[CRÍTICA] A Freira | Você vai rezar bastante… para o filme acabar

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Derivado da franquia Invocação do Mal, o esperado A Freira, dirigido por Corin Hardy (A Maldição da Floresta), é ambientado na Romênia nos anos 50. Os fatos deste novo longa são portanto, anteriores aos acontecimentos de Invocação do Mal 1 e 2 e Annabelle.

Quem viu Invocação 2 vai se lembrar do quadro com a imagem de uma freira pintado por Ed Warren (Patrick Wilson) e se lembrará também que sua esposa Lorraine (Vera Farmiga) teve a revelação de que a imagem se tratava da personificação do demônio Valak, o senhor das serpentes, que aterrorizava uma família em plena Londres. Estava claro que se faria necessário um spin-off explicando a presença de tal entidade no nosso mundo e isso é suprido com a chegada de A Freira.

A Freira não é baseado em fatos reais, nem nas experiências vividas pelo casal Ed e Lorraine Warren. Porém, diz-se que  Valak, o demônio em torno do qual gira a história, consta no Grimório Goetia – A Chave Menor do Rei Salomão. O tal livro descreve 72 demônios, como invoca-los e tortura-los e sua autoria é atribuída ao rei bíblico, Salomão. Valak, o senhor das serpentes, é o demônio de número 62, comandante de 30 legiões de demônios. Isso não consta no enredo, mas circulam textos e vídeos na internet, especulando o assunto.

O longa indica o ingresso dessa entidade na realidade humana, através de um monastério que fica num bosque remoto da Romênia. A intenção do roteiro é misturar o santo e o profano traduzido no cinismo da entidade maligna em surgir justamente ali, um local sagrado, profanando sua santidade e a vida monástica. O suicídio de uma freira naquele monastério leva o conturbado Padre Burke (Demián Bichir, Oscar de melhor ator por Um Vida Melhor) e  Irene (Taissa Farmiga de Anna e Terror Nos Bastidores), ao local. Irene é uma jovem noviça que vive em outro convento que ainda não fez seus votos e tem algumas idéias modernas demais, que se contrapõem à fé Católica, como o Criacionismo de Darwin. A jovem também o dom de visões e acredita que isso deve auxiliar na tentativa de elucidarem o suicídio da freira. Um espirituoso jovem do vilarejo, Frenchie (Jonas Bloquet de Elle e A Família), os leva até lá, já que conhece o caminho pois faz as entregas de mantimentos, e principalmente porque foi ele que, em uma de sua entregas, encontrou o cadáver da freira suicida.

A Freira utiliza de efeitos práticos e digitais, alguns até muito bons, que se complementam com uma trilha sonora correta, silenciando nas horas certas, aumenta a tensão. Cantos gregorianos macabros dão impacto na presença da entidade maligna. A maquiagem teve boa participação mas sem nada excepcional. Sua fotografia aproveita muito bem os bosques assustadores à noite, como já se viu muito em saudosos filmes de Christopher Lee. Dentro da Abadia, aproveita os corredores estreitos e escuros, a capela iluminada com muitas velas e representa bem em todas as tomadas, a sensação de encurralamento em que se encontram os personagens.

Mas nada disso é suficiente para alavancar o filme e, na tentativa de assustar, são utilizados vários jumpscares em momentos esperados. Nada contra o recurso, quando bem utilizados, eles assustam mesmo que sejam previsíveis, mas não foi o caso aqui.

Taissa Farmiga não está no seu melhor desempenho embora convença como freira, com algumas expressões faciais de modéstia e recato. Mas é só. O premiado Demián Bichir faz um padre assolado por más lembranças e culpa, o que joga o personagem num lugar prá lá de comum. Mas Bichir se esforça com o pouco que o roteiro lhe oferece. O alívio cômico, que talvez nem fosse necessário, fica por conta de Bloquet, que foi quem melhor se saiu no longa. Seu personagem não teria muito o que fazer no enredo, ele deveria ter ido embora depois que levou os dois até o monastério, já que não é clérigo, vidente e nem entende de sobrenatural; é apenas um entregador. Mas alguém deve ter achado que ele funcionaria bem como contrapeso à seriedade dos outros dois personagens, então ele acaba ficando por ali, sem muita explicação (Nem o cavalo dele queria ficar, mas ele ficou…).

Mas isso não chega a comprometer nem atrapalhar o enredo, pelo contrário. A premissa de que Irene fosse um espécie de vidente e portanto, muito útil para ajudar contra Valak, ficou quase só nisso mesmo, uma premissa com uma ou duas utilidades. Valak perambula pela abadia como freira para enganá-las, contaminando sua fé, mas isso só é explicado rapidamente, quando não tem mais importância e quase ninguém notou. Aliás, muita coisa importante fica a cargo dos diálogos rápidos, em vez de serem mostradas.

A entidade maligna não tem uma interação mais profunda com as freiras e o roteiro nisso fica devendo muito. Muito mesmo. Se melhor trabalhado, teria rendido cenas mais assustadoras e talvez subenredos que tornariam tudo mais interessante. A coisa só engrena mesmo no terceiro ato, mesmo assim, recheado de mais clichês. A ajuda que vem convenientemente na hora ‘H’, os sustos previsíveis e a falta de profundidade dos personagens, principalmente de Valak, do Padre e de Irene, empobrecem o enredo e um pouco mais de cuidado nas motivações de cada um, principalmente do demônio, fariam a trama ficar menos superficial.

O fato da história acontecer na década de 50 passaria despercebido se não fosse a indicação do ano no começo do filme. Ao contrário do cuidadoso figurino de Lorraine nos filmes anteriores, assim como as costeletas de Ed, a mobília que os cerca e os carros, indicando a década de 70, em A Freira, não vemos carros nem roupas dos anos 50, salvo a rápida cena da Irmã Irene lecionado, quando vemos algumas alunas vestidas com figurino da época. Já que os personagens a partir dali usam suas roupas clericais e Frenchie usa roupas locais atemporais, nada mais indica a década em que se passam os acontecimentos, dando a entender um certo descuido, pois verba não parecia ser problema levando em conta as locações caras que a filmagem ocupou na Romênia.

A Freira estréia dia 6 de setembro e, embora esteja longe de ser o pior filme de terror, prometeu bastante mas não entregou tudo o que podia. Não traz nada novo e nem traz algo velho bem repaginado. A sensação é que este é o longa mais fraco do universo de Invocação do Mal.

Crítica elaborada por Cecilia Rivers.

NOTA: 3.6/5