[ANÁLISE] Kingdom Hearts 3 | Valeu a pena esperar por 14 anos?

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Na última terça-feira (29), finalmente foi lançado o aguardado Kingdom Hearts 3, jogo desenvolvido pela Square Enix que mistura personagens do mundo de Final Fantasy com animações Disney e Pixar, criando uma narrativa única e envolvente.

Lançado 14 anos depois do lançamento de Kingdom Hearts 2, o jogo busca amarrar diversas histórias contadas através da franquia principal e de jogos derivados que foram lançados ao longo dos últimos anos.

A história de Kingdom Hearts não é fácil de se entender, mesmo para aqueles que acompanham a franquia desde o começo e que tiveram a chance de jogar a maioria (ou todos) dos títulos lançados. Em Kingdom Hearts 3, vemos que tanto material espalhado por diversos jogos diferentes acabou prejudicando um pouco a narrativa. Assim como aconteceu no começo de Kingdom Hearts 2, o terceiro capítulo da franquia mostra que essa não é uma história feita para aqueles que jogaram somente os títulos da saga principal.

Contando com viagens no tempo, renascimentos, personagens que mudaram de lado e diversos outros elementos que não foram mostrados nos dois jogos anteriores, fica difícil entender a história por completo ou se apegar aos eventos da narrativa, caso não tenha uma base prévia muito boa, contudo, o jogo consegue encerrar de maneira satisfatória a história principal para os jogadores casuais.

Com tanta coisa para contar e tantas tramas para encerrar, o jogo conta com cutscenes imensas que, em certos momentos, são extremamente cansativas. Felizmente, existe o recurso de pulá-las, mas mesmo os que gostam de assistir tudo ficarão entediados em algum momento.

Dito isso, temos que falar dos mundos Disney, que sempre foram o maior destaque do jogo e o motivo pelo qual ele se tornou tão popular. Novamente, vemos cenários e personagens das animações sendo recriados de forma incrível no jogo, que desta vez, resolveu atender um antigo pedido dos fãs ao implementar mundos das animações Pixar, tais como Toy Story e Monstros S.A.

Assim como nos jogos anteriores, a fidelidade dos mundos é impressionante e com o avanço da tecnologia eles se tornaram ainda maiores e mais completos. A Square mostra que sabe trabalhar muito bem com o material que tem em mãos e nos faz literalmente mergulhar nas animações, seja repetindo os eventos dos filmes ou criando novas narrativas originais para os mesmos.

Infelizmente, devo dizer que o estúdio peca na escolha e na quantidade de mundos. Se por um lado eles estão bem maiores e completos em relação aos jogos anteriores, por outro, devemos dizer que nem todos são satisfatórios. Um dos mais deslocados, é o mundo de Piratas do Caribe, que embora seja muito divertido e contenha mecânicas interessantes, não passa todo o apelo e carisma necessário para o capítulo final da saga, podendo ser facilmente substituído por outra produção Disney.

Em Kingdom Hearts 2, era necessário voltar ao mesmo mundo duas vezes para dar andamento na história geral, no novo jogo, isso não é mais necessário, o que por um lado é ótimo, porém no decorrer do jogo, você não sente tanta necessidade de visitar os mundos anteriores novamente, mesmo que saiba que eles estão repletos de itens extra, minigames e colecionáveis.

A perfeição visual dos mundos Disney não seria a mesma sem o trabalho da equipe de arte do jogo, que realmente se esforçou para recriar tudo com perfeição, até mesmo os pequenos detalhes. Tudo é texturizado, brilhante, colorido e extremamente bonito, inclusive, em alguns momentos, fica difícil de identificar o que é cutscene e o que é um vídeo de transição do jogo. O maior destaque fica por conta da metalinguagem no mundo de Frozen, que recria com perfeição um dos melhores momentos do filme e o amarra de maneira genial com a visita de Sora e seus amigos.

É até difícil falar sobre a mecânica do jogo, já que, quando comparada com Kingdom Hearts 2, temos uma reformulação quase que completa, mas isso pode não ser uma boa coisa. Enquanto no segundo jogo tínhamos as Drive Forms que transformavam Sora e lhe garantiam habilidades únicas, em Kingdom Hearts 3 o personagem perde essas habilidades e suas keyblades é que se transformam para lhe dar habilidades durante o combate.

Inicialmente, a inovação é recebida com um pouco de estranheza e deslumbramento, mas ao longo do jogo, ela se revela pouco eficaz nos combates e pode ser até um pouco frustrante. Aqueles que estão acostumados com a franquia sabem que o combate sempre foi um dos pontos mais fortes de Kingdom Hearts, seja por seu ritmo frenético ou por seus combos vigorosos, mas no novo jogo, isso se perde um pouco e acabamos com um ritmo de esmagar o mesmo botão incansavelmente.

Mesmo que o jogo lhe permita equipar 3 Keyblades ao mesmo tempo, você vai acabar escolhendo uma que acha ser a melhor em combate e mantê-la ao longo de toda a sua jornada. As Drive Forms fazem falta e mostram que a tentativa de inovar acabou não dando muito certo. Outra novidade que às vezes dá muito errado é a possibilidade de utilizar brinquedos dos parques Disney durante o combate.

A novidade aparece sem uma explicação minimamente aceitável e muitas vezes são extremamente ineficazes no combate. Fica claro que o grande objetivo da Square com esse novo recurso era destacar a evolução gráfica e de programação, mas infelizmente, seria melhor se eles tivessem deixado os brinquedos no lugar deles e usassem outro recurso nos combates.

Outra novidade que se mostra bem desnecessária é a possibilidade de criar receitas com ingredientes encontrados pelo cenário. Usando como guia o ratinho Remy de Ratatouille, as receitas servem como uma melhoria temporária nos stats de seu personagem, contudo, elas acabam sendo meio inúteis ao longo do jogo, já que muitos não terão paciência de ficar cozinhando o tempo todo e isso nem é necessário para que você consiga enfrentar os inimigos.

Com todos esses problemas mecânicos, fica difícil imaginar Sora enfrentando inimigos mais trabalhosos como por exemplo Sephirot, chefe secreto dos títulos anteriores, já que seus combos não são mais tão fluídos e muitas habilidades cruciais foram deixadas de fora.

A trilha sonora continua impecável como sempre, resgatando toda a nostalgia dos jogos anteriores e apresentando novas melodias inspiradas pelos mundos Disney.

Se levarmos em conta toda a evolução visual e o quão complexa é a narrativa do jogo, devemos dizer que Kingdom Hearts 3 é um jogo muito bom, mas nem todos os fãs ficarão completamente satisfeitos, até porque, o segundo jogo da franquia é uma obra-prima, o que nos faz ficar com uma expectativa extremamente alta, que quando aliada a um tempo de espera exageradamente longo, se torna uma mistura perigosa e que pode manchar um pouco nossa visão do jogo.

Em suma, Kingdom Hearts 3 conclui muito bem esse arco da história, mas como esperado, não é o fim (e nem deveria). Mesmo não sendo tão bom quanto o jogo anterior, a franquia ainda mostra que consegue ser cativante e inovadora, mesmo depois de tanto tempo.