadilly Circus, um ponto turístico de Londres, Kyle deve chegar até os culpados e terá ao seu lado o famoso Capitão Price na missão. O desenrolar da trama irá fazer com que as missões de Kyle e Alex conectem-se de forma bem interessante.

Por mais que a campanha seja uma das melhores já feitas na história da franquia, ela acaba sendo muito curta, durando cerca de 6 a 8 horas, dependendo da sua habilidade e dificuldade escolhida dentre as 14 missões do jogo. Um ponto positivo é a variedade de situações e apetrechos que você irá utilizar durante a aventura, fazendo com que ela nunca se torne cansativa ou monótona. O ato final passa uma sensação de correria para resolver a história principal apresentada no jogo, mas deixa diversas brechas para a sequência. Ao terminar, se você jogou a trilogia original, prepare-se para abrir um sorriso com as surpresas que irão surgir na tela.

Multijogador

A razão do sucesso da franquia é justamente o modo multijogador, onde é notável o cuidado que a Infinity Ward teve, tentando agradar os jogadores antigos e atrair os novos, trazendo uma variedade de modos para os diversos gostos. Para aqueles que gostam de uma experiência mais tradicional, o mata-mata em equipe irá agradá-los, que agora tem opção de  comportar 20 jogadores. Temos também o modo dominação, em que é necessário que haja o trabalho em equipe para tomar e controlar pontos de interesse para obter a vitória e para aqueles que apenas querem ver o circo pegar fogo, irão divertir-se no contra todos, podendo atirar em tudo o que passar pela tela e ninguém é amigo de ninguém.

A grande novidade agora fica por conta do promissor modo Guerra Terrestre, que permite que 64 jogadores duelem entre si, divididos em equipes de 32 integrantes, em um mapa enorme contando com a presença de veículos e incentiva o trabalho em equipe constantemente. Ao iniciar a partida, os jogadores estarão na própria base e deverão disputar pontos de controle espalhados pela área e dominar-lós renderá pontuações e a equipe que atingir determinada pontuação, obterá a vitória. É realmente incrível a sensação que o jogo passa de conflito de grande escala e com momentos épicos, além do nível de detalhes do mapa.

O modo atirador é uma novidade peculiar com um clima bem semelhante a um duelo de velho oeste. Duas duplas são lançadas em mapa pequeno com armas pré-selecionadas e deverão dar cabo dos inimigos, em rounds. As partidas são muito rápidas e qualquer deslize mínimo irá causar uma derrota.

A movimentação no multijogador segue a tradicional linha da série, fluida e rápida, mas a maior diferença fica por conta dos mapas. Nos modos clássicos, os mapas estão muito maiores e mais detalhados, rendendo passagens diversas e até posições privilegiadas para franco atiradores. Essa decisão de mudar o estilo das locações, também impacta diretamente o ritmo de jogo. Antigamente, os jogadores saíam em alta velocidade atirando em seus oponentes e com uma certa previsibilidade de onde os inimigos iriam surgir. Desta vez, não basta ser rápido e sim utilizar a cabeça. Botar o corpo num campo aberto sem olhar da cobertura antes de avançar fará com que você seja alvejado, frequentemente. Para aqueles que insistirem em não adaptar-se a nova jogabilidade mais tática, serão premiados com a frustração de morrerem inúmeras vezes. Como o realismo foi o norte do jogo, era notável que os mapas também receberiam esse trabalho. O respawn, ato de renascer após morrer, está com problemas. Não é comum o jogador aparecer logo na frente de um oponente ou cair bem do lado de um claymore, que é uma mina que detona por aproximação, rendendo frustrações. Felizmente, isso não acontece com tanta frequência mas a Infinity Ward já está trabalhando numa solução.

Num jogo de tiro, é fundamental que as armas recebam um trabalho adequado e aqui, não foi diferente. O jogador terá um arsenal enorme ao seu dispor, que irá ditar o seu estilo no combate. Usar uma arma constantemente irá fazer com que ela ganhe níveis, liberando acessórios muito úteis que permitirão um pente maior ou uma mira mais eficiente e estável. Cada arma é única e você irá perceber o comportamento das mesmas durante a jogatina. Testar cada uma e ver qual você sente-se mais confortável é divertido e quanto mais partidas jogar, mais armas irá liberar, incentivando que você sempre esteja fazendo uma visita aos armamentos e pegando um brinquedo novo.

Modern Warfare retorna com a liberdade de você criar a classe de seu personagem do jeito que quiser. Escolha duas armas e seus acessórios, granadas, vantagens e uma habilidade que poderá ser uma caixa de munição para abastecer você mesmo e seus amigos ou fazer com que seus passos sejam silenciados, tornando-se impossível de ser ouvido pelos inimigos. Outro elemento amado que retorna são as killstreaks, em que eliminar um determinado número de inimigos irá render desde helicópteros de reconhecimento para saber a localização dos inimigos ou um bombardeio para limpar a área de eventuais oponentes. Esses “presentes” podem ser escolhidos de acordo com o gosto do jogador na criação da classe. A medida que o jogador ganhar níveis, mais opções estarão disponíveis, então, vale a pena sempre estar vendo o que há de novo e buscar uma opção que melhor enquadre no seu estilo, seja dando apoio ao seu time fazendo reconhecimento do mapa ou causando destruição intensa com a armadura Juggernaut que vem acompanhada de uma metralhadora giratória.

Um grande ponto positivo é que todos os itens e armas podem ser obtidos somente jogando, nada de loot boxes ou microtransações bloqueando coisas únicas, obrigando o jogador a botar a mão no bolso e utilizar dinheiro real. Por falar em dinheiro real, a abolição do Passe de Temporada foi uma decisão acertada que deve servir de exemplo a todas as empresas, onde a comunidade não será mais dividida por conteúdos.

Spec Ops

Um dos modos mais queridos de Modern Warfare eram as operações especiais, modos extras cooperativos em que você deveria completar objetivos junto de outros jogadores. Aqui, elas retornam e você poderá usar a mesma classe criada no multijogador e inclusive, a experiência de ambos os modos é compartilhada. Ao longo do tempo, mais missões serão adicionadas gratuitamente, o que é outro ponto positivo. Devido a temática de realismo, o modo zumbi foi deixado de lado.

Inicialmente, temos 4 missões que continuam a história da campanha e não entram muito em detalhes. Temos um breve vídeo de apresentação da missão e iremos nos juntar a mais 3 jogadores para completar objetivos que irão desde matar tenentes inimigos para roubar pendrives ou hackear estações fortemente defendidas por inimigos. Caso você caia, deverá ser reanimado por um jogador amigo em um determinado tempo. Se você morrer, deverá esperar até surgir novamente no mapa. Caso todos os jogadores morram, a missão termina e você deve começar tudo de novo. A ideia é boa, mas a execução peca pela falta de objetividade em cenários grandes vazios. Diversas vezes, você irá sentir que a missão está te “enrolando”, fazendo com que você ande em círculos, para que dure mais e torne-se cansativa e chata. O gosto fica ainda mais amargo devido as promessas da desenvolvedora de que o modo seria espetacular como nos jogos da antiga trilogia mas a realidade é que não consegue chegar nem perto.

Dentro do modo cooperativo, há uma outra opção que segue a linha mais de defesa, sem ter relação com as missões em que você é jogado em um mapa sem itens e deverá armar-se com o que encontrar no local e junto de 4 jogadores, sobreviver a ondas inimigas que irão aumentando o grau de dificuldade a medida que o tempo passa. O modo é confuso e parece ultrapassado, destoando das missões mais trabalhadas. A impressão que dá é que ele foi colocado de última hora, como um “agrado” devido ao verdadeiro modo Sobrevivência ser exclusivo do Playstation 4 por um ano, o que gerou reações negativas dos fãs. É difícil entender como um modo tão inacabado foi lançado junto do jogo, que tem uma campanha e o multiplayer tão bem trabalhados.

O modo inteiro Spec Ops passa uma sensação de que precisava de mais tempo para ser polido e testado. Talvez, deveria ter sido lançado numa data mais a frente e uma outra coisa desagradável é que terminar as missões sequer dá alguma recompensa agora, com um aviso de que só serão desbloqueadas mais tarde em Novembro.

Gráficos, Som e Performance

Modern Warfare é o Call Of Duty mais belo de todos graças a nova engine que faz com que efeitos de luz e fumaça sejam extremamente realistas, além das feições de todos os personagens. Os gráficos, tanto da campanha quanto do multijogador, são muito bem detalhados e contribuem para a imersão na aventura. A versão dos consoles padrões não faz feio e consegue rodar o jogo mantendo as framerates estáveis sem comprometer o ritmo do jogo, até mesmo nas partes cheias de personagens e explosões para todo lado. As cutscenes da campanha são belíssimas, mas sofrem com stuttering, que são pequenos travamentos de poucos segundos. Infelizmente, elas ocorrem várias vezes e incomodam, mas não são graves ao ponto de inviabilizar a experiência por serem muito rápidas. Como os desenvolvedores já estão cientes, um patch de correção não demorará a ser disponibilizado.

A Infinity Ward merece aplausos pelo trabalho sonoro no jogo. Começando pela trilha sonora, a compositora Sarah Schachner apresenta uma seleção de músicas orquestrais deslumbrantes que conseguem captar desde os momentos mais épicos até os mais dramáticos, casando perfeitamente com a campanha.  No campo de atuação e efeitos sonoros, a imersão é incrível pelo cuidado que teve-se em todos os detalhes. As atuações dos atores, tanto na versão original quanto dublada, destacam-se pela sua qualidade soberba. Durante as partidas multijogador, até passos podem ser ouvidos, tornando a experiência muito mais tensa pois poderá revelar a sua posição para o oponente, caso você esteja tentando esgueirar-se e pegá-lo de surpresa. Para aproveitar melhor a experiência, é recomendável usar um headset.

Um dos recursos prometidos que era mais aguardado entre os jogadores é o crossplay, onde pessoas em diversas plataformas poderiam jogar juntas. No dia 25 de Outubro, lançamento oficial do jogo, os servidores não estavam funcionando bem e acabaram caindo por não suportarem o volume imenso de jogadores. Felizmente, medidas foram tomadas rapidamente e o jogo manteve-se estável desde então. Outros problemas como jogo fechando e voltando para tela inicial foram relatados, mas a desenvolvedora esteve ciente e trabalhou rapidamente para resolvê-los.

Considerações Finais

Modern Warfare é um reboot produzido do jeito certo e que devido ao trabalho espetacular da Infinity Ward, consegue reconquistar os velhos fãs da franquia e os atuais, além do grande potencial de continuar trazendo novos. Abraçar o realismo foi uma escolha acertada que rende bons frutos, principalmente na campanha, com uma trama séria e dramática, cheia de ação do jeito que os fãs esperavam. O modo multijogador mantém a identidade da franquia, mas com mapas mais trabalhados que irão requerer atenção e inteligência dos jogadores ao avançar, além do trabalho em equipe e com a novidade do modo ambicioso Guerra Terrestre, que funciona muito bem, dá uma dinâmica nova a série. A decepção fica por conta do modo spec ops, que não consegue manter o nível do resto do jogo e acaba sendo frustrante.