[CRÍTICA] Cobra Kai — 4ª temporada | A hora da rinha continua

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Se eu tivesse que resumir a quarta temporada de Cobra Kai em uma palavra seria: porrada. Na verdade, porrada guiaria todas as minhas noções de todas as temporadas da série. Mas se a porrada é o prato principal, as perspectivas são o tempero que deixa a porrada saborosa. O sal da ferida. A metade da laranja. O Do de Miyagi-Do. No fim das contas, é tudo sobre perspectivas.

Daniel (Ralph Macchio) e Johnny (William Zabka), por exemplo, são pessoas fundamentalmente diferentes, que gostam de competir. É maluquice esperar qualquer coisa diferente disso. Eles podem se unir, podem até se divertir juntos, mas, no fundo (e, muitas vezes, nem tão no fundo assim), sempre serão rivais.

Não são assim só porque brigaram em uma praia ou porque pregaram peças um no outro. Seus estilos são diferentes e eles acreditam em coisas diferentes. A mesma coisa vai acontecer, por exemplo, com seus alunos. Você pode colocá-los para apanhar carpas em um lago ou fazê-los pular de um prédio para outro. Eles podem até concluir a lição e entender o propósito, mas isso não equivale a mudar suas personalidades.

Na verdade, uma das lições que fica é que nem essas crianças sabem exatamente quem são. E o papel dos senseis não é ensiná-los a bater primeiro ou bater depois, mas ensiná-los a decidir quando eles querem bater, ou se eles querem bater. Saber bater é só um detalhe.

Nesse caminho de descobertas, da mesma forma que aconteceu com Johnny e Daniel, os desencontros e mal-entendidos imperam. É fácil para o espectador, que tem todos os fatos à disposição, escolher um lado para apoiar. Para as crianças, o outro é o vilão irritante que deve ser irritado.

Mas, no fim das contas, não existe vilão. Também não existem heróis. Existe um poder carateca em jogo e a escolha de como usá-lo. Alguns viram valentões, outros encontram equilíbrio, propósito ou paz. É difícil dizer o caminho de cada um nessa temporada, sendo o que a torna tão interessante.

Entre os personagens com mais desenvolvimento, Tory (Peyton List) e Eli “Hawk” (Jacob Bertrand) se destacam. O novato Kenny (Dallas Dupree Young) também aparece bem, assim como Anthony (Griffin Santopietro), o filho de Daniel. Sam (Mary Mouser) e Miguel (Xolo Maridueña), que não deixam de ser, de certa forma, os protagonistas, também seguem com seu papel conciliador entre dois estilos. São tantos arcos, tantas histórias, que você começa a torcer para que as crianças parassem de brigar e fossem amigas, uma vez que têm tantas coisas em comum.

Terry Silver (Thomas Ian Griffith) é o retorno mais badalado — e é hilário vê-lo falando de sua performance “cheia de cocaína” em Karatê Kid 3 — mas não é o único. Alguns são menos interessantes, outros explodem a sua cabeça.

Progressivamente, Cobra Kai parece estar longe de se distanciar da nostalgia, mas segue criando seus próprios caminhos. Ainda existe alguma nostalgia para ser explorada, especialmente se Hilary Swank decidir retornar como a Julie de The Next Karate Kid, acrescentando ainda mais uma interpretação do significado do caratê Miyagista ao bolo. Contudo, no geral, a série conseguiria facilmente sobreviver à ausência de flashbacks de filmes antigos nas próximas temporadas. Para manter o coração carateca dos fãs batendo, basta o fôlego dos (agora inúmeros e infinitamente interessantes) jovens delinquentes do Vale.