[CRÍTICA] Gran Turismo | Simples, veloz e com alma

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Quando a Sony anunciou que estava trabalhando em um filme baseado em Gran Turismo, muitos ficaram receosos com o que poderia vir. Tendo em vista o crescente sucesso das produções baseadas em franquias do PlayStation, será que era possível criar um filme sobre um jogo que, aparentemente, sequer tinha uma narrativa consistente?

Need for Speed, quando lançado nos cinemas, também bebia bastante da fonte do game, sendo fortemente centrado nas corridas, mas abordando outras tramas ao longo de seu desenvolvimento, o que fez com que se tornasse apenas um filme genérico a ser esquecido.

Em contrapartida, Gran Turismo parece ter aprendido com o erro de seu rival nos games e utilizado uma história baseada em fatos reais, que mesmo distorcendo e floreando alguns eventos, ainda entrega uma trama bem estruturada e empolgante.

O começo de um sonho

Desde seus instantes iniciais, o filme começa a aquecer os fãs de corrida, e também do jogo, mostrando a proposta que ele tende a abraçar: provar que todo e qualquer sonho é possível, mesmo que não esteja ao seu alcance.

Mesmo que seu início seja um pouco mais lento, o desenvolvimento vai engatando marcha atrás de marcha, fazendo com que o espectador vá se segurando na cadeira e submergindo na história. Somente por mostrar uma proposta simples, de que sonhos se tornam reais, em conjunto com acontecimentos frenéticos e emocionantes, é palpável a ideia de que o longa desenvolve uma alma.

De turismo não tem nada

Uma das coisas que mais chamou a atenção, e que grande parte dos filmes têm, é a margem dada para assuntos ou situações que não acrescentam em nada na trama. A surpresa é que Gran Turismo pega todo seu tempo e aborda somente os eventos que são realmente necessários para seu desenvolvimento.

O problema de aceitação familiar e o relacionamento amoroso são os únicos dois temas que são abordados fora do âmbito central do longa, mas eles também são de suma importância para seu desenvolvimento. Tais temas são construídos no primeiro ato do filme, e resgatados na entrada do terceiro ato, somente para fechar seu arco. Tudo isso é construído de forma simples, afinal, o foco aqui realmente são as corridas.

Caso você já tenha jogado qualquer jogo que tenha opção de criar seu personagem, sempre existe a opção de ‘modo carreira’, onde podemos acompanhar o personagem desde os passos iniciais até o momento de subir ao pódio mundial. Gran Turismo acaba passando essa sensação com êxito, mostrando que mais vale o processo do que o resultado final.

“Na duvida, vai com tudo”

É difícil encontrar papéis em que David Harbour ou Orlando Bloom não se destaquem por seu carisma e personalidade. Gran Turismo se torna atrativo não somente por conta do protagonista Jann Mardenborough (Archie Madekwe), mas também pelas aparições de Harbour e Bloom, que compõem um trio poderoso em tela, cheio de química e atuações primorosas.

Ao falar especificamente sobre Archie Madekwe, o jovem britânico responsável pelo papel principal faz com que tudo seja algo tranquilo e natural em tela. Sem forçar em momento algum, o ator faz com que o sentimento de estar trabalhando em um longa grande, cheio de estrelas, se transpassasse também para o filme, aflorando mais outras emoções.

A direção do campeonato

Sem dúvidas, a ideia do diretor Neill Blomkamp (Distrito 9 e Elysium), de focar todos seus esforços nas corridas e trazer vários estilos para mostrar cenas que já estamos acostumados, acabam nos deixando irrequietos e apreensivos nos momentos decisivos, nos fazendo realmente querer torcer pelo sucesso de Jann Mardenborough.

Como se não bastasse, o filme ainda cria paralelos para nos fazer sentir dentro do jogo, mesclando a ficção com a “realidade”, o que também é algo fantástico para os fãs da franquia.

Em suma, Gran Turismo consegue surpreender positivamente ao entregar uma história empolgante, bons efeitos especiais, atores carismáticos e um entretenimento descompromissado, mas surpreendente.