[CRÍTICA] Homem-Aranha: Através do Aranhaverso | Uma obra de arte em forma de animação

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A ‘teoria da evolução de Darwin’ afirma que todos seres estão suscetíveis a evoluir, mas quando se trata de um adolescente picado por uma aranha radioativa, que tem de aprender a lidar com superpoderes, enquanto concilia isso com as demais tarefas de sua vida pessoal, essa evolução é apenas o início de uma longa jornada de desenvolvimento.

De acordo com a sinopse de Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, Miles Morales tem de lidar com um novo vilão, intitulado como Mancha. Porém o centro da questão não é como o jovem confronta o antagonista, mas sim, seu aprendizado ao longo do processo.

Desde que foi criado, o arquétipo (que o define) do personagem aracnídeo, em todas suas versões, sempre foi marcado pela necessidade de ajudar o próximo, porém Peter, Ben, Miles, Gwen, e todas as demais versões do herói sempre falharam em salvar pessoas que amam. Esse é um dos pilares principais que a narrativa traz à tona no segundo filme animado da franquia, usando Miguel O’Hara, o Aranha 2099, como o principal contraponto para essa urgência em tentar mudar o inevitável.

A desenvoltura da teia

A sequência é um marco, pois acaba ultrapassando todos os primorosos limites que seu antecessor impôs, onde temos o desenvolvimento de núcleos individuais progredindo lentamente, mas junto à narrativa do filme.

Em uma era onde existe uma grande saturação de filmes de super-heróis, ‘Através do Aranhaverso’ consegue romper a bolha com eficiência, não seguindo a fórmula padrão de filmes desse estilo, tornando a nova produção da Sony, que sempre se contentou apenas com animações que só divertissem o público infantil, em algo único.

Por anos, a Pixar ditou o padrão de animações, onde até então, seu conceito de desenvolvimento era seguido e desejável por todos, mas mais uma vez, a teoria de Darwin se prova correta e mostra que até mesmo estúdios de animação podem evoluir para superar seus concorrentes.

A narrativa visual

Assim como outras obras que chamam a atenção por sua estética visual, como Arcane (2021), Batman: Ninja (2018) ou até mesmo o primeiro Homem-Aranha: No Aranhaverso, o longa traz uma forte evolução que parece brincar em tela com o que é capaz de oferecer.

Seja para traçar uma linha de sentimentos ou pressentimento do perigo e o caos, as animações sempre são um destaque aqui. E o que impressiona é que para cada cenário ou estilo, a arte como um todo acaba sendo reformulada ou se complementa a algo existente, causando grandiosidade à cada uma das cenas. Isso mostra que mesmo preocupado com a narrativa, o longa também tem compromisso na produção como um todo.

Se fossemos a um restaurante, definir ‘Homem-Aranha: Através do Aranhaverso’ como um simples prato principal seria um erro, já que o longa se adequa mais a um banquete. O fato se deve à história trazer uma imersão onde nem vemos o tempo passar, sendo presenteados com imagens de tirar o fôlego e ficando com o questionamento: “é possível superar isso?”

A enxurrada de aranhas

Se ‘Homem-Aranha: Sem Volta pra Casa (2021)’ causou um alvoroço por trazer apenas três versões de Peter Parker, Através do Aranhaverso acaba se tornando uma grande avalanche de personagens e referências. Sendo assim, o o longa faz com que a palavra multiverso realmente seja usada de forma correta.

Confesso que não acompanhei os trailers do filme, afim de que tudo fosse uma surpresa ao chegar a telona. Ao assistir, faltou tempo para observar e pontuar todas as versões do cabeça de teia que estrelam animações, jogos ou filmes que fizeram uma aparição.

Todavia, um que merece a atenção especial é Miguel O’Hara, também conhecido como Aranha 2099. É comum em Hollywood que sempre haja uma releitura de personagens, e no caso de Miguel, o personagem apresenta uma versão quebrada de si mesmo, onde o peso da responsabilidade faz com que sacrifícios sejam necessários. Para comparação, devemos nos lembrar que em ‘Star Wars: Os Últimos Jedi’ (2018), acompanhamos uma versão estilhaçada de Luke, desiludido por seu passado, observando o futuro com cautela.

Na animação, vemos um Miguel que busca fazer as coisas da melhor forma possível, para que outros não sofram o mesmo que ele sofreu ao tentar evitar o inevitável. Tal representação pode acabar incomodando alguns, já que as decisões do personagem, de forma madura, vão contra às do protagonista jovem.

Por estarmos falando de um Multiverso, vale destacar que a versão do filme não precisa seguir à risca o Miguel dos quadrinhos ou de qualquer outra representação anterior. Além disso, também devemos nos lembrar da série What If…?, que nos mostrou uma versão do Doutor Estranho que fazia de tudo para tentar impedir a morte de Christine Palmer, mas que no fim, acabou percebendo que era impossível mudar algumas coisas, e que isso poderia ter efeitos ainda mais avassaladores.

Teia nos ares e pé no chão

Dos filmes de heróis, em sua grande maioria, são poucos os que conseguem manter uma qualidade ou evoluir sua história nas sequências. Sendo assim, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso se torna um ponto fora da curva.

O roteiro respeita o desenvolvimento e amadurecimento do protagonista, sem abrir mão do bom humor que dialoga bem com a figura do personagem. A trilha sonora, por sua vez, carrega o impacto do filme, tornando ele uma jornada que preenche os olhos e agrada o coração, o que aumenta ainda mais a responsabilidade do estúdio e de seus desenvolvedores para o futuro. Dito isso, é com anseio e medo que aguardo a sequência.