[ANÁLISE] Outriders | Uma mera cópia de Destiny e Gears of War?

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A desenvolvedora polonesa People Can Fly, muito conhecida por Gears Of War e Bulletstorm, começou a produzir Outriders em 2015 e, após um acordo com a gigante Square Enix, viu sua equipe pular de 40 para mais de 200 desenvolvedores, sendo encorajada a ampliar a sua visão inicial e produzir um jogo massivo de ação com fortes elementos de RPG.

Sendo um dos primeiros jogos confirmados para a nova geração, além de prometer uma aventura intensa de ficção científica em um universo sombrio, o jogo começou a atrair olhares dos fãs de RPG. Entretanto, por conter elementos de outros jogos famosos, Outriders começou a ser visto com preconceito por alguns, com muitas acusações de ser um jogo que copiava Destiny e The Division, sem possuir personalidade própria.

No dia 26 de fevereiro, uma demo do jogo, contendo seu prólogo na íntegra, foi disponibilizada para todos os jogadores, apresentando um pouco do que poderiam esperar. Sendo uma experiência divertida e interessante, surpreendendo boa parte dos jogadores, deixou o questionamento: Será que a versão final de Outriders conseguirá esta qualidade?

História

Durante a metade do século 21, a Terra encontra-se em estado de calamidade devido aos desastres climáticos e guerras, levando a humanidade à beira da extinção e tornando o planeta inabitável. Para evitar o fim da raça humana, os governos reúnem-se e combinam seus esforços e recursos para formar uma equipe de colonização para uma expedição desesperada rumo ao longínquo planeta Enoch, conhecido por ter aspectos muito similares aos da Terra.

Duas naves gigantes que levariam os colonizadores para Enoch, com capacidade para 500 pessoas cada uma, são construídas e batizadas de Caravela e Flores. Devido a um acidente, Caravela acaba explodindo e apenas Flores consegue chegar em Enoch, após uma jornada de 83 anos no espaço. Encerrando o sono criogênico para permitir a sobrevivência da longa viagem, os humanos acordam e a tropa de elite de soldados, os Outriders, são despachados para fazer o reconhecimento de Enoch e pavimentar um caminho seguro para os colonizadores.

Inesperadamente, uma estranha tempestade de energia mortal conhecida como “A Anomalia” surge e começa a devastar tudo em seu caminho, inclusive a equipe de expedição. Após uma desesperada tentativa de salvar a operação, tudo dá errado e seu personagem acaba sendo congelado, despertando 31 anos no futuro e encontrando o planeta mergulhado em uma guerra civil brutal, buscando respostas para entender o que aconteceu e o porquê de seus novos poderes.

A história de Outriders pode ser terminada em aproximadamente 30 horas, dependendo do seu estilo de jogo. Eu levei aproximadamente 50 horas porque decidi passar umas horas procurando equipamentos melhores e fazendo todas as missões secundárias que encontrava no meu caminho. A trama começa bem interessante, brincando com a curiosidade do jogador, mas lá para a metade começa a perder força, ficando cansativa e previsível, mas consegue fechar de forma satisfatória, deixando o jogador com vontade de ver uma possível continuação.

A história é linear, sem a possibilidade de escolhas ou finais diferentes. Ao iniciar o jogo, você deverá criar seu personagem e o sistema de criação é bem decepcionante, com poucos modelos para montar a sua aparência e algumas opções esquisitas e mal feitas.

Ao terminar a história, o jogador poderá começar um novo modo chamado Expedições, missões únicas e mais difíceis que darão itens melhores, rendendo muito mais horas de diversão, aumentando a vida útil do jogo. Um recurso interessante do jogo é que ele permite que você rejogue qualquer missão, voltando a qualquer ponto da história, seja para reviver algum momento específico ou tentar obter itens melhores, sem a necessidade de começar tudo de novo.

Jogabilidade

É injusto dizer que Outriders é uma mera cópia que mistura Gears Of War com Destiny, como alguns jogadores afirmam. Até mesmo pela demo, que não representava nem 10% do jogo, já era possível perceber este fato e, mergulhando no jogo, fica cada vez mais evidente que a People Can Fly conseguiu algo raro na atualidade: ter uma identidade própria.

Outriders é um jogo de ação em terceira pessoa com fortes elementos de RPG e que convida os jogadores a optarem pela experiência cooperativa, mas não obriga ninguém a isso, podendo ser inteiramente jogado sozinho. Caso deseje optar jogar com outras pessoas, é permitido formar trios para enfrentar os perigos de Enoch.

Ao contrário de muitos jogos da atualidade, Outriders preza pelo jogador agressivo: não há itens de vida espalhados pelo cenário e o jogador não recupera a saúde ficando quieto atrás da cobertura. Para recuperar a vida, o jogador deverá usar suas habilidades especiais para dar cabo dos inimigos, obrigando-o jogador a avançar pelo campo de batalha constantemente, eliminando qualquer ameaça em seu caminho.

Em diversos momentos ao iniciar o jogo, eu me vi em situações tensas com inimigos brotando por todos os lados e acabei insistindo em jogar na defensiva, me escondendo o tempo todo e guardando as minhas habilidades para emergências, morrendo constantemente. Quando passei a encarar os inimigos de frente, avançando entre as coberturas e descarregando minhas habilidades sem piedade, comecei a dominar o campo de batalha e me sentir uma verdadeira máquina de destruição.

Ao movimentar-se, o jogador deverá buscar cobertura constantemente para obter proteção dos ataques inimigos e poder analisar o campo de batalha, pensando nos seus próximos movimentos. Jogar agressivamente é o foco, mas nunca de forma burra ou desleixada, avançando como um troglodita para cima dos inimigos, já que o jogo exige sabedoria do jogador.

Para aqueles que estão acostumados com Gears Of War, os comandos e a movimentação são bem similares. O jogador carrega três armas: uma primária, uma secundária e uma auxiliar, que são pistolas duplas ou um revólver potente. A variedade de armas é enorme e recomendo a todos que experimentem diferentes tipos. No meu caso, optei por um fuzil de assalto, um rifle de precisão e um revólver que parece um canhão de tão bruto.

Os itens, principalmente as armas, são as grandes estrelas do jogo, ao lado do seu sistema de combate. Há uma grande variedade que o jogador poderá obter ao completar missões, abrir baús e que cairão aleatoriamente dos inimigos do jogo. Todo o equipamento do jogo é dividido por níveis de raridade e, à medida que você subir de nível, começará a liberar itens mais fortes e com habilidades incríveis.

Itens de maior raridade possuem modificadores que dão dinâmicas diferentes ao combate e que devem ser combinadas com as habilidades de classe, que falaremos mais a frente. Como escolhi uma classe baseada no fogo, priorizei itens que aumentassem a duração das minhas habilidades e diminuíssem o tempo de recarga, para que eu pudesse utilizar meus poderes com mais frequência, principalmente nos momentos de aperto.

Estes modificadores podem ser alterados com um membro da sua equipe, que permite que você troque as características do seu item e adapte-as ao seu estilo de jogo. Provavelmente, você encontrará itens bons demais, e mesmo que passe de nível, você não irá querer trocá-lo por outro. Para que você possa mantê-lo e acompanhe a evolução do seu personagem, é possível usar recursos raros para “upar” seu item, evitando que o mesmo fique ultrapassado.

Esteticamente, Outriders conta com itens com designs caprichados e interessantes, principalmente no último grau, o lendário, que fazem com que a aparência do seu personagem, de fato, pareça uma lenda viva ameaçadora durante as batalhas, com modificadores brutais que irão te deixar bastante apelão.

Outriders conta com um recurso chamado grau de mundo, que seria equivalente aos níveis de dificuldade. Porém, ao contrário de muitos jogos, você deverá liberar as dificuldades a medida que vai jogando e matando inimigos, como uma espécie de barra secundária a sua experiência. Caso morra, você perderá um pouco da barra de grau de mundo, impedindo que você avance para o próximo degrau, mas nunca retrocedendo. Por exemplo, caso você morra diversas vezes no grau de mundo 3, logo no início da barra, você nunca voltará para o grau de mundo 2.

Você deve estar se perguntando “Por que eu deveria jogar em graus de mundo mais altos?”. Teoricamente, graus de mundo mais altos fazem com que aumente a incidência de itens caindo dos oponentes e melhora a qualidade dos mesmos. Na prática, eu não achei a diferença significativa. Consegui chegar ao grau de mundo 15, o máximo, e apenas tive maiores dores de cabeça com inimigos 12 níveis acima dos meus e virando verdadeiras esponjas de balas, com poucas recompensas que valessem a dor de cabeça.

Optei pelo grau de mundo 7 como padrão e consegui uma boa proporção de níveis épicos sem estragar a minha experiência e nem querer jogar o controle na parede. Caso fique em dúvidas de qual o melhor grau de mundo para você, recomendo que vá experimentando cada um dos graus até ver aquele que trará boas recompensas e não fará a experiência ser uma tortura. Afinal, jogos são para serem divertidos.

Outriders brilha intensamente no sistema de classes, o que fará os fãs de RPG abrirem um belo sorriso. Ao iniciar o jogo, você deverá escolher entre 4 classes, estas que não poderão ser modificadas futuramente, apenas se você começar um novo personagem. A People Can Fly conseguiu encontrar boas opções para agradar os variados tipos de jogadores e, como o jogo possui fator cooperativo, o entrosamento entre as mesmas no campo de batalha torna-se um verdadeiro espetáculo.

Para os jogadores que amam varrer o chão com seus inimigos e serem o tanque, aquele que segura a linha de frente da equipe, podem escolher de olhos fechados a classe Devastador, que faz bastante jus ao nome, utilizando poderes sísmicos para destruir tudo em seu caminho e criar uma armadura rochosa para absorver o máximo de dano possível, tornando-se invulnerável. O Technomancer é a classe para os jogadores que gostam de manter a distância, causando grandes quantidades de dano e impedindo o avanço dos inimigos pelo meio do controle de tecnologia, como metralhadoras fixas.

O Trapaceiro é a classe de maior dano e com a movimentação mais incrível do campo de batalha, podendo teletransportar-se e dar golpes certeiros, eliminando inimigos fortes rapidamente. Por mais forte que seja em seus ataques, ele não aguenta muito dano, obrigando o jogador a continuar em movimentação constante. A classe escolhida por mim foi o Piromante, que é ideal para o combate a média distância e utiliza o poder do fogo para controlar o campo de batalha e dar dano consistente.

Cada classe possui habilidades específicas e uma árvore de habilidades própria com subclasses que focam em determinados aspectos, permitindo uma maior personalização do estilo de jogo do seu personagem, fazendo com que dois piromantes, por exemplo, possam jogar de forma completamente diferente, mesmo possuindo a mesma classe, permitindo que os jogadores que curtam montar “builds”, possam se divertir testando quantas quiser, já que o jogo permite que você redistribua seus pontos sempre que quiser, refazendo o seu personagem.

Aspectos Técnicos

Outriders roda 4K dinâmicos e 60 quadros por segundo no PlayStation 5, apresentando uma performance sólida, sem quedas de frames perceptíveis durante a minha experiência. Encontrei pouquíssimos bugs, geralmente atrelados à física do jogo e nada graves, como, por exemplo, corpos que voavam sozinhos.

Infelizmente, por mais que Outriders possa ser jogado em modo solo, você é obrigado a estar constantemente conectado à internet e, como todo jogo online no lançamento, os servidores não deram conta, chegando a ficarem horas fora do ar na semana. O mais frustrante é que, nas oscilações, eu fui expulso do jogo e perdi todo o progresso da missão que eu estava fazendo no momento e até mesmo itens. O jogo está muito mais estável agora, mas ainda ocorrem desconexões aleatórias, mais raras, que te obrigam a logar novamente e cortam seu progresso atual.

Um problema preocupante que está assolando muitos jogadores é o bug que faz com que pessoas que joguem cooperativamente e encerram a partida, voltando para seu próprio mundo, percebam que seu inventário inteiro sumiu. Por enquanto, o problema não foi resolvido, mesmo com um novo patch lançado no Sábado (10). De acordo com a People Can Fly, eles conseguirão devolver alguns dos itens mais raros dos jogadores numa futura atualização, mas não conseguirão devolver tudo. A recomendação que dou é para que não jogue cooperativamente até que o problema seja realmente consertado.

Graficamente, Outriders parece datado, principalmente comparado aos jogos da nova geração, mas não se engane: ele não chega a ser feio. Os gráficos podem ser simples, mas possuem boas animações e belas paisagens, com cenários variados e imersivos.

A trilha sonora, composta pelo talentoso e premiado Inon Zur, responsável por trilhas como “I am The One” de Dragon Age: Origin, é muito boa e marcante, dando ares épicos e dramáticos a trama.

A dublagem brasileira merece destaque pelo excelente trabalho assim como a equipe que fez a localização do jogo, com uma tradução muito competente e acertada.

Considerações Finais

Outriders é uma experiência divertidíssima e viciante que irá conquistar os amantes de jogos de ação e ficção científica. Ao contrário de muitos jogos do gênero, ele é um pacote completo, sem microtransações, com uma história interessante, uma jogabilidade fenomenal e uma curva de aprendizado amigável, além de muita coisa para fazer, mesmo depois que você tenha zerado.

É muito acertada a decisão de permitir que os jogadores possam optar pela experiência solo ou o multijogador cooperativo para 3 jogadores, agradando tanto os lobos solitários quanto aqueles que buscam algo para jogar com seus amigos.

Os problemas técnicos podem incomodar, mas podem ser resolvidos na forma de patches de correção. Outriders pode ter um futuro brilhante, basta que a People Can Fly e a Square Enix continuem trabalhando para isso.

*O jogo foi analisado no PlayStation 5. Agradecemos a Square Enix pela cópia cedida para review.