[ANÁLISE] Ghost Recon: Breakpoint | Por fora bela viola, por dentro pão bolorento

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A série Ghost Recon teve seu primeiro jogo lançado em 2001 – e ficou reconhecida pela abordagem realista, séria e tática de confrontos militares intensos, criando uma enorme base de fãs. Neste ano, a franquia marca seu décimo primeiro título lançado.

O capítulo anterior da série, Wildlands, inaugurou o mundo aberto na franquia, dando total liberdade do jogador realizar as missões na abordagem que desejasse, criando suas próprias estratégias.

Ghost Recon: Breakpoint, novo título da franquia, retorna com um mundo maior ainda e ideias novas para afastar a ideia de que é apenas “mais do mesmo,” com a intenção de atrair jogadores novos e antigos.

História

Por mais que a série seja focada no modo cooperativo, o novo título tem algo que merece aplausos: não deixa os jogadores que curtem a experiência solo na mão, entregando uma história bem elaborada que não deixa nada a desejar aos blockbusters hollywoodianos de ação. A trama se passa no ano de 2023, 4 anos depois dos eventos de Wildlands, mas mesmo sendo uma sequência não obriga o jogador a conhecer a história anterior. Quando um navio afunda misteriosamente na costa de Auroa, uma ilha fictícia, a CIA decide implementar a Operação Greenstone, composta pelo mesmo esquadrão do título anterior para investigar o que ocorreu.

Ao aproximar-se do local por meio de helicópteros com seu pelotão, o soldado de codinome Nomad vê-se diante de um enxame misterioso de drones, que ataca os veículos impiedosamente levando-os a cair na ilha. Ao acordar, Nomad se vê sozinho com parte de seu esquadrão morto ou desaparecido. Para piorar a situação, um grupo armado com tecnologias de última geração, conhecido como “Lobos”, começa a caçá-lo e demonstra controlar a ilha inteira. Seu líder é o tenente Cole D. Walker, um antigo membro do esquadrão de Nomad, interpretado pelo ator Jon Bernthal (O Justiceiro). Caberá a você investigar o que levou seu antigo companheiro a mudar de time, encontrar o resto do seu esquadrão e achar uma maneira de sair da ilha.

Jogabilidade

O jogo em ação de terceira pessoa tem como proposta ser realista com a temática militar em um mundo aberto. Para sobreviver você terá que utilizar tudo ao seu alcance, inclusive o terreno. Devido ao realismo, muitas vezes não é boa ideia chegar como Rambo atirando para todos os lados, sendo mais recomendável uma abordagem discreta e procurar pontos de infiltração seguros mas não se engane: o jogo consegue ser bem divertido e render muita ação intensa. Uma nova mecânica muito interessante é a camuflagem, que permite que seu personagem use o terreno para misturar-se ao ambiente, evitando a detecção por inimigos.

Seguindo a linha mais realista, é possível que seu personagem acabe ferido ao tomar tiros, influenciando sua mobilidade e mira, havendo a necessidade de você parar e curar-se utilizando bandagens. O processo é lento e deve ser usado na hora certa, já que os inimigos não vão esperar você fazer seus curativos, inserindo uma dinâmica mais tensa.

A inteligência artificial dos inimigos funciona de forma natural, onde os adversários não ficarão em pé esperando tomar tiros ao serem alertados. Qualquer sinal estranho irá fazer com que agrupem-se e procurem por você. Nos momentos de tiroteio você deverá mover-se constantemente, procurando posições seguras, porque eles irão fazer de tudo para tirá-lo de sua posição ao perceber que você está “entocado”, com times avançando estrategicamente e utilizando recursos altamente mortais como morteiros.

A Ubisoft preocupou-se em fazer uma experiência em que você tivesse a sensação constante de perigo, adicionando inimigos variados com equipamentos de última geração. Ao transitar pelo mapa, você poderá ser caçado por drones e neste momento o jogo consegue brilhar, passando uma tensão nunca antes vista na série em que você deverá sobreviver fugindo sozinho a todo custo, já que enfrentar pelotões inteiros seria suicídio. Devido ao clima de sobrevivência a desenvolvedora retirou os companheiros de IA, numa escolha ousada e que foge do tradicional da série.

Você só consegue jogar em equipe quando seus colegas estiverem sendo controlados por jogadores reais. Inclusive, há uma área principal que funciona como um point de encontro dos jogadores, onde você poderá interagir com eles e entrar em missões.

O mapa é gigantesco, com diversos locais escondidos em que você poderá encontrar segredos, colecionáveis, itens e inimigos. A Ubisoft implementou alguns recursos que tornaram a exploração muito mais agradável em comparação ao seus outros títulos. É notável que em muitos de seus jogos, os jogadores acabavam entediados ao ter que subir em pontos específicos para desbloquear porções do mapa. Agora, é possível liberar informações de mais de uma forma. Uma delas é um drone que o jogador carrega e que ao utilizá-lo, poderá escanear o mapa atrás de pontos de interesse na região e até marcar inimigos num determinado local, permitindo que você pense na sua estratégia ao avançar.

A segunda maneira é por meio de informações que podem ser obtidas através de documentos coletados ou interagindo com NPCs com um símbolo de exclamação. Ao interagir com eles, Nomad pedirá informações e irá recebê-las, com opções onde você poderá escolher a que achar mais interessante, como por exemplo a localização de uma arma ou um acampamento.

No mapa, você encontrará locais chamados bivaques, que nada mais são do que acampamentos improvisados onde você poderá fazer viagens rápidas, criar itens como rações que darão bônus diversos e até retirar balas alojadas na sua perna.

O jogo conta com diversos veículos que vão desde motos até helicópteros, o que é algo extremamente útil já que o mapa é enorme e os pontos de interesse costumam ser muito distantes entre si.

A mudança mais notável é a inserção de um robusto sistema de classes com equipamentos com níveis, inspirado em RPGs como Destiny e The Division. Cada operador tem direito a quatro classes, cada uma com suas particularidades, que irão influenciar os combates. Aqueles que gostam da abordagem mais direta e frenética, irão gostar da classe de assalto que prioriza a ação, por exemplo. Para desbloquear as habilidades é necessário ganhar níveis, enchendo a barra de experiência eliminando inimigos e completando missões.

Todos os equipamentos, desde armas até coletes, possuem um determinado nível e darão bônus variados. Isso pode parecer preocupante de início, mas apenas funciona como uma espécie de orientação para você ter noção do quão bem equipado e mortais seus oponentes estão.

Por mais que os inimigos possuam nível alto, eles continuarão morrendo com um tiro na cabeça, independente do nível que sua arma estiver. Em alguns casos, será necessários dois tiros por usarem capacetes blindados. Abordá-los, principalmente quando estão em grupos, é quase sempre suicídio, mas acaba deixando o jogador tentado a arriscar pela chance de conseguir equipamentos bons.

Além de modo cooperativo em que você poderá tanto explorar o mapa quanto realizar as missões da campanha em equipe de 4 jogadores, o jogo conta com o retorno do modo PvP Ghost Wars, presente em Wildlands, onde você irá juntar-se a mais 3 jogadores tendo que derrubar uma equipe inimiga, usando as habilidades e equipamentos obtidos na campanha solo, onde há um balanceamento para que jogadores de todos os níveis possam jogar juntos.

Ao finalizar a partida, mesmo perdendo, as recompensas costumam ser generosas e acabam incentivando os jogadores a continuar tentando, fazendo com que a experiência não seja frustrante.

Problemas Graves

Ghost Recon: Breakpoint foi lançado em um estado lamentável e com decisões controversas, que vem rendendo polêmicas entre aqueles que adquiriram o título na pré-venda. Do ponto de vista técnico, o jogo está mal otimizado devido ao alto número de bugs, fugindo dos padrões.

Graficamente, ao mesmo tempo que consegue apresentar alguns efeitos bonitos em suas paisagens, muitos personagens são mal modelados, num aspecto bem ultrapassado. O jogador conta com a possibilidade de escolher entre um personagem masculino ou feminino ao criar seu personagem e é simplesmente surreal a diferença gráfica entre os mesmos modelos, com a personagem feminina apresentando expressões esquisitas e sem vida, sem polimento.

Durante diversas vezes, as texturas não carregam adequadamente e em alguns momentos a arma fica invisível, dando um aspecto cômico de que o personagem está mirando com uma arma imaginária, prejudicando completamente a imersão proposta pelo título.

Como se não bastasse os problemas gráficos, por mais que a jogabilidade seja boa, problemas diversos atrapalham a experiência e a tornam extremamente frustrante. Em um intervalo curto de apenas 2 horas jogando, notamos um bug irritante repetidas vezes em que não conseguíamos selecionar itens de assistência, inclusive os de cura, sendo necessário que o jogo fosse reiniciado para corrigir o problema.

O sistema de cobertura é extremamente confuso e impreciso – e num jogo tático, isso é um pecado mortal. Ao entrar em uma cobertura, o personagem acaba mirando na própria cobertura diversas vezes, sem levantar-se e apontar para os inimigos. Neste sistema de cobertura, outro problema grave, mas que ocorreu com menos frequência, foi o personagem levantar-se e ficar estático e sem responder aos comandos, sendo alvo fácil dos inimigos e morrendo.

Sem dúvidas, a pior decisão que a Ubisoft fez neste novo título é a obrigatoriedade de estar constantemente conectado com os servidores da mesma, mesmo na campanha solo.

Mesmo com uma conexão estável durante os testes, os servidores da desenvolvedora não se comportaram adequadamente, fazendo com que fossemos “expulsos” do jogo ao quase completar uma missão, havendo a necessidade de fazer tudo desde o início. Este fato não repetiu-se muitas vezes, mas nas poucas vezes que ocorreu resultou em uma frustração imensa.

Uma das práticas mais nocivas da indústria de jogos está presente em peso em Breakpoint: as microtransações. Tudo que está no jogo, sem exceção, pode ser comprado por microtransações numa loja. A maior parte destes itens pode ser obtido jogando normalmente, com alguns que estão atrelados a completar diversas missões, sejam primárias ou secundárias, mas alguns cosméticos só podem ser obtidos com dinheiro real.

No dia do lançamento antecipado, 01/10, a loja contava com itens que permitiam ganhar níveis sem jogar, gerando um repercussão extremamente negativa. A empresa pronunciou-se e retirou os itens imediatamente, dizendo que havia sido um engano.

Considerações Finais

Ghost Recon: Breakpoint é um jogo com diversas ideias promissoras, mas com uma execução longe do nível que espera-se para um jogo deste porte, principalmente de uma série tão aclamada. A pressa em lançar o jogo ocasiona diversos problemas sérios, que afetam diretamente a jogabilidade e tornam a experiência frustrante, fazendo com que 2019 seja um ano que os fãs da franquia gostarão de esquecer.

*O jogo foi analisado no Xbox One fat.