[ANÁLISE] Call of Duty: Vanguard | Um excelente multiplayer e uma campanha…

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Podemos dizer que todo fim de ano reserva dois acontecimentos obrigatórios e empolgantes para seus respectivos fãs: o especial de fim de ano do cantor Roberto Carlos e um novo título da aclamada – e bilionária – franquia Call of Duty. Vanguard é o décimo oitavo título da série, uma marca digna de aplausos, que vem sob a tutela da Sledgehammer Games, conhecida por WWII e Advanced Warfare.

É fato que o título anterior da franquia não caiu nas graças do público como se esperava, mesmo utilizando o nome Black Ops, por não adotar as novidades das mecânicas de Modern Warfare (2019), que representaram um marco na franquia por tentar injetar novo fôlego e ideias ousadas, incluindo uma dose tática nos confrontos, sem perder a clássica sensação de ação frenética, algo que deu muito certo.

Call of Duty: Vanguard chega prometendo entregar o pacote mais robusto da franquia até hoje e trazer a série de volta aos trilhos e cair nas graças dos fãs, algo que não é fácil. Será que a Sledgehammer conseguiu este feito?

Vingadores da Segunda Guerra

A campanha de Vanguard é ambiciosa em seu escopo e conta com boas ideias: não temos um protagonista tomando a frente da história e sim, uma equipe formada por soldados aliados de diferentes nacionalidades, inspirados em figuras históricas reais, em uma missão desesperada para tomar planos ultrassecretos dos nazistas e derrubar o regime de uma vez por todas.

Cada soldado tem uma particularidade e habilidade que o torna de suma importância na equipe. Por exemplo, temos o tenente piloto da marinha americana Wade Jackson com seu jeitão canastrão e rebelde que não hesita em pegar seu avião para completar a missão, mesmo que isso possa custar a sua vida.

Temos também Polina Petrova, conhecida pela alcunha de “Dama da Morte”. Polina é uma franco atiradora do exército soviético que nutre um sentimento de ódio e vingança intenso pelos nazistas e acaba entrando para o esquadrão ao ser recrutada por Arthur Kingsley, o líder. Arthur é integrante das forças especiais britânicas e tem o respeito de seus companheiros pela sua liderança durante uma das operações cruciais para sucesso do desembarque das tropas aliadas na Normandia, o evento histórico conhecido como o Dia D.

O grande problema da narrativa de Vanguard fica na forma como ela é contada. Você começa com seu esquadrão já no meio de uma missão e o jogo fica intercalando entre cinemáticas do tempo atual da trama e flashbacks de missões que contam a história de cada um dos soldados do time principal ao redor do mundo, em momento cruciais da Segunda Guerra.

Essa decisão vai tirando o senso de urgência da narrativa e vai tornando a experiência cansativa e enfadonha, mesmo que os personagens tenham histórias interessantes, já que a trama principal anda lentamente até a sua conclusão.

Por mais que história preze pelo realismo, sendo mais pé no chão, seus vilões são representados de forma caricata, fazendo caretas de mau e falando frases prontas, sem nenhum peso. Teria sido a chance perfeita para explorar o quão monstruoso foi o regime nazista e suas atrocidades.

A trama pode ser terminada entre 5 a 7 horas, o tempo padrão das campanhas da série, e mesmo sendo inferior à dos últimos jogos, consegue divertir e trazer bons momentos, mas dificilmente ficará entre as mais memoráveis da franquia.

Confrontos intensos e caóticos

A maioria esmagadora compra Call of Duty pelo seu tradicional modo multijogador, esperando uma experiência divertida, mas que não fuja do padrão da série. Vanguard entendeu bem esse conceito e não teve a pretensão de inventar nada ousado, mas quis pegar o que funcionava anteriormente e melhorar, além de novidades bem-vindas.

Caso você seja fã de Modern Warfare (2019), já pode ficar feliz: Vanguard a usa a mesma engine, fazendo com que ele soe extremamente familiar, mas sem ser uma cópia vagabunda. A corrida tática retorna, junto da habilidade de poder apoiar-se em cantos para tirar com maior precisão.

Um novo elemento de jogabilidade é o fogo cego. Basicamente, ao encostar em alguma cobertura próxima o suficiente, ao apertar o botão de disparo, seu personagem irá colocar a arma e disparar sem se preocupar com precisão. Particularmente, não fez grande diferença em minha jogatina pelo multijogador, apenas na campanha. É muito difícil algum jogador ficar plantado na sua frente para conseguir atingi-lo desta forma.

A novidade que mais me agradou é a possibilidade de escolher qual o ritmo de jogo eu quero, por meio de um filtro na busca de partidas. Com isso, eu posso escolher o número de jogadores na minha partida.

Há o modo Tático com 6 vs 6 jogadores para uma experiência mais clássica, o modo Assalto com 10 vs 10 ou 12 vs 12 jogadores para uma experiência mais robusta e com mais ação e o modo Blitz, que coloca 24 vs 24 jogadores em uma experiência totalmente caótica, frenética e explosiva, semelhante ao modo Guerra Terrestre de Modern Warfare (2019), mas nos mapas comuns.

Há também a opção para deixar o jogo decidir aleatoriamente qual será o ritmo de jogo, o que achei mais divertido, na maior parte das vezes. A questão é que nem todos os mapas funcionam bem nesse esquema.

Mapas pequenos acabam virando um festival de confusão – no mau sentido – quando caem no ritmo Blitz, resultando em renascimentos problemáticos em que os jogadores reaparecem na frente de um oponente pronto para eliminá-lo. O contrário também aparece, você pode estar andando e de repente, renascer um jogador inimigo bem na sua frente.

Vanguard possui uma quantidade incrível de conteúdo para o seu lançamento. O jogo conta com 20 mapas no total, sendo que 4 são reservados ao novo modo “Batalha dos Campeões” em que duplas ou trios possuem vidas limitadas e devem lutar para se manter como o único time vivo no final da partida. Este modo requer que seu parceiro ou dupla jogue de forma coordenada e funciona melhor com amigos e em comunicação constante.

O novo modo Patrulha é o que mais me agradou, dentre as novidades, e rendeu vários momentos divertidos. Neste modo, uma zona ficará continuamente se movendo pelo mapa e obrigará os jogadores a dominá-la e prosseguir junto dela para ganhar pontos. Enquanto isso, o time inimigo deverá fazer de tudo para reivindicá-la, rendendo altos tiroteios e momentos tensos.

Os outros modos incluem os tradicionais mata-mata em equipe, dominação, zona de conflito, contra todos, localizar e destruir e baixa confirmada, velhos conhecidos dos fãs. A opção de filtrar quais modos de jogo escolher na busca retorna e mostra-se útil. Por exemplo, eu não suporto o modo localizar e destruir e pelo filtro, posso marcar quais modos desejo jogar e removê-lo das minhas jogatinas.

Os mapas de Vanguard são bem superiores aos últimos títulos, principalmente aos dois últimos títulos. A Sledgehammer entendeu perfeitamente a necessidade dos jogadores: mais ação e confrontos diretos e menos jogadores escondidos pelos cantos.

A verticalidade dos mapas aparentava que os franco atiradores, vulgo campers, fariam a festa, mas na prática isso não ocorre. Encontrei pouquíssimas pessoas nessas posições e as partidas sempre fluíam bem, regadas a tiroteios intensos e explosões para todo lado, tudo o que um fã de Call of Duty espera da série.

O time-to-kill, ou seja, tempo que o jogador leva para morrer ao tomar uma saraiva de tiros é curto, menor até do que em Modern Warfare (2019). Isso pode irritar alguns jogadores e passar a sensação de que é mais fácil morrer do que matar, o que não deixa de ser verdade. Vanguard não tolera erros dos jogadores e pode parecer frustrante do início, mas depois que você pegar o jeito, verá que isto não é um problema.

Desta vez, Vanguard não usa um sistema de facções para separar as skins dos operadores, como os títulos anteriores. Anteriormente, ao ver a skin de seu oponente, você saberia automaticamente se aquele jogador era seu aliado ou não, podendo enchê-lo de tiros rapidamente.

Aqui, por causa da história, os jogadores dispões dos mesmos operadores, em ambos os times, sendo a única diferença um ponto vermelho e o nome escrito na mesma cor em suas cabeças. Eu confesso que isso me atrapalhou no início, mas eu acabei me acostumando após umas partidas e deixou de ser um incômodo.

A função de customização de armas, chamada de armeiro, retorna melhor do que nunca, permitindo que o jogador não tenha limitações na hora de escolher o equipamento para sua arma, permitindo combinações interessantes e divertidas que irão agradar todos os tipos de jogador.

O jogo utiliza as scorestreaks, isto é, séries de baixas sem morrer que liberarão uma habilidade especial ao atingir metas, como por exemplo chamar uma matilha de cães ao conseguir matar 10 jogadores em sequência ou usar um lança-chamas que irá derreter tudo em seu caminho ao eliminar 7 inimigos em sequência.

Os mortos-vivos retornam

Um dos modos mais tradicionais dos últimos anos também marca presença em Vanguard. A Treyarch, marcada pelos melhores modos Zumbis da franquia, ficou responsável pela nova entrada da série e não deixa a desejar, como era de se esperar. Porém, com algumas novidades e mudanças. A trama funciona como um prelúdio para o capítulo Dark Aether de Cold War.

Desta vez, o modo tem algumas influências roguelike e do modo Outbreak de Cold War, que funcionam muito bem. Os jogadores deverão enfrentar uma ameaça demoníaca, utilizando poderes sobrenaturais, como uma tempestade de gelo e um anel flamejante, enquanto enfrentam hordas de mortos-vivos.

Desta vez, o modo possui uma espécie de base em que os jogadores podem se preparar e interagir antes de partirem em missões variadas, como escoltar um artefato mágico, matar inimigos por itens ou sobreviver a um ataque ao acabar o tempo. As missões ficam em portais distribuídos que os jogadores poderão escolher.

Por mais que as ideias não representem nenhuma novidade, são bem feitas e funcionam muito bem na proposta e renderão horas de diversão para os jogadores, principalmente se estiverem jogando com amigos.

Belas paisagens entre a destruição

Call of Duty: Vanguard roda em resolução 4K e 60 quadros por segundo no PlayStation 5 sem maiores dificuldades. Graficamente, ele não impressiona, mas tem gráficos bonitos, que cumprem a sua proposta. A performance é impecável, salvo por alguns bugs raros de iluminação e problemas de carregamento de texturas.

Na campanha, alguns NPCs aparecem com aspecto de bonecos de cera, mas isso é raro, com maior destaque na missão da Batalha de Stalingrado em que Polina interage com os habitantes da cidade e há um volume maior de NPCs.

Em contrapartida, os gráficos no multijogador são bonitos, densos e detalhados, produzindo pelas paisagens que servem como um cenário incrível para os confrontos. Algumas partes dos cenários são destrutíveis, como portas, janelas e paredes, mas está muito longe de ser algo como na série Battlefield e apenas servem como uma espécie de abertura de rotas alternativas dinâmicas, porém discretas.

Geralmente, a série Call of Duty sofre com sérios problemas no lançamento de servidores, fazendo com que jogar o multijogador seja uma experiência frustrante. Eu lembro da minha frustração ao tentar jogar Modern Warfare (2019) e Cold War (2020) ao ser expulso de partidas e com os servidores caindo sem aguentar o fluxo intenso de jogadores.

Felizmente, o jogo está muito bem polido nesse aspecto. Mesmo com horas e mais horas no multijogador, não vivenciei nenhum tipo de lag, queda da partida ou demora para encontrar jogos. Nessa área, a Sledgehammer merece uma salva de palmas.

O Dual Sense é utilizado de forma discreta, mas darei um conselho: desative-o para jogar o multijogador. A resistência dos gatilhos fará com que você perca segundos preciosos de reação, levando-o à morte constantemente.

Na parte sonora, Vanguard faz um trabalho incrível em captar toda a atmosfera de guerra e conflitos intensos, com sons realistas que contribuem para uma maior imersão. A trilha sonora épica também ajuda em criar uma atmosfera incrível.

No multijogador, há um bug sonoro que acontece com certa frequência. Ao morrer, caso aperte para renascer imediatamente, seu personagem ainda estará dando o grito agonizante da morte anterior. Pode ser hilário no início, mas com o tempo acaba sendo irritante.

Vale a pena?

Call of Duty: Vanguard entrega o que a maioria dos jogadores da franquia espera: um multijogador robusto, divertido e repleto de ação, utilizando tudo o que deu certo nos jogos anteriores e adicionando pitadas de novidades muito bem-vindas. Por mais que a campanha deixe a desejar em alguns aspectos e o modo Zumbi possa soar limitado pela falta de conteúdo, Vanguard faz o dever de casa em seu multijogador e fará a alegria dos fãs até o próximo título da série.

*O jogo foi testado no PlayStation 5 e agradecemos a Activision por nos ceder uma cópia para análise.