[ANÁLISE] Alan Wake Remastered | Uma carta de amor para os fãs

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Lançado originalmente em 2010, para o Xbox 360, Alan Wake tornou-se um dos melhores exclusivos da Microsoft, sendo aclamado pela crítica e rendendo uma base fiel de fãs que cultua a obra até os dias de hoje.

O jogo também fez a desenvolvedora Remedy Entertainment, junto do roteirista Sam Lake, ganharem o respeito e admiração do público, contando uma história de horror e mistério fascinante, algo totalmente diferente de seus títulos anteriores, mostrando a capacidade do estúdio em trabalhar com diferentes abordagens.

Control, um dos jogos mais recentes da Remedy, também aclamado pela crítica e público, trouxe uma grande revelação, mostrando que a história de Alan Wake se passava no mesmo universo.

Alan Wake Remastered é um grande acontecimento por dois motivos: permitirá a estreia do jogo em consoles PlayStation e também, servirá como uma forma de reviver uma das histórias mais fascinantes dos videogames, servindo como uma espécie de aquecimento para a tão sonhada sequência.

Stephen King, é você?

Na trama, Alan Wake é um renomado escritor de histórias de suspense que vem sofrendo um bloqueio criativo que se arrasta por dois anos. Sua esposa, Alice, decide levá-lo para viajar para uma cidade no interior de Washington, chamada Bright Falls, tirando férias da vida estressante. Esta decisão é apoiada por seu empresário e amigo, Barry Wheeler.

Ao chegar no local, Alan dirige-se até uma cafeteria para pegar as chaves da cabana que ele e sua esposa ficarão. Ao chegar lá, Alan não encontra Carl Stucky, o homem que alugou a cabana para o casal e sim, uma misteriosa mulher de preto utilizando um véu, que passa as coordenadas do local.

Ao chegar lá, um acontecimento misterioso e tenebroso faz com que Alice desapareça e Alan comece a perceber que uma história assustadora que ele escreveu, mas não se lembra, está tornando-se real e cada vez mais perigosa, obrigando o escritor a mergulhar em uma aventura sombria atrás de respostas para salvar sua esposa.

Definitivamente, a trama de Alan Wake é seu ponto forte. O jogo é uma experiência magnífica de horror e suspense nos moldes da obra literária de Stephen King, além de uma boa dose de inspiração em Twin Peaks de David Lynch, ou seja, você não terá muitas explicações, mas uma ameaça sobrenatural diferente de tudo irá te atormentar, deixando algumas coisas abertas para interpretação.

Sustos, tensão e desespero irão te acompanhar por volta das 12 horas de jogo até ver os créditos finais, porém uma boa surpresa lhe aguarda: o jogo contém as expansões The Signal e The Writer, dois capítulos extras que continuam a história do jogo e dão mais explicações.

Cada capítulo leva entre 2 a 3 horas para terminar, fazendo com que o tempo para finalizar tudo possa chegar até 18 horas. E mesmo ao chegar ao final de tudo, eu ainda queria mais.

Esse gostinho de quero mais me levou a rejogar a expansão AEW de Control e recomendo que você faça o mesmo, se puder, para obter mais respostas.

Tensão, sustos e desespero

É bom frisar que Alan Wake não é um survival horror, como Resident Evil ou Dead Space, por exemplo. A própria Remedy o descreve como um thriller psicológico misturado com um jogo de ação cinemática.  O jogador controlará o escritor que dá nome ao jogo, mas deve lembrar-se que ele não é um soldado das forças especiais e nem um atirador de primeira, o que fará a aventura bem desafiadora do início ao fim.

Na maior parte das vezes, você estará desesperado vendo os misteriosos vultos, que não entrarei em detalhes para não estragar a sua experiência, te perseguindo e prontos para te matar, somente tendo duas opções: correr, mas tendo em mente que o fôlego do personagem é de um asmático sedentário, ou utilizar sua lanterna para deixá-los vulneráveis e atirar com sua arma de fogo para eliminá-los.

Um dos itens mais importantes de Alan é sua lanterna, mas ela possui uma bateria que descarrega rapidamente ao utilizá-la com foco total para remover o escudo dos vultos assassinos. O problema é quando você acaba cercado, sem tempo para esperar a recarga da lanterna.

Felizmente, você encontrará baterias reservas, limitadas, que possibilitam que Alan utilize sua lanterna imediatamente, trocando as baterias, permitindo que o jogador se safe em uma emergência.

A graça toda da aventura é que seus recursos são relativamente escassos, principalmente munição, e seus inimigos vêm aos montes, além de também chegarem repentinamente, dando bons sustos, dos quais eu não consegui me acostumar até o término do jogo e nem rejogando-o anos depois.

Outros recursos mais poderosos de iluminação, como sinalizadores e granadas de luz, são verdadeiros salva-vidas em situações de desespero, porém devido ao seu poder, são altamente escassos. Essa decisão é ótima porque torna o jogo mais equilibrado, dando uma dose de medo e insegurança no gerenciamento de itens e munições. Afinal, será que eu devo mesmo utilizar esse sinalizador aqui ou consigo me safar apenas com minha lanterna e revólver?

Há também postes de iluminação, afastados, que funcionam como uma espécie de ponto seguro que Alan recupera sua vida e afaste todos os vultos. Estes locais farão os jogadores respirarem aliviados por uns segundos.

Alan é um tanto quanto desengonçado em seus movimentos, o que pode causar uma certa estranheza no início ao controlá-lo. Felizmente, ele conta com uma esquiva que, se bem encaixada, salvará a sua vida em diversos momentos, por isso recomendo que pratique este movimento desde o início, você me agradecerá lá na frente.

O jogo se passa em diversos cenários da cidade de Bright Falls, desde florestas, um parque nacional e até uma fazenda e como a trama envolve forças da escuridão, prepare-se para embarcar nesses locais durante a noite.

Há também algumas sequências durante o dia, sem combate, que permitem que haja uma quebra de ritmo para o jogador respirar e dar algumas respostas da trama, além de algumas sequências em que Alan poderá dirigir, mas não espere nada muito elaborado ou complexo.

Algumas vezes, a câmera atrapalha e faz com que você seja atingido por um inimigo que você sequer sabia onde estava, causando uma certa frustração. Felizmente, o personagem tem muita vida e mesmo sendo um jogo desafiador, ele é justo.

Um elemento interessante de jogabilidade são os colecionáveis, em particular os manuscritos. Eles são páginas da história da qual Alan não se lembra e que está ganhando vida na trama. Coletá-los irá enriquecer demais a narrativa, permitindo que o jogador tenha uma experiência muito mais completa. Normalmente, essas páginas estão bem escondidas pelo cenário, obrigando a jogador a explorar mais os locais por onde passam.

Há também garrafas de café espalhadas pelos cenários, em referência ao programa Twin Peaks, mas estas são apenas homenagens, que não afetam a jogabilidade em nada. Os cenários também possuem TVs interativas, rádios e placas que permitem conhecer mais da história e cultura desta cidade misteriosa.

Siga a luz

É bom frisar que este jogo é um remaster de um título lançado em 2012, então, mesmo com todas as melhorias, é um jogo que parecerá datado em alguns momentos. Isso fica bem evidente nas expressões faciais esquisitas dos personagens, alguns breves “engasgos” nas cinemáticas e na jogabilidade meio travada.

Na parte gráfica, as melhorias na iluminação e cenários fazem de Alan Wake Remastered uma experiência ainda mais assustadora e fascinante, mas não faz com que ele vire outro jogo. Em sua essência, ele continua sendo o mesmo, o que não é algo ruim, mas que pode incomodar aqueles que esperam uma experiência gráfica nos moldes atuais.

No PlayStation 5, o jogo roda em 4K e 60 quadros por segundo, além de carregamentos instantâneos. O Dual Sense é utilizado de forma básica, sem impressionar.

Um dos novos recursos é a possibilidade de jogar com comentários dos desenvolvedores, explicando decisões criativas e que dando detalhes interessantes do jogo. Um deles é o seu roteirista e desenvolvedor Sam Lake.

Outro ponto alto do jogo é a trilha sonora original, que faz um belíssimo trabalho em tornar a atmosfera do jogo mais assustadora e tensa. Há também faixas licenciadas de músicos renomados como Nick Cave e David Bowie.

Vale a pena?

Alan Wake Remastered é uma carta de amor da Remedy para seus fãs e também, uma ótima oportunidade para novos jogadores conhecerem um suspense de qualidade.

É bom frisar que mesmo datado graficamente e em sua jogabilidade, ainda é uma experiência única e envolvente, com uma atmosfera tensa, que fará o jogador se sentir sozinho à noite em seu quarto, lendo uma das melhores histórias de terror de Stephen King.

*O jogo foi testado no PlayStation 5. Agradecemos a Remedy e a Edelman por nos ceder uma cópia para análise.